O real permanece em desvalorização da ordem de 19% em relação aos fundamentos e pode continuar com desvio negativo até o fim de 2021, conforme ressurgem temores fiscais, afirmou Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV EESP). As informações são da Reuters.
O levantamento é do mais recente estudo e se refere ao final do mês de junho, sendo disponibilizados com defasagem de até dois meses pelas fontes primárias.
O cálculo é realizado para a taxa real de câmbio efetiva. No fim de 2020, esse desalinhamento estava em torno de 10%.
Desde fevereiro do ano passado, a taxa cambial tem se mostrado mais fraca que o sinalizado pelos fundamentos, um pouco antes de a pandemia mudar os mercados financeiros globais. Trata-se de uma das mais longas séries negativas desde a década de 1980.
O coordenador explicou que com a melhora dos fundamentos –balança comercial, termos de troca, maior diferencial de juros…– a taxa real efetiva de equilíbrio se valorizou (ou seja, o dólar de equilíbrio ficou mais fraco). No entanto, renovadas preocupações fiscais e incertezas sobre a política monetária nos Estados Unidos pressionaram a cotação nominal para cima. Com esse distanciamento entre taxa nominal e taxa de equilíbrio, o desvio negativo se manteve elevado.
O risco político voltou a aumentar no últimos meses, pois, o governo passou a ser mais pressionado por investigações da CPI da Covid contra a gestão do Executivo na pandemia. Com isso, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) precisou ceder mais espaço ao centrão, refletindo em uma fragilização da posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, e num aceno à eleição de 2022.
“Cada vez mais a eleição do ano que vem vai começar a entrar no radar das pessoas. Muita coisa está em aberto. Devem continuar esse sobe e desce, as flutuações”, declarou Marçal.
O estudioso avaliou que “nesse sentido, o desvio negativo da taxa de câmbio deve persistir até o fim do ano”.
“A pressão é de mais gastos para o ano que vem. O governo não vai conseguir tocar nenhuma reforma importante neste ano. E temos que ficar atentos à questão da política monetária”, concluiu.