A pandemia de covid-19 foi um marco para a história. Durante dois anos, comércios não essenciais do mundo todo fecharam, com o objetivo de parar a disseminação do vírus. No final de 2021, após graduais reaberturas, o mundo voltou a funcionar novamente, mas com grandes sequelas, como o crescimento da inflação e o risco de uma nova recessão mundial.
Durante os anos de 2020 e 2021, a produção de diversos produtos foi reduzida ou paralisada. Carros, chips, celulares, peças, eletrodomésticos, petróleo, por exemplo, tiveram suas produções paralisadas ou diminuídas durante dois anos. Além da produção, muitos países, como o Brasil, diminuíram suas importações.
Com a paralisação, vários governos criaram generosos pacotes econômicos a fim de estimular suas próprias economias, aumentando a impressão de dinheiro, gerando um grande crescimento em seus índices inflacionários. Com os mesmos objetivos, muitos Bancos Centrais decidiram por reduzir suas taxas de juros em níveis até negativos.
Além dos pacotes, os países também distribuíram milhares de auxílios econômicos, visando ajudar cidadãos que não estavam conseguindo enfrentar a pandemia no front econômico. Esta medida também contribuiu para o florescimento de uma inflação generalizada, que começou a atingir níveis galopantes neste ano.
Em 2022, as maiores economias do mundo têm registrado índices de inflação recorde. Na Inglaterra, o índice de inflação disparou a 9% em ritmo anual em abril no Reino Unido, um recorde em 40 anos. Nos EUA, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 8,6%, nível mais alto desde 1981. Na Alemanha, a inflação anual foi a 7,9%, a maior em quase 50 anos.
No Brasil, a inflação brasileira acumula alta de 11,73% em 12 meses e está entre as mais altas do mundo. A vizinha Argentina também se vê em uma situação desesperadora: a inflação saltou para 60,7% em maio na comparação com igual mês de 2021, maior valor em 30 anos.
Com um cenário inflacionário mundial, os principais Banco Centrais do mundo se viram numa encruzilhada: combater a inflação ou desacelerar nossas economias? Os bancos prudentemente escolheram a primeira opção.
Desde o começo do ano, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) vem aumentando sua taxa de juros. Em 15 de junho, o banco elevou sua taxa de juros em 75 pontos-base, para a faixa entre 1,50% e 1,75% ao ano, sendo esta a maior elevação do país desde 1994.
No Brasil, o governo vem aumentando sua taxa de juros desde 2021. Atualmente a taxa se encontra em 13,25%. Atitude que foi elogiada por Sidnei Lima, analista do Top gain.
“O BC agiu de forma correta. A atual gestão já saiu prevendo possíveis problemas econômicos na economia brasileira. Essa atitude evitou com que a inflação perdesse o controle e se tornasse algo incontrolável como estamos vendo em outros países”, afirmou Sidnei Lima.
Mas em toda atitude econômica há um ônus. Ao aumentarem suas taxas de juros, os bancos centrais optaram pelo risco de enfrentar uma recessão mundial.
Segundo várias instituições financeiras, a cada declaração do Fed ou do BCE sobre um eventual aumento da taxa de juros, as chances de uma recessão global atingir o planeta só aumentam.
Em junho, o banco norte-americano Goldman Sachs aumentou sua probabilidade de uma recessão nos EUA para 48% nos próximos dois anos. A estimativa anterior era de 35%.
Também no mesmo período, o banco Deutsche Bank estimou que a economia norte-americana deve contrair cerca de 0,5% em 2023. Caso a queda seja maior, a instituição financeira alemã estima que a taxa de desemprego pode passar a ser de 5,5%
Com as projeções, há um medo generalizado por parte de banqueiros e investidores. Mas afinal, quais problemas uma recessão pode causar na economia?
Quais problemas são os problemas causados pela recessão?
Uma recessão pode ser definida como dois trimestres consecutivos em que a economia de um país encolhe em vez de crescer. É um declínio da atividade econômica que afeta negativamente um país. Ao aumentar os juros de forma agressiva e encerrar a promoção de pacotes financeiros, os Bancos Centrais optam sacrificar suas atividades econômicas a fim de controlar o aumento de preço.
“A recessão acaba ocasionando problemas na relação de consumo das pessoas e isso pode ocasionar a quebra de empresas, geração de desemprego e vários outros fatores negativos para a economia”, esclareceu Sidnei Lima.
Segundo Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, uma desaceleração econômica poderia acarretar em uma queda de consumo das nações: “Uma desaceleração mais pronunciada dos EUA, China e Europa poderá diminuir a demanda de commodities globais.”
Além do consumo, Sidnei Lima completa dizendo que uma recessão pode condicionar uma alocação de capital por parte dos investidores: “Nesse cenário é natural que vejamos uma migração de recursos para investimentos mais seguros, tendo em vista algumas incertezas ligadas à perpetuidade do negócio, capacidade de geração de caixa e endividamento.”
Como enfrentar uma recessão
Com os temores de investidores, é esperado que dirigentes e presidentes de bancos centrais tentem encontrar soluções para impedir uma recessão, mas sem deixarem de ter uma atitude agressiva em relação à inflação.
“A solução é aumento de taxa de juros para conter a alta generalizada dos preços, contudo, caso o aumento seja muito forte pode conter a inflação mas gera muito desemprego, quebra empresas e outros fatores. Porém, os Bancos Centrais devem andar no limite entre impulsionar a economia com estímulos e conter o consumo com o aumento das taxas.”, argumentou Sidnei Lima.
“Geralmente, para combater uma recessão, os países se valem de estímulos fiscais e monetários”, afirmou Alex Lima. Ele ainda complementa falando do Brasil: “Para o Brasil, o fiscal está muito limitado; e apesar do juro alto ter bastante espaço para cortar e prover estímulo, a inflação está bem acima da meta.”
COMO FICA O BRASIL NESTE CAOS
Em meio a uma crise econômica que já dura anos, e com dificuldades de crescimento, muitos investidores estão pessimistas com o Brasil, temendo quais seriam as consequências no País se estourasse uma recessão global.
De acordo com Sidnei Lima, não teria grande diferenças de impacto em relação a outros países: “Aqui as consequências seriam no geral as mesmas dos outros países, aumento do desemprego, estagnação, paralisação na criação de novos negócios, menos dinheiro circulando no comércio, aumento de endividamento não saudável, dentre outros.”
“Essa crise, portanto, é diferente das outras. As alavancas contra cíclicas estão comprometidas. O resultado é que provavelmente o mundo passará por um período de baixo crescimento com alta inflação”, ressaltou Alex Lima, que vê um impacto generalizado da recessão.