Recuperação da economia contrasta com desemprego e inflação

Os resultados da economia no primeiro trimestre contrastam com a fraqueza da retomada do mercado de trabalho e aumento da inflação, o que faz com que a recuperação ainda continue distante de boa parte dos brasileiros, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira (30) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Segundo o instituto, a recuperação desde o terceiro trimestre do ano passado levou a uma revisão do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano, de 3% para 4,8%.
O estudo indica que a recuperação do país em 2021 vai ser maior do que o antecipado. No ano que vem, os economistas avaliam que o Brasil deve continuar crescendo, ainda que mais timidamente, até pela base de comparação ter aumentado em 2021.

Os dados apontam, no entanto, que mesmo com a recuperação, a percepção de boa parte da recuperação de que a crise passou ainda continua distante.

O Ipea lembra, por exemplo, que os dados dessazonalizados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, mostram que em março a taxa de desocupação foi de 14,7%, levemente superior à registrada em fevereiro (14,4%), pressionada principalmente pelo retorno à força de trabalho de uma parcela de indivíduos que dela haviam saído por conta da pandemia.

De janeiro a março de 2021, a força de trabalho aumentou em 589 mil pessoas, enquanto o contingente ocupado recuou em 11 mil. Os dados ainda mostram uma força de trabalho 5% abaixo da observada nos períodos de antes da pandemia do novo coronavírus.

A percepção é a de que a ocupação no setor privado com carteira deve manter uma trajetória de pouco dinamismo, marcada por uma estabilidade de pessoal ocupado em patamares bem desfavoráveis, segundo o documento.

“A primeira reação da recuperação da economia foi o avanço do emprego para profissionais de ensino superior, que melhoraram as horas trabalhadas. A gente espera isso que alcance mais pessoas, com a recuperação do setor de serviços, como turismo, restaurantes e bares”, avalia José Ronaldo Souza Júnior, da Dimac (Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas) do Ipea.

Por serem setores que empregam muitos trabalhadores, grande parte deles com baixa escolaridade, a retomada dos serviços é essencial e deve se dar conforme a vacinação avança, diz o pesquisador. Com a taxa de desemprego elevada e a recuperação da população ocupada restrita, a população acaba sendo pouco beneficiada neste início de retomada.

Por serem setores que empregam muitos trabalhadores, grande parte deles com baixa escolaridade, a retomada dos serviços é essencial e deve se dar conforme a vacinação avança, diz o pesquisador. Com a taxa de desemprego elevada e a recuperação da população ocupada restrita, a população acaba sendo.

O ritmo de vacinação está definindo a sorte de alguns setores, avalia Souza Júnior. Ele pondera que ainda não se sabe até que ponto a vacinação deveria ser acelerada para que a recuperação do país seja mais consistente, mas mesmo com a vacinação lenta, o ritmo de retomada surpreendeu no primeiro trimestre.

“Agora, se a aceleração na vacinação resultar em uma queda rápida nas internações e mortes, o impacto econômico deve ser ainda mais significativo”, diz.

Ele também ressalta que as mudanças tecnológicas que já estavam acontecendo foram antecipadas pela pandemia e ainda não é possível saber o quanto essa aceleração vai interferir na renda do trabalho mais a longo prazo.

“Adiantamos algumas tecnologias, diminuindo viagens de negócios. Isso vai mudar o perfil do trabalhador e há uma demanda muito grande por profissionais mais qualificados. É preciso ver até que ponto algumas mudanças vieram para ficar”, diz.

Ao longo da pandemia, um outro movimento foi objeto de atenção: o aumento da desigualdade e da concentração de renda. Um estudo recente, do Credit Suisse, mostra que o 1% no topo da pirâmide brasileira passou a concentrar metade de toda a renda no ano passado.

Segundo o pesquisador do Ipea, a concentração e a desigualdade entram na questão da composição do mercado de trabalho, que piorou para as pessoas com baixa escolaridade. “A piora na distribuição de renda não foi só no Brasil e com essa melhora do mercado, parte dessa piora pode ser revertida.”

O trabalho do instituto também sugere que outro motivo de preocupação do brasileiro pode ter uma melhora no ano que vem. A inflação, que passou de 8% em 12 meses até maio, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo) é uma das surpresas negativas na retomada após o primeiro ano de pandemia.

Segundo o Ipea, ainda que ocorra melhora no cenário de câmbio, a continuada aceleração dos preços das commodities no mercado internacional vem mantendo os índices de preços ao produtor pressionados, o que leva a aumentos adicionais nos preços dos bens de consumo industriais no varejo.

“Embora estejamos trabalhando com uma inflação mais elevada, esperamos uma desaceleração dos preços no ano que vem”, diz o economista. Ele também ressalta que, apesar das dificuldades, o crédito tem respondendo positivamente e surpreendeu durante a crise. “As empresas conseguiram refinanciar com prazos mais longos e juros mais baixos. E isso é importante também para as famílias recuperarem a capacidade de consumo.”

Ao analisar os fatores em conjunto, observa-se uma discreta piora nas condições gerais do mercado de crédito, cuja evolução e tendência para os próximos meses depende da evolução da economia, com destaque para o mercado de trabalho, diz o documento.

 

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile