Inflação volta a preocupar

Risco de alta da Selic acende sinal vermelho

A possibilidade de um novo ciclo de aperto monetário começou a ganhar força devido as preocupações com o cenário fiscal

Foto: pexels
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A última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) bem como as recentes falar do  diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, acenam para o fato de que uma “alta da Selic está posta na mesa“.

Após um período de estabilidade, a possibilidade de um novo ciclo de aperto monetário começou a ganhar força devido a fatores como a inflação persistentemente alta, as preocupações com o cenário fiscal do país e a dinâmica global de aversão ao risco. 

Ao BP Money estrategista-chefe da Minas Capital, Maria Tereza Oliveira, afirma que o aumento das expectativas de inflação tem sido uma das principais razões para que o Banco Central adote uma postura mais cautelosa em relação à política monetária. 

“As projeções para a inflação continuam elevadas, o que mantém o cenário desafiador para o Banco Central. O recuo do dólar na última semana ajudou a diminuir a aversão ao risco, mas isso não resolve os problemas internos que enfrentamos, especialmente no que diz respeito ao risco fiscal e às incertezas econômicas globais”, disse.

A inflação, que já esteve controlada em patamares mais baixos, voltou a apresentar números que preocupam. 

Renato Nobile, analista da Buena Vista Capital, aponta que “os dados recentes de inflação vieram pressionados, o que já coloca o IPCA de 12 meses muito próximo do teto da meta. Isso gera uma expectativa no mercado de que o Banco Central pode ter que aumentar a Selic em 2025, caso os dados continuem apontando para uma alta persistente nos preços.”

Essa situação torna-se ainda mais crítica quando se considera a resistência do governo em adotar políticas de austeridade fiscal. 

A falta de controle nos gastos públicos alimenta as expectativas de uma inflação mais elevada no médio prazo, pressionando o Banco Central a intervir para evitar que o cenário se agrave ainda mais.

Fiscal em foco: o desafio de equilibrar as contas

O risco fiscal continua sendo um dos grandes desafios para a economia brasileira. O governo, por sua vez, tem adotado uma postura expansionista, com aumento nos gastos e falta de medidas mais severas de contenção de despesas. 

Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos, enfatiza a relação entre a política fiscal e o aperto monetário.

“O Banco Central está muito preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação e o impacto das políticas fiscais expansionistas. Se o governo continuar aumentando os gastos e não conseguir conter o consumo, a inflação vai sair do controle e, inevitavelmente, a Selic terá que subir para conter essa pressão”, disse.

Essa preocupação é compartilhada por Igor Lucena, economista e CEO da Amero Consulting, que destaca a situação delicada do cenário fiscal brasileiro.

“Estamos em um cenário fiscal extremamente desafiador, e a falta de avanços nas reformas estruturais, especialmente no que diz respeito aos gastos do governo, torna o aumento da Selic uma realidade muito próxima” afirmou.

“O grande problema é que, se não houver cortes de gastos significativos, o aumento da Selic será inevitável e isso poderá agravar ainda mais a situação econômica do país”, completou

Impactos econômicos: freando o crescimento para controlar a inflação

A elevação da Selic pode ter impactos significativos na economia brasileira, afetando diretamente o crescimento econômico. 

Com juros mais altos, o crédito se torna mais caro e menos acessível, o que desestimula o consumo e os investimentos. Isso pode frear o crescimento de setores importantes da economia, que dependem do crédito para se expandirem.

Renato Nobile observa que “um aumento da Selic visa contrair a economia, tornando o custo de capital mais elevado e reduzindo o consumo. Isso, por sua vez, ajuda a estabilizar os preços e controlar a inflação, mas tem o efeito colateral de desacelerar o crescimento econômico.” 

Para Hulisses Dias, essa desaceleração é inevitável: “No curto prazo, uma Selic mais alta pode desacelerar o crescimento econômico, mas também ajuda a ancorar as expectativas inflacionárias e atrair fluxos de capitais estrangeiros, fortalecendo o real e mitigando a pressão inflacionária vinda do exterior.”

No entanto, a questão que se coloca é até que ponto o aumento da Selic será eficaz em controlar a inflação sem prejudicar excessivamente a economia.

A elevação dos juros pode estabilizar o câmbio e controlar os preços dos produtos importados, mas também pode levar a uma recessão prolongada, especialmente em um cenário global de incerteza.

O Banco Central e o dilema monetário

O Banco Central tem adotado uma postura de cautela, monitorando de perto os indicadores econômicos antes de tomar qualquer decisão. 

A estratégia de depender dos dados, ou “data dependent”, como tem sido chamada, permite que a autoridade monetária mantenha todas as opções em aberto, sem se comprometer com um ciclo automático de alta de juros.

Igor Lucena acredita que essa postura é adequada, “O Banco Central está certo em monitorar os dados antes de tomar uma decisão”, avaliou. 

O especialista quessalta que a situação é complexa tanto no cenário interno quanto no externo.

“Qualquer decisão precipitada pode ter consequências graves para a economia. No entanto, se o governo não controlar os gastos e a inflação continuar subindo, o aumento da Selic será inevitável.”

Renato Nobile concorda com essa visão: “O Banco Central está deixando claro que vai depender dos próximos dados para decidir se vai ou não aumentar a Selic. Isso é prudente, mas ao mesmo tempo deixa o mercado em alerta, já que a qualquer momento pode haver uma mudança na política monetária caso a inflação não seja controlada.”