A Rússia sofreu com fortes sanções econômicas impostas por diversas potências ocidentais desde que as tropas do país invadiram a Ucrânia no final de fevereiro. O rublo, a moeda russa, foi extremamente prejudicado e chegou a ter uma desvalorização de 30%. No ano, a retração é de 9,34%.
Contudo, Moscou tinha um plano para que o rublo retornasse ao normal, mesmo com o número de retaliações aumentando a cada semana.
O banco central da Rússia interveio de forma brusca e implementou uma série de medidas para que investidores não vendessem a sua moeda. Moscou também agiu para que diversos países tivessem que usar o rublo para fazer transações.
A primeira medida foi a alteração da taxa básica de juros do país para 20%, o que incentivou os investidores a manterem o seu dinheiro em rublos. “O aumento da taxa de juros suaviza a saída de capitais dentro do mercado”, explica Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital. Além disso, o governo russo fechou a bolsa de valores de Moscou em diversas ocasiões para impedir uma implosão do sistema financeiro russo.
Os cidadãos russos também foram proibidos de realizarem transações bancárias fora da Rússia.
“Uma das estratégias utilizadas pela Rússia foi aplicar uma paridade entre o rublo e o ouro, uma medida que foi feita pelos EUA depois da Segunda Guerra Mundial e definiu como o capitalismo deveria ser seguido no pós-guerra até 1971”, acrescentou a economista-chefe da CM Capital. O país fixou o preço do ouro em 5000 rublos por grama e estabeleceu um piso para a moeda russa na moeda norte-americana, já que o ouro é negociado em dólares.
Depois dos resultados do rublo, em virtude das medidas tomadas pelo banco central russo, especialistas começaram a se questionar se as retaliações teriam efeitos práticos para parar a guerra com a Ucrânia.
Na opinião do professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Vinicius Rodrigo Vieira, Moscou vai conseguir valorizar a sua moeda por conta do apoio da China e a dependência europeia do gás russo: “As sanções econômicas dos países ocidentais não vão conseguir os efeitos desejados enquanto a economia russa não ficar totalmente isolada”.
Cerca de 40% do gás usado em todo o continente europeu vem da Rússia. Enquanto países como a Alemanha anunciam sanções econômicas, também realizavam a compra do gás de Moscou. O presidente russo Vladimir Putin anunciou em março que “países inimigos” teriam que comprar o gás da Rússia em rublos, em uma tentativa de valorizar a própria moeda em meio a tantas punições.
“Os russos exigiram a compra do gás russo em rublo para países inimigos e venderam muito petróleo para nações consideradas amigas”, explicou Carla Argenta. De acordo com ela, a Índia e a China aproveitaram que o valor do petróleo russo estava muito baixo para aumentar a importação e impulsionar o rublo. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita.
Na avaliação do professor da FAAP, os russos conseguiram frustrar a opinião do mercado que cogitava a possibilidade de Moscou não pagar a sua dívida externa. “No curto prazo, a Rússia vai conseguir manter o rublo valorizado, mesmo que as sanções continuem”.
Segundo Carla Argenta, enquanto a economia europeia depender da Rússia, o rublo não vai ser tão impactado. “Tudo que poderia ser feito em relação a retaliações econômicas foi feito, mas a guerra mandou um recado para os europeus de que eles precisam ser mais nacionalistas e diversificar a compra de gás natural para não depender tanto do rublo”.
A economista da CM Capital projetou que em médio prazo os russos podem sofrer uma desvalorização da sua moeda, se os europeus não dependerem mais da Rússia ou a China avaliar que a guerra não é mais interessante.
A China é a principal aliada da Rússia, e enquanto o país não aderir às sanções, o rublo continuará valorizado. Essa é a opinião de Vinicius Rodrigues Vieira: “tudo depende de Pequim, enquanto o país seguir com o apoio aos russos, as retaliações não terão um efeito maior do que já foi feito até agora”.
A moeda russa pode também servir como opção de investimento, mas o risco é alto para os investidores.“Todos os ativos que podem ser comprados e medidos no mercado financeiro podem ser usados como investimento, contudo em virtude do risco, os investidores estão exigindo uma taxa de juros muito alta e o rublo se tornou um investimento especulativo”, analisou a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.