Diante de um cenário econômico mais desafiador previsto para o país em 2022, o ritmo da concessão de crédito às pessoas físicas deve passar por alguma acomodação mais à frente.
A previsão é de Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil. O executivo disse nesta quarta-feira (27) que espera por uma desaceleração no ritmo de crescimento da carteira de crédito de pessoas físicas do banco nos próximos meses.
O crescimento da carteira de crédito da pessoa física do banco foi de aproximadamente 21% no terceiro trimestre de 2021, na comparação anual. “Esse crescimento deve desacelerar em 2022”, disse o executivo, acrescentando que parte do resultado observado no último trimestre se deve ao represamento da atividade econômica em 2020.
“[O crescimento da carteira de crédito às pessoas físicas] deve voltar para níveis de maior normalidade, que têm sido de um dígito alto, entre 9% e 12%”, afirmou Rial em entrevista à imprensa para comentar sobre os resultados do terceiro trimestre.
Em um ambiente de taxa básica de juros de volta à casa dos dois dígitos, o crédito imobiliário deve ser um dos segmentos mais afetados negativamente, prevê o presidente do Santander, que em janeiro de 2022 passa o bastão para Mario Leão, que hoje lidera a área de corporate banking.
No terceiro trimestre, a categoria imobiliária foi um dos destaques de crescimento para o resultado da carteira de crédito do banco, com expansão de quase 30%.
Rial disse também que espera por momentos mais difíceis em termos de inadimplência. “Isso não significa que seja uma realidade inevitável, vai depender da qualidade de gestão [do banco]”, afirmou.
Rial disse ainda ter a expectativa de que a alta da Selic em curso pelo BC reduza a alta volatilidade do dólar.
“O problema não é onde o câmbio está, o problema é a velocidade com que ele se move. Isso cria deslocamentos importantes para várias multinacionais que investiram no Brasil”, afirmou, dizendo ainda que as variações bruscas no câmbio aumentam as incertezas e retroalimentam a inflação.
O executivo disse que apenas a política monetária não é suficiente para trazer o equilíbrio necessário para o quadro macroeconômico do país. O trabalho do Banco Central precisa vir acompanhado de uma política fiscal mais disciplinada, assinalou.
“O que eu gostaria é de um choque de política fiscal, não de política monetária”.
Rial comentou ainda que o fato de a narrativa do governo mudar a todo tempo tem gerado grande dificuldade para o mercado traçar os próximos passos para a política econômica à frente.
“Me preocupa a questão da inconsistência da narrativa. É importante ter uma linha de narrativa reformista, mas que também tenha um viés de inclusão social”.
Sobre a queda de 4,6% na receita de serviços de conta corrente por conta do crescimento da transacionalidade via Pix, Rial afirmou que, em sua avaliação, o novo instrumento teve um impacto, na média, positivo para a sociedade.
“Só que você captura [o cliente] de outras formas, a vinculação não passa simplesmente pelo TED e pela DOC”, disse.
Tendo reportado uma média de cerca de 870 mil novos clientes por mês no terceiro trimestre, Rial afirmou que o banco projeta alcançar a marca de 1 milhão de novos clientes ao mês em novembro.?