A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% ao ano. Por isso, Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed aponta algumas opções, dada toda a volatilidade do governo e o elevado nível da taxa de juros, para os investidores.
“As melhoras opções agora são aqueles investimentos pós-fixados, como Tesouro Selic, CDB ou LCI e LCA pós fixados, lembrando que em todas essas alternativas é bom priorizar aquelas que entregam um benefício adicional, que são as LCIs e LCAs”, apontou o especialista.
Jorge destaca, no entanto, que esses investimentos têm prazo de carência, então não ocorrerá uma liquidez imediata, mas trará uma rentabilidade melhor.
“O investidor precisa entender seu fluxo de caixa e escolher aquela opção que melhor se adequa a seu momento. Sem dúvida alguma, os títulos pós-fixados são os que vão trazer menos volatilidade para a carteira do investidor”, avaliou Jorge.
Para uma estratégia de curto ou longo prazo, ele afirma que o fluxo de caixa de cada investidor está altamente relacionado, por isso não adianta realizar investimentos de longo prazo se precisar utilizar o dinheiro a curto prazo.
“É muito importante que o investidor conheça seu perfil de risco e que ele tenha um bom planejamento financeiro. Se ele acha que seu recurso vai ser utilizado no curtíssimo prazo, eu recomendo que ele invista em CDBs ou mesmo LCIs e LCAs de curto prazo até 6 meses. Agora, se ele pretende fazer uma aplicação para fazer uma compra de um apartamento daqui 10 anos ou para pagar faculdade do filho daqui 15 anos, ele pode pensar em investir seu dinheiro em ativos de longo prazo”, salientou.
Para Jorge, a curto prazo, o cenário de juros e de dólar segue muito indefinido e a tendência é que siga volátil até que o novo governo dê declarações mais claras e que traga mais confiança, principalmente para o fiscal.
“Enquanto isso não acontecer, tanto o dólar quanto os juros vão continuar voláteis nesse curtíssimo prazo. Então, para quem não está acostumado ou não tem apetite para volatilidade, esse é o momento de ficar de fora”.
Banco Central não deve mexer na Selic
Para Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL, o Banco Central se alinhou dado que o governo Lula deverá começar em breve e, por isso, é mais provável que a autoridade monetária só altere os juros no ano que vem.
“Projeção é de manutenção da taxa que se encontra em 13,75%, visto que a inflação até o presente momento vem se mantendo sob controle. Também temos um novo governo a partir de 2023, em que existem muitas dúvidas sobre como irão lidar com gastos. Não faria sentido neste momento a alteração da taxa atual. Não acredito que o BC nesse momento mexeria nos juros. Para o ano que vem, é possível, mas vai depender muito das atitudes tomadas pelo próximo governo quanto à responsabilidade fiscal”, afirmou Labarthe.
Apesar de as projeções apontarem para a manutenção de 13,75% ao ano, o BC se mostrou preocupado com os gastos do novo governo em 2023, apontando para uma possível subida de juros, hipótese não descartada por Labarthe, que salienta que a PEC da Transição pode influenciar uma mudança.
“Lembro que todas as segundas-feira temos através da pesquisa Focus um termômetro do mercado. Ainda a perspectiva maior é de queda na taxa de juros, porém mudanças como a PEC da transição podem mudar totalmente este cenário. Além disso, o mundo ainda passa por uma série de ajustes econômicos e o Brasil está atento a isto”, destacou.
Especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, Ricardo Jorge acredita que o Banco Central atuará conforme perceba se o ajuste fiscal causará algum tipo de impacto na inflação.
“Vão aguardar que toda esse resolução seja resolvida no Congresso para ter uma ideia do tamanho que vai ser esse waiver, o pedido de perdão por não cumprir uma meta. E aí sim depois desse waiver aprovado, o BC tende a acompanhar ainda mais de perto os indicadores de inflação. Então, no primeiro sinal de que esse repasse de custos for repassado para a sociedade e começar a refletir nos preços, com certeza vão atuar e começar uma nova elevação da taxa Selic. Quando isso vai acontecer, a gente não sabe”, pontuou o especialista.
Labarthe, no entanto, destaca ser complexo projetar o próximo ano, muito por conta da mudança de governo.
“A taxa já subiu a um patamar confortável frente a inflação, exceto se ocorrer algum imprevisto negativo, podemos ver a taxa assim por algum tempo até começar a perder força, o que se torna ainda mais complexo de se interpretar diante da mudança no comando do Brasil para 2023. Precisamos ficar atentos em relação à PEC de Transição e qualquer surpresa negativa pode mudar o cenário”, analisou o sócio-fundador da GT CAPITAL.
Neste ano, a Selic iniciou com 9,25%, passando para 10,75% logo na primeira reunião. Após cinco altas seguidas, chegou ao valor atual. Labarthe avaliou a trajetória da taxa de juros no ano, destacando a busca por controlar a inflação mais cedo, diferente de potências como os EUA.
“O Brasil se acostumou ao longo dos últimos 50 anos em como se comportar com o aumento da inflação, o que não é visto na Europa e EUA. É consenso que estes países demoraram mais para avaliar que a alta na inflação não era passageira com o aumento da demanda pós COVID. E o Brasil foi um dos primeiros países a subir juros para controlar a inflação. Tudo o que ocorre lá fora repercute em países desenvolvidos como o Brasil. Com o FED subindo juros nos EUA, por exemplo, dificilmente veremos o BC descer os juros no Brasil tão cedo”, concluiu.
A decisão do Copom sobre a Selic é aguardada para esta quarta-feira (7), após o fechamento do Ibovespa.