Durante a semana de 8 a 13 de setembro o mercado reagiu à continua pressão diante dos cenários econômico e políticos do Brasil e dos EUA. No Brasil, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro gerou dúvidas sobre possíveis novas represálias norte-americanas. Nos EUA, os dados divulgados reforçam a crença de um corte nas taxas se aproximando.
Para a próxima semana, de 15 a 20 de setembro, a principal expectativa é para a Super-Quarta, no dia 17 de setembro. Como de praxe, serão divulgadas taxas de juros tanto no Brasil quanto nos EUA, o que pode mudar completamente os próximos passos econômicos ambos os países.
Semana que passou: dados e tensão política
A semana passada se encerrou em meio às expectativas para manifestações políticas no 7 de setembro, Independência do Brasil, no domingo. No país vizinho, a Argentina teve a eleição regional da província de Buenos Aires, que resultou na derrota do partido de Javier Milei.
Os dados do Boletim Focus manteve a projeção da Selic até o fim de 2025 e elevou a estimativa da inflação (IPCA) para 5,07%. Para João Kepler, CEO da Equity Group, isso reflete a dificuldade em ancorar expectativas de preços.
“Esse quadro reforça a política monetária restritiva do Banco Central, que enfrenta críticas diante do impacto direto nos investimentos e no consumo das famílias. Ao mesmo tempo, o governo tenta avançar no ajuste fiscal, mas o mercado continua cético quanto à robustez das medidas, o que mantém a percepção de risco elevada.”
Posteriormente, na terça-feira (10), foi divulgado o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou deflação de 0,11% em agosto, após alta de 0,26% em julho.
No acumulado de 2025, a inflação está em 3,15%, e em 12 meses o índice soma 5,13%, abaixo dos 5,23% do período imediatamente anterior. Em agosto de 2024, o IPCA havia variado -0,02%.
Outroa dados relevantes divulgados durante a semana foram o PPI (índice de preços ao produtor) e o CPI (índice de preços ao consumidor), dos EUA.
O PPI (índice de preços ao produtor) dos EUA registrou queda de 0,1% em agosto na comparação com julho. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o PPI avançou 2,6%. Já o IPCA registrou deflação de 0,11% em agosto, após alta de 0,26% em julho. Os resultados reacenderam o debate sobre o corte nos juros de ambos os países.
Já o CPI (índice de preços ao consumidor) nos EUA registrou alta de 0,4% em agosto. No acumulado de 12 meses, a inflação chegou a 2,9%, acima das expectativas do mercado, que projetava 2,9% para o período anual e 0,3% para o mês. O dado, abre o caminho para que o Fed inicie os cortes nos juros.
“Apesar disso, o payroll de agosto mostrou resiliência, com a taxa de desemprego estável em 4,2%, o que mantém a economia americana em terreno robusto e reduz a margem de manobra para estímulos mais agressivos. Esse contraste entre a rigidez da política monetária no Brasil e a possível flexibilização nos EUA continuará guiando os fluxos de capital nos próximos meses, exigindo atenção redobrada de empresas e investidores diante de um ambiente global cada vez mais volátil”, analisou Keppler.
No aspecto político, o Brasil voltou os olhos para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus denunciados por participar da tentativa de golpe de Estado. Na quinta-feira, após os votos de Carmen Lúcia e Cristiano Zanin, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão, o que gerou tensão e contribuiu para o movimento de queda registrado na bolsa brasileira na sexta-feira (12).
Devido a isso Ibovespa fechou a última sessão da semana com queda de 0,61%, aos 142.217,58 pontos. O dólar comercial teve forte recuo de 0,71%, atingindo a menor marca desde junho de 2024, cotado a R$ 5,353.
“No câmbio, o dólar voltou a oscilar próximo de R$ 5,60, influenciado tanto pela desconfiança em relação às contas públicas quanto pelas tensões geopolíticas decorrentes do tarifaço dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Essa conjuntura vem encarecendo importações e pressionando a inflação, além de comprometer a competitividade da indústria. Na produção, os últimos dados do IBGE mostraram queda de 0,2% em julho, reflexo da combinação de juros altos e custos crescentes de insumos” explicou o CEO da Equity Group.
Semana que chega: expectativas para a Super-Quarta
Os dados divulgados e os desenvolvimentos políticos do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro serão o chão que vai sustentar a semana de 15 a 20 de setembro.
Na quarta-feira (17) será divulgada decisão do Fed (Federal Reserve) sobre a taxa de juros dos EUA, que, atualmente, está entre 4,25% e 4,50%. A expectativa é de um corte de 25 pontos-base.
Não é somente a taxa de juros que será decidida na quarta-feira. O Fed também apresentará as Projeções Econômicas, divulgadas a cada 90 dias. No último documento, a estimativa era de dois cortes de 25 pontos-base nas três reuniões restantes de 2025 – o mercado já vê como certo os cortes nestes encontros
No Brasil, no mesmo dia, será divulgado a decisão do Copom
(Comitê de Política Monetária) sobre a taxa Selic, que atualmente está em 15%. A atividade econômica moderou desde a última reunião, mas a combinação de mercado de trabalho ainda aquecido, inflação de serviços bem acima do teto de tolerância de 1,5 ponto percentual da meta de 3% ao ano, bem como expectativas ainda distantes do centro da meta contribuem para a manutenção dos juros no atual patamar.
Especialistas ouvidos pelo BP Money apontam que possivelmente a maior atenção na decisão do Copom recaia sobre a manutenção do trecho que indica interrupção do ciclo de alta, com possibilidade de retomada das elevações.
“O presidente do Banco Central já admite publicamente o processo de desinflação, mas em ritmo lento, o que pode levar a retirada deste trecho”, comentou Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.
Outros dados importantes da semana no Brasil ocorrem nos dois primeiros dias úteis.