Guerra comercial ou política?

Solução do tarifaço está em Brasília, diz governo dos EUA

Presidente da CNI, que lidera comitiva de empresários nos EUA, ouve de membro do governo Trump que problema do tarifaço é político

Foto: Agência CNI de Notícias
Foto: Agência CNI de Notícias

Os empresários brasileiros precisam “fazer lobby” em Brasília, e não em Washington, para reverter o tarifaço imposto pelo governo norte-americano.

Essa teria sido uma sugestão dada nesta quarta-feira (3) ao presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, pelo vice-secretário de Estado do governo Donald Trump, Christopher Landau.

Alban lidera uma comitiva de mais de 100 empresários brasileiros a Washington, para uma série de agendas com objetivo de negociar a diminuição das tarifas que passaram a pesar sobre produtos brasileiros exportados aos EUA.

Na reunião, que contou com a participação do CEO da Câmara de Comércio Brasil e Estados Unidos (Amcham), Abrão Neto, Landau, cujo cargo no governo norte-americano equivale ao de vice-chanceler, deixou claro que o problema com o Brasil é de ordem política, e não econômica.

Segundo informações dadas pelo presidente da CNI ao site Metrópoles, o vice-secretário mencionou insatisfação do governo Trump com decisões da Justiça brasileira que atingem empresas, entre elas, as chamadas big techs.

Alban relatou também que o vice-chanceler, “em nenhum momento” durante a reunião, mencionou o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro como fator para a aplicação do tarifaço.

Landau teria ressaltado ainda que no decreto em que impôs o tarifaço, Trump deixou claro que a negociação teria de acontecer via Departamento de Estado, e não por meio do Tesouro americano, além de dizer que os empresários brasileiros deveriam concentrar sua pressão em Brasília, e não em Washington.

Trump vinculou tarifaço a julgamento de Bolsonaro

Apesar de Landau não ter citado Bolsonaro nominalmente, na Ordem Executiva assinada em 30 de julho para elevar o valor da tarifa de importação de produtos brasileiros para 50%, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, justifica as medidas adotadas contra o Brasil como uma resposta ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusando autoridades brasileiras de perseguição.

No documento, intitulado “Enfrentando as ameaças aos Estados Unidos”, o presidente americano cita o julgamento de Bolsonaro no STF, dizendo que o tribunal “decidiu equivocadamente que Bolsonaro deve ser julgado por essas acusações criminais injustificadas”.

“A perseguição política, por meio de processos forjados, ameaça o desenvolvimento ordenado das instituições políticas, administrativas e econômicas do Brasil, inclusive minando a capacidade do Brasil de realizar uma eleição presidencial livre e justa em 2026”, afirmou Trump no documento.

“O tratamento dado pelo governo do Brasil ao ex-presidente Bolsonaro também contribui para o colapso deliberado do Estado de Direito no Brasil, para a intimidação politicamente motivada naquele país e para abusos de direitos humanos”, completa o texto.

Alexandre de Moraes no alvo do governo dos EUA

Também há no documento uma série de acusações ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do caso em que atualmente Bolsonaro é julgado por tentativa de golpe.

Moraes é acusado pelo governo dos EUA de abusar de sua autoridade judicial “para atingir oponentes políticos, proteger aliados corruptos e suprimir dissidências, muitas vezes em coordenação com outras autoridades brasileiras”.

Trump acusa ainda o ministro de confiscar passaportes, prender pessoas sem julgamento e impor multas a empresas que não cumpriram “suas exigências ilegais de censura”.

“Essas ações também restringem e limitam a expressão nos Estados Unidos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas no país e no exterior”, afirma.

Por fim, a Ordem Executiva assinada por Trump argumenta que autoridades brasileiras emitiram ordens para obrigar plataformas online dos Estados Unidos a censurar contas ou conteúdo de cidadãos norte-americanos, além de alterar suas políticas de moderação de conteúdo.