Startups crescem com aumento no preço dos combustíveis

Os reajustes têm se convertido em mais clientes e altas taxas de crescimento

A escalada do preço dos combustíveis afeta a inflação, motivou protestos de caminhoneiros e foi a causa de uma troca abrupta na presidência da Petrobras. Mas para startups brasileiras que atuam na área, os reajustes têm se convertido em mais clientes e altas taxas de crescimento.

O último reajuste da Petrobras, no dia 26 de outubro, fez o preço médio da gasolina subir 3,1%, chegando a uma média de R$ 6,562 por litro, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Na mesma semana, o preço do diesel subiu 4,5% nos postos, chegando a R$ 5,211 por litro, em média. São valores inéditos no Brasil.

Atuando com poucos competidores externos devido às especificidades do mercado brasileiro, as startups do setor otimizam processos de distribuidores, transportadores e postos de combustível com tecnologias que vão de equipamentos para monitorar a vazão na bomba a robôs no Telegram que indicam como comprar o produto.

“Não sentimos a pandemia”, afirma Filipe Lucatelli Borges, um dos sócios da CTA Smart, empresa que atua com controle de abastecimento. “Toda crise que passamos desde a fundação da empresa, em 2011, nos fortaleceu.”

Os principais clientes da startup são transportadoras de pequeno e médio porte de cargas e passageiros. Normalmente, essas empresas contam com um posto interno em suas unidades para atender a própria frota.

Organizar analogicamente a logística de abastecimento desses postos pode resultar em perdas. Para resolver esse problema, a startup instala um equipamento nas bombas, conectado à internet, que registra o recebimento do combustível e faz toda a gestão de maneira automatizada.

Com a autorização da empresa, é possível saber quem é o motorista da vez, o nome do frentista que fez o abastecimento, a quilometragem do veículo, entre outros dados.

Apesar de ter mirado na visibilidade dos tanques, a startup passou a gerenciar o abastecimento dessas empresas por meio de software. Hoje a CTA Smart tem mais de 1.600 equipamentos ativos em todo o Brasil, além de estar nos Estados Unidos por meio da Link2Pump, prestando o mesmo serviço. No início de outubro, a marca recebeu aporte de R$ 5,5 milhões.

O cofundador da Combudata, Daniel Colella, concorda que este é um momento ímpar para negócios relacionados a combustível. “Tudo está convergindo, eu diria que é a tempestade perfeita”, afirma.

A sua startup, que tem clientes em todo o país, atua em duas frentes: a primeira é uma plataforma de gestão e controle que pode atender qualquer entidade que compre combustível de uma distribuidora. Os clientes sobem suas notas fiscais e, a partir delas, a Combudata avalia se as compras estão sendo um bom ou mau negócio.

No final das contas, a empresa quer dar poder de barganha aos compradores por meio de maior acesso à informação. Se a tendência é de alta de combustíveis, por exemplo, a plataforma indica às empresas que encham seus tanques. Se há uma tendência de queda, sugere que não se compre, porque o produto estará mais barato algumas semanas depois.

“É uma gestão de estoque”, resume Colella.

A segunda frente é o Combumarket, um marketplace de fornecedores para seus clientes. “Esse comprador tem uma espécie de miopia mercadológica. Ele não conhece outra distribuidora que não as grandes, então fica refém delas por falta de informação”, afirma o empresário.

Por ser uma iniciativa mais recente, o Combumarket está apenas na região sul e nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Trabalhando também com transportadoras, a Gasola nasceu em 2020 para concorrer com o cartão combustível ou cartão frota, geralmente usados por funcionários de transportadoras para abastecer os veículos.

“O grande problema é que esses cartões cobram uma taxa altíssima do posto”, afirma Ricardo Monosowski Lerner, fundador da startup, lembrando ainda que normalmente o repasse acontece apenas 30 dias após o abastecimento -o que leva muitos postos a cobrar valores diferentes para pagamentos com esses cartões.

“O nosso negócio é conectar transportadoras e postos diretamente por meio de uma plataforma digital”, explica Lerner.

O pagamento do combustível é feito por meio do app da Gasola, e o depósito para o posto ocorre na hora, por meio de conta corrente digital. O serviço é cobrado somente da transportadora.

Em outubro, a startup movimentou R$ 18 milhões pela plataforma. “Dos clientes que fazem o piloto com a gente, 97% este ano nos contrataram depois de 30 dias. É mais caro não contratar do que contratar”, diz.

A startup Aprix, outra iniciativa do setor, atua diretamente com postos de combustível. Por meio de um software, onde são colocadas todas as notas fiscais, a empresa capta qual é a sensibilidade a preço de cada posto para cada combustível por dia da semana.

“Com isso, conseguimos prever todos os cenários possíveis e orientar. ‘Vai por aqui, é como você vai atingir os seus objetivos'”, afirma Guilherme Baggio Zuanazzi, fundador da startup. “A gente otimiza preço de venda para o consumidor final.”

O seu negócio, explica, depende da política de paridade internacional de preços da Petrobras. Por meio dela, a estatal precifica o combustível de acordo com preços de fora do Brasil, o que torna os valores mais voláteis e menos previsíveis.

“Antes, se era noticiado que a Petrobras ia subir R$ 0,20, por exemplo, no dia seguinte o dono do posto já sabia o que tinha que fazer”, diz Zuanazzi. “Com essas mudanças frequentes e ajustes mais finos, esse revendedor tem dificuldade para decidir o que fazer. Ele pode esperar a concorrência subir para subir também, mas e se a concorrência não sobe?”

Todo dia, os clientes recebem uma notificação pelo aplicativo do Telegram com o resultado da análise de dados, indicando a melhor precificação.

A startup está em mais de 15 estados brasileiros, além de atender uma rede do Peru que também utiliza o software da Gasola.

Para Zuanazzi, o seu maior concorrente é a “mentalidade conservadora do segmento”.

“Quem opera o posto, normalmente, é uma pessoa com mais idade, e há muitas empresas pelo interior do Brasil, onde essas tecnologias acabam chegando depois. Além disso, esse setor não é tão sexy para os jovens. Quem é novo quer trabalhar com carro elétrico”, diz o empreendedor.

“A gente sabe que o setor de combustíveis tem os seus dias limitados em função da transição para carros elétricos. Ela vai acontecer, só não sabemos quando”, diz ele. “É por isso que a gente já se posiciona como uma empresa de dados, que traz eficiência para processos.”

 

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