"Super Quarta" marca decisões de Copom e Fed; o que esperar?

Fed e Copom marcam a última "Super Quarta" do ano, que é quando as decisões são divulgadas no mesmo dia

O Banco Central do Brasil e o Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) comunicam, nesta quarta-feira (21), suas decisões de política monetária, marcando a última “Super Quarta” do ano, quando ambas as decisões são divulgadas no mesmo dia. 

Além disso, pode ser também a última vez que as decisões dos bancos centrais americano e brasileiro caminham na mesma direção, já que chegam para esta “Super Quarta” vivendo momentos distintos, como explica Mario Rubens, economista e professor de MBAs da FGV.

“A expectativa, para os EUA, está entre 0,75 p.p. e 1 p.p. Talvez seja interessante ser um pouco mais agressivo, pois isso pode melhorar mais lá na frente, a fim de não cometer o erro de colocar algo mais baixo e precisar aumentar ainda mais lá na frente. Com relação ao Brasil, eu acho que fará muito pouca diferença colocar 0,25 p.p. de uma caixa que já está em 13,75% [valor atual da taxa Selic]. O impacto é pequeno. Não fará grandes efeitos”, explicou Rubens.

Última Super Quarta do ano irá marcar fim do ciclo de alta da Selic? 

Apesar de boa parte do mercado acreditar que a Selic será mantida no mesmo patamar, o presidente do BC, Campos Neto, não descartou uma alta residual na decisão desta semana. 

“Embora seja cedo para dizermos que o ciclo de alta esteja realmente no fim, acreditamos que é um ciclo de pausa, no qual o Banco Central buscará elementos adicionais de confirmação, para só depois fazer um movimento de reversão ou não com mais segurança”, afirmou Leandro Vasconcellos, especialista em finanças e sócio da BRA..

Em contrapartida, o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, acredita que a maior probabilidade seja de um novo aumento, desta vez de 25 bps, levando a taxa Selic para 14,00% ao ano. 

“O principal argumento para uma elevação residual da Selic é de que ainda é preciso terminar o trabalho no combate da inflação. Tanto a média de núcleos de inflação quanto o índice de difusão voltaram a crescer – a inflação segue disseminada em toda economia”, afirmou Sung. 

O Brasil vem de dois meses seguidos de deflação, muito por conta da queda nos preços de combustíveis e energia. Em agosto, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação do País, ficou negativo em 0,36%. Com os dados, a expectativa é que a trajetória de alta da Selic tenha se encerrado. 

“Me parece apropriado que o Copom faça uma pausa para avaliação, visto que o cenário prospectivo incorpora uma estabilização da inflação, derivada do corte de impostos e recuo dos preços de combustíveis, além da valorização do real, efeitos da atual política monetária restritiva e queda das expectativas de inflação já vistos na Focus”, analisou Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA.

Entretanto, o professor Mario Rubens lembra que essas medidas têm um prazo de validade, o que pode fazer com que a inflação suba novamente. 

“É uma inflação meio fabricada devido a vários meios eleitoreiros. Houve uma redução de impostos, aceleração no corte de preços de combustíveis, que realmente está caindo no mercado internacional, mas aqui está sendo feito de uma maneira mais acelerada do que costumava ser. Tem que ver como irá se comportar depois, até porque ficou muito concentrado em combustível, transporte e habitação, enquanto que alimentação segue muito alta”, ponderou o economista e professor de MBAs da FGV.

Sung segue a mesma linha de Rubens quanto a inflação no Brasil. “Apesar da deflação do IPCA nos últimos meses, muito por conta das medidas tributárias e reajustes da Petrobras, em agosto, sete dos nove grupos pesquisados registraram alta. Se retirarmos do IPCA os combustíveis e energia, o índice apresentaria uma variação positiva”, analisou o economista-chefe da Suno Research. 

Para Rubens, o presidente do Banco Central, Campos Neto, vem acompanhando todos esses fatores e é possível que só haja um arrefecimento da Selic em 2024. “Acho mais provável que isso ocorra só em 2024, pois no próximo ano devemos ainda ter impactos dessas medidas”, destacou.  

EUA passam por momento distinto 

Os norte-americanos sofreram um duro golpe após os dados de inflação voltarem a surpreender para cima. Na última semana, o CPI (Índice de Preço ao Consumidor) não revelou deflação da economia americana como era o esperado para agosto – e ainda adicionou uma nova alta mensal de 0,1%.

Na comparação anual, o índice desacelerou menos do que o projetado por economistas, saindo de 8,5% para 8,3%. O consenso era de queda para 8,1%.

Com isso, o Fomc, comitê do Fed responsável por decidir a taxa de juros nos EUA, deve elevar novamente os juros do país em 0,75 p.p., ou até ser ainda mais agressivo e aumentar 1p.p.

“Os dados do CPI americano saíram acima do esperado e isso acendeu de novo a preocupação. Agir mais rápido agora é importante para não precisar fazer isso mais lá na frente. Se colocar 1 p.p. agora, não precisará fazer três de 1 p.p. lá na frente. Se continuar subindo, a situação piora e terá que ser mais agressivo no futuro, podendo provocar um cenário recessivo ainda maior”, apontou Rubens.

Após a divulgação do CPI, as taxas de juros americanas passaram a precificar em torno de 20% a chance para uma alta de 1 p.p., que levaria o juro americano para o intervalo de 3,25% e 3,5%. A alta desta quarta parece mais do que certa, mas questionado se o ciclo de seguirá nos EUA, Vasconcellos diz que o banco central norte-americano terá dois caminhos para escolher seguir. 

“Qualquer prognóstico seria um exercício vazio de futurologia. Porém, analisando as taxas de emissão dos títulos do tesouro americano hoje, podemos perceber que as taxas dos títulos mais curtos estão bem maiores que as dos títulos mais longos. Normalmente, isso indica uma possível recessão mais forte pela frente. O que deixará o Fed em um dilema: reduzo os juros para evitar uma recessão e deixo a inflação sem controle ou controlo a inflação e aprofundo a recessão? Cenas para os próximos capítulos”, afirmou o especialista em finanças e sócio da BRA.  

Na Super Quarta, a decisão do Copom será divulgada após o fechamento do mercado. Já Fomc divulga sua decisão de política monetária às 15h.