"Super Quarta": decisões de Copom e Fed movimentam dia; entenda

No Brasil, a expectativa é de manutenção da Selic em 13,75% ao ano, enquanto que o EUA deve registrar alta de 0,25 ponto nos Fed Funds

A primeira “Super Quarta” ocorre nesta quarta-feira (1º) e promete movimentar o mercado com as decisões de juros no Brasil e nos EUA. Por aqui, a expectativa é de manutenção da Selic em 13,75% ao ano, enquanto que o banco central norte-americano deve registrar alta de 0,25 ponto nos Fed Funds, uma redução no ritmo de aperto em relação à reunião anterior.

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) realiza terça e quarta-feira (31 de janeiro e 1 de fevereiro) sua 252ª reunião. O mercado já precificou a manutenção da Selic em 13,75% pela quinta vez, o que não deve impactar muito, já que não trará surpresa. A grande questão será a comunicação sobre o prazo da estabilidade da taxa.

“É importante lembrarmos que a Pec de Transição aprovada em dezembro agravou a saúde fiscal do país. Somando isso a uma postura expansionista por parte do governo que vem se desenhando para os próximos anos, é compreensível que os riscos de aumento na inflação adiem o ciclo de corte de juros. Talvez as quedas comecem a aparecer somente a partir do segundo semestre. Alguns analistas de mercado arriscam dizer que a Selic ficará no patamar de 13,75% durante todo o ano de 2023”, projetou Jaiana Cruz, sócia da AVG Capital e educadora financeira no EDUCA$, em entrevista ao BP Money. 

Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, a taxa Selic deve se manter no mesmo patamar por mais algum tempo em decorrência das incertezas que ainda pairam em 2023. 

“Temos declarações polêmicas em relação a independência do BC, possíveis mudanças em relação a meta de inflação. Tudo isso tem interferência na dinâmica da curva de juros. A medida em que começarmos a ver uma inflação decadente, o BC vai atuar para que taxa de juros seja compatível com os níveis de inflação”, explicou.

“Então se a gente começar a ver uma inflação descendente de maneira significativa, existe espaço para cortar juros. Mas esse não é o cenário base. Hoje, temos um cenário de riscos fiscais e até que a gente veja a inflação melhorando de fato, acredito que a estratégia seguirá sendo a de manutenção de juros”, completou Jorge. 

Apesar de elogiar o rumo tomado pelo Banco Central, em que cita que os cenários ainda apresentam inconsistências e qualquer decisão diferente resultaria em uma desestabilização no mercado de juros, Caio Canez de Castro, sócio da GT Capital, salienta para algumas consequências na manutenção da taxa por muito tempo. 

“Manter a taxa de juros real em níveis altos por tanto tempo pode trazer diversas consequências, por isso acredito que o principal desafio será entender qual o nível de redução da Selic o BC poderá chegar, sem aliviar a estratégia contracionista dedicada a inflação e sem sinalizar ao governo que poderá manter a sua dívida alta, ou seja, acelerar nos gastos públicos durante 2023”, destacou Castro. 

Melhores investimentos com manutenção da Selic

Com a Selic seguindo em um patamar alto, alguns tipos de investimentos seguem com tendência no mercado, como os títulos indexados ao IPCA, como explica Jaiana Cruz.

“O ideal é o investidor optar por títulos do Tesouro Direto que tenham vencimentos nos vértices intermediários da curva de juros (entre 2028 e 2033). Vale considerar também investimentos em títulos de crédito privado que não são tributados, como as debêntures incentivadas, por exemplo, ou os certificados de recebíveis, tanto do agronegócio quanto do setor imobiliário (CRA e CRI, respectivamente)”, afirmou a planejadora financeira CFP®?.

Já Caio Canez de Castro indica investimentos pré-fixados para os clientes com o perfil. “Apesar de não sabermos exatamente quando, mas uma redução na Selic, em algum momento, deverá acontecer e nesse caso a rentabilidade no pré fixado será maior se comparado ao pós fixado. Acredito que o momento certo dependerá muito do nível de risco que o cliente está disposto a correr, mas vejo que este já é o momento certo”, explicou o sócio da GT Capital. 

Fed deve reduzir ritmo de aperto monetário

Na contramão do Copom, a definição da taxa de juros dos EUA deve agitar ainda mais o mercado. Por lá, os Fed Funds  estão atualmente na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano, já que em 20222 o banco central norte-americano realizou o maior aperto na política monetária em quatro décadas. 

“Hoje temos um consenso do mercado de que os juros devem subir 25 p.p. Essa vai ser a menor alta desde que começou o ciclo de alta nos EUA. Possivelmente o comunicado deverá ser mais dovish porque o EUA vem mostrando sinais de queda na atividade econômica”, avaliou Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.

“Tivemos notícias de queda de consumo, queda da produção industrial, queda da inflação. PIB veio abaixo do esperado e isso faz com que aumente o medo da recessão, mesmo que branda. Todos esses fatores contribuem para que os juros não subam mais tanto. E o comitê deve abordar todos esses fatores no comunicado”, completou Cohen. 

Além da decisão do Fed sobre a taxa de juros, Cohen lembra que outras divulgações ao longo da semana serão importantes para ajudar a entender os próximos passos do banco central dos EUA. 

“Teremos o ADP e o Payroll e esses dados ajudarão nesse entendimento. O Payroll mostra também o ganho médio por hora. Quanto menor o ganho médio por hora, temos menor chance de inflação porque o americano ganhando menos, compra menos. Se tivermos indicadores que apontem para inflação controlada, podemos ter uma próxima alta, depois dessa, de 25 p.p e depois podemos esperar pela manutenção da taxa de juros nas próximas reuniões até iniciar o ciclo baixista”, projetou o especialista. 

Na Super Quarta, e divulgação da decisão de política monetária do Fed está marcada para as 16h, enquanto que o Copom divulga a “nova” taxa Selic às 18h30, ambos no horário de Brasília. 

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