Economia

"Super Quarta": economistas projetam cautela e baixos cortes de juros

Economistas fazem projeções quanto ao resultado do Copom e do FED e apontam possíveis razões para uma postura atenta dos bancos

A primeira Super Quarta do ano acontece neste 31 de janeiro para fechar o primeiro mês do ano em grande estilo. Conhecido pela coincidência de data, as decisões monetárias de Brasil e EUA costumam causar grande impacto sobre os setores econômicos e ações do mercado financeiro. No entanto, neste primeiro momento, economistas ouvidos pelo BP Money projetam cautela e baixos cortes de juros.

No Brasil, a decisão sobre a política monetária pelo Copom (Comitê de Política Monetária) costuma ser divulgada entre às 18h e 19h (horário de Brasília) da super quarta. Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, diz que a possibilidade de choques exógenos ainda neste primeiro semestre, tanto em solo brasileiro quanto no exterior, pode exigir maior atenção dos bancos centrais. 

“No caso do Brasil, o fato do Banco Central não ter assumido uma postura de redução progressiva da taxa de juros nas próximas reuniões deixa a autoridade monetária em uma posição mais conservadora e confortável neste momento”, avaliou. 

Cortes de juros na Super Quarta

Nesse patamar, Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, disse que sua projeção para o FED é de estabilidade . “Os investidores buscarão pistas sobre futuros cortes, com expectativas divididas entre março e maio. A reunião de quarta-feira é crucial para antecipar os passos da autoridade monetária americana”, afirma.

Já para a decisão do Copom, o cenário esperado pelo economista não é muito diferente. “No Brasil, não se esperam grandes mudanças, prevendo-se um corte de meio ponto na Selic, reduzindo-a para 11,25%”, completa.

Volnei Eyng, CEO da Multiplike, foi de acordo e fortaleceu e estimativa apontada por Gala. “O mercado já está precificado quanto a este cenário e o início do corte de juros pelo Fed deve iniciar somente em maio, ante a previsão anterior, que apontava para março […] No Brasil, é esperado de uma a duas reduções de meio por cento após a redução do dia 31.”, acrescentou ele.

Gala conclui sua análise destacando que o BC já deve dar sinais de seus próximos passos. “A trajetória de cortes parece manter-se até metade do ano, sem indícios de aceleração, dada a expectativa de inflação ainda acima da meta”, disse.

Fatores de influência

As políticas monetárias definidas pelo Copom e FED são pensadas considerando fatores anteriores e posteriores. Portanto, os economistas chamam atenção à necessidade de acompanhar não apenas o movimento de índices principais, como a inflação, por exemplo, mas também outras causas de impacto econômico que influenciam nas respostas da super quarta.

Simioni avalia que, no Brasil, é preciso entender o “desenho fiscal” adotado, além de questões a serem definidas sobre a pauta tributária. Já no exterior, ele puxa como exemplo os conflitos geopolíticos que podem provocar alteração no valor do petróleo Brent, e por consequência, à inflação. 

“Se esse evento continuar ocorrendo, poderemos ter mais uma potencial pressão inflacionária a ser monitorada, além dos dados da economia americana, incluindo emprego, crescimento e inflação, que o mercado já acompanha para identificar o momento de reversão da atual política monetária”, completa.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, concorda com a análise e reforça a lista de incertezas com as possibilidades de efeitos do El Niño, a reeleição de Donald Trump, bem como a China em desaceleração. Para ele, todos esses aspectos podem contribuir para um discurso cauteloso por parte do BC. 

Em sua avaliação, o comunicado do BC na super quarta não deve trazer novidades quanto ao corte de juros, ou indicação de aceleração no futuro.

“Dificilmente o Banco Central vai entregar toda conquista que ele conseguiu no ano passado por uma questão de pressão do mercado ou pressão do governo ou qualquer outro fator nesse sentido”, disse.

Inflação alinhada à meta

Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, lembra que os números do IPCA-15 (índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE na sexta-feira (26), foiram bem abaixo do que o mercado esperava. O índice fechou em 4,62%, dentro do intervalo da meta de inflação para o ano, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Ao mesmo tempo, o PCE (índice de inflação norte-americano), foi dentro das expectativas. Segundo ela, ambos os dados reforçam sinais de corte, por parte do BC, próximo da taxa de juros dos EUA ao final da super-quarta. 

“Vejo ainda muita cautela nos comunicados recentes e não imagino que o comitê irá para já trazer um indicativo de aceleração, visto que o comprometimento do BC com a ancoragem das expectativas de inflação é relevante”, afirma.

Contudo, ao contrário de Jorge, Kist acredita em um indicativo por parte do BC sobre a intenção da Selic terminal no ano.