Desta vez, a “superquarta” não promete surpresa. De acordo com os especialistas ouvidos pelo BP Money, o cenário está dado. Enquanto na economia nacional o esperado é que haja uma elevação na Selic, a taxa básica de juros, por parte do Copom, lá fora, nos EUA, as expectativas é de que a autoridade monetária norte-americana, o Fed (Federal Reserve), inicie um ciclo de afrouxamento monetário.
Se por um lado, o mercado já sabe o que esperar nas decisões dos respectivos Bancos Centrais (Brasil e EUA), por outro, o mistério se dá em saber a intensidade do corte e afrouxamento.
Aqui no Brasil, Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset, avalia que há uma desancoragem alta e em meio ao “fiscal comprometido”, espera 25 bps na Selic.
“O próprio Banco Central fala que eles são dependentes de dados. Essa é a razão para que não iniciem com uma redução muito forte na taxa para que possam sentir melhor a economia”, avalia o especialista.
O analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen, destaca que é “quase unânime que a Selic vai subir 25 pontos base”.
“A expectativa majoritária do mercado é que o Copom vai falar que a alta vai ser gradual e vão acompanhar os indicadores, ancorar as expectativas. E esse discurso não é errado porque a postura do Banco Central sempre tem sido de não deixar o mercado financeiro nervoso”, justifica.
De acordo com Cohen, entre os fatores que contribuem para essa alta, lista-se a política fiscal no Brasil. “Na minha opinião, o governo ainda não conseguiu trazer credibilidade para o mercado”, ressalta.
“O Banco Central é bem cauteloso nas decisões, não são alarmantes e dificilmente as decisões causam muita surpresa”, completa o economista.
Por que o Brasil não segue a queda dos juros dos EUA?
Para Renato Nobile, analista da Buena Vista Capital explica que o ambiente doméstico enfrenta um cenário complexo da economia norte-americana.
O especialista analisou o cenário econômico atual, destacando que o dólar tem se mostrado “muito mais pressionado para cima” no Brasil desde o início do ano. Segundo ele, o crescimento econômico, “bem acima do esperado pelo próprio mercado”, está concentrado em “maiores gastos por parte do governo”, o que resulta em um mercado de trabalho apertado e em uma inflação elevada.
Nobile observa que, sem uma responsabilidade fiscal adequada, “tanto a questão do câmbio quanto a questão do crescimento econômico pressionam a inflação na banda mais alta”.
O economista acredita que o Banco Central deve promover um corte de juros na faixa de 25 pontos base, e destaca que a política monetária e a responsabilidade fiscal são cruciais para a desvalorização do dólar em relação ao real.
Incerteza sobre juros é menor nos EUA, diz especialista
Para Renato Nobile, as sinalizações feitas pelo Fed permitem uma expectativa mais precisa do nível do afrouxamento monetário, ao passo em que prevê-se um corte de 25 bases.
Nobile caracteriza o Fed afirmando que a autoridade monetária está cada vez mais “data dependent”, uma vez que “dependem dos dados econômicos para tomar a decisão de forma correta e evitar uma desaceleração mais forte na economia”.
Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos, completa ressaltando que para o Fed, entre 70 mil e 80mil de geração de emprego pelo Payroll é adequado para a atividade rodar bem.
“Por outro lado, a taxa de desemprego que chegou em 4,3% em julho voltou a 4,2% em agosto, o que é bom, mas nem tanto. Mesmo com essa queda, a Sahm Rule Recession Indicator saiu de 0,53 para 0,57 e isso é indício de recessão pela assertividade de antecipação histórica do modelo”, contrapõe.
Mercado espera mais agressividade do Fed, mas prevê frustração
Ao BP Money, o economista-chefe Ricardo Martins, e também presidente executivo da APIMEC Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil), avaliou que nesta reunião os agentes do mercado avaliam que cabia ao Fed adotar uma postura mais severa. No entanto, acreditam que a autoridade não deve seguir tal caminho.
“Para o mercado, o Fed já poderia ser mais agressivo cortando 0,5% diante de um mercado de trabalho em desaceleração, mas não em retração, já que não se observam demissões predominantes nessa desaceleração, assim como aumentos substanciais de pedidos de auxílio-desemprego.
Ele ainda ressalta que a autoridade está mais confiante no movimento desinflacionário, mas ainda atento e guardião do CPI, que em agosto mostrou um Núcleo em ascensão, para 0,3% mensal, a maior desde abril, mantendo 3,2% anual.