Todos os olhos e ouvidos dos principais mercados estarão atentos às batidas de martelo em relação às taxas de juros nesta Super Quarta – quando há o alinhamento das reuniões de política monetária no Brasil e nos EUA.
Na prática, o que acontece nesta quarta (20) é a concretização – ou não – das projeções sobre os cortes nas taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve) e pelo BC (Banco Central do Brasil).
Na opinião de especialistas ouvidos pelo BP Money, nesta Super Quarta, o mercado financeiro já sabe o que esperar das decisões em relação aos juros. A grande atenção, portanto, está voltada para as justificativas dos posicionamentos.
De acordo com Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, o índice IEPS – Índice Equus de Precificação da Selic – indica probabilidade de 99% de um corte de 0,5% na Selic – em 10,75% a.a. Ainda segundo o especialista, em relação aos juros nos EUA, é pouco provável que haja cortes.
“A economia americana permanece aquecida, como os últimos dados do payroll demonstram, e a inflação segue ancorada acima da meta do FED, apesar de mostrar sinais de queda. Com esses dados, o mercado passa a contar com um início no corte de juros a partir de junho”, pontuou Vasconcellos.
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, reforça a expectativa de redução na taxa básica de juros no Brasil e estabilidade na economia norte-americana. O especialista explica que, nos EUA, o Fed deve adotar posicionamento neutro, enquanto, no BC, a curiosidade gira em torno das reduções futuras.
“O Fed deveria ter uma redação que retire do mercado a ansiedade por uma queda já em maio. No caso do BC, a curiosidade do mercado está em torno da expectativa de redução futura da taxa de juros – se continuará nas próximas reuniões e em qual magnitude”, analisou Simioni.
“Ao contrário de grande parte do mercado, sempre acreditamos que o ciclo de redução da Selic deveria se encaminhar para uma manutenção com os juros próximos de 10%, no limite em 9,75%, uma vez que as ressalvas da autoridade monetária realizada na última ata ainda são válidas”, completou Simioni.
Ainda segundo o economista-chefe da Blue3, na visão do Copom, “a redução de esforço das reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm potencial para promover a elevação da taxa neutra de juros da economia, com impactos negativos sobre o esforço de política monetária até o momento empregado, reduzindo a desinflação, em termos de atividade”.
Apesar da ansiedade em torno das quedas nas taxas de juros de forma mais acelerada, na visão de Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, os dois bancos centrais têm atuado “de forma assertiva, observando com parcimônia o comportamento da inflação, diante de economias que tem se mostrado bastante resilientes”
EUA: expectativa de início de cortes em junho caiu 50%
“O mercado mantém a projeção de um início de corte de juros pelo Fed em junho, porém, a probabilidade caiu para 50%”, explica o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
A aposta de Eying é de uma desaceleração gradual e controlada da atividade econômica norte-americana e de três cortes de 0,25% na taxa de juros começando em junho.
Felipe Vasconcellos, por sua vez, afirma que é improvável que o Fed reduza as taxas de juros no dia 20, conforme previsto em 2023 e que o início do corte de juros deve se dar a partir de junho.
Carlos Hotz, planejador financeiro e fundador da A7 Capital, chama atenção para o PCE (Índice de Preços de Gastos com Consumo), que, convergindo para abaixo de 2,5% até junho, pode dar tranquilidade para o Fed sinalizar uma queda.
“Se inflação estiver convergindo para o que eles buscam, ja podem iniciar queda de juros. Enxergo essa inflação convergindo para 2,5% e com isso ja podemos ter primeira sinalização de queda. Muito provavelmente o FED vai dar a primeira dose do remédio e não deve fazer cortes sequentes, comoa contece aqui no Brasil”, opina Hotz.
No Brasil, esforço para conter inflação é maior que o esperado
Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, indica que os esforços para reduzir a inflação no Brasil serão maiores do que o que havia sido antecipado.
Apesar das commodities agrícolas registrarem forte queda no ano e as ofertas de soja e milho estejam se regularizando, o fortalecimento do mercado de trabalho oferece resistência.
“O mercado de trabalho segue muito forte, tanto nas contratações como em salários. A massa salarial real tem crescido a um ritmo que não ajuda a desacelerar a inflação de serviços e acende uma luz amarela. Os holofotes estão todos voltados para os serviços subjacentes nas próximas leituras de IPCA”, diz Saadia.