A primeira superquarta do ano chegou, e os olhares do mercado financeiro estão voltados para as decisões do Federal Reserve (Fed) e do Banco Central do Brasil (BC). As expectativas giram em torno das taxas de juros e das sinalizações sobre o rumo da política monetária nos próximos meses.
Nos Estados Unidos, o Fed deve manter a taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, encerrando um ciclo de cortes. No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve elevar a Selic para 14,25% ao ano, em linha com os últimos comunicados do BC.
Mas o que realmente importa para os investidores são os sinais que os dirigentes dessas instituições darão sobre o futuro.
Superquarta nos EUA: Powell e a reação do mercado financeiro global
De acordo com análise de José Maria, coordenador de estratégia da Avenue, é praticamente certo que o BC norte-americano não fará nenhuma alteração na taxa de juros do país.
“O próprio FED está em um posicionamento de ‘wait and see‘, de espera para ver mais desenvolvimentos antes de tomar a sua próxima decisão, após um ciclo onde efetivamente já cortou 100 pontos base. Então, por esse lado, a expectativa é de que não vai acontecer nada”, explica o especialista.
A decisão do Fed acontecerá às 16h (horário de Brasília), e Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano, falará em entrevista logo em seguida. A grande questão é: haverá mudanças na política monetária nos próximos meses?
Segundo o coordenador de estratégia da Avenue, as falas de Powell serão dissecadas pelo mercado e são mais aguardadas que a própria decisão. Isso porque, a autarquia estadunidense está em uma das posições mais difíceis dos últimos anos.
“Dado o cenário atual da taxa de juros e as expectativas de inflação no mercado, que depois de terem vindo de um nível elevado para um nível mais baixo, elas basicamente ficaram estagnadas por volta dos 3%, ainda relativamente longe da meta dos 2%, e pressionadas por implementação de políticas que podem vir a ser inflacionárias, como é o caso das políticas tarifárias”, diz José Maria.
A projeção de manutenção dos juros até 2025 ainda encontra-se em um cenário de incerteza, mas os últimos dados de inflação e emprego nos EUA aumentaram a expectativa de que o Fed possa adotar uma postura mais rígida.
Além disso, os investidores também analisam o cenário político, já que a decisão acontece após os primeiros dias do novo mandato de Donald Trump.
Selic em alta: impacto no real e nos investimentos
No Brasil, as expectativas para a Selic estão alinhadas com o “forward guidance” emitido anteriormente pelo Comitê, que já havia sinalizado essa elevação.
Segundo Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, em seu comunicado, o Copom deve indicar que antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros na reunião de maio, refletindo o estágio avançado do ciclo de aperto monetário, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante.
Já para o economista Maykon Douglas, existem boas possibilidades de o Comitê não antecipar a magnitude do próximo ajuste, em maio, mas no momento projeto que a próxima elevação será de 75 bps.
“A recente apreciação do real (que pode melhorar ligeiramente as projeções do Copom) deve acabar vista com cautela, diante dos riscos para a política econômica nos EUA e a dinâmica macro por lá”, destaca Douglas.
No Brasil, o Banco Central divulga sua decisão a partir das 18h30 (horário de Brasília), e a previsão é de um aumento de 1 ponto percentual na Selic. O mercado já espera esse movimento, mas o grande foco estará no comunicado pós-reunião, que pode indicar o ritmo dos próximos ajustes.
Reação do mercado e possíveis movimentações
Para Gustavo Araújo, economista, CEO do Poupa Brasil Investimentos e fundador do Limen, hub de negócios, a inflação no Brasil continua sendo uma preocupação, o que justifica a política de aperto monetário do Copom.
Ainda de acordo com ele, setores como varejo, construção civil e indústria podem sentir o impacto direto dos juros mais altos, que encarecem o crédito e podem desaquecer as atividades econômicas.
Além de Araújo, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos destaca que com essa elevação da Selic, investimentos como títulos públicos e CDBs, podem ficar ainda mais atrativos, oferecendo retornos maiores aos investidores de renda fixa.
Por outro lado, setores da economia que dependem de crédito, como o imobiliário e o de consumo, podem enfrentar desafios devido ao encarecimento dos empréstimos.
Em suma, vale ressaltar a importância de acompanhar atentamente os comunicados pós-reunião dessa superquarta, pois qualquer sinalização sobre futuras movimentações nas taxas de juros já tendem a influenciar significativamente as estratégias de investimento e a dinâmica do mercado.