Foto: Banco Central do Brasil/Reprodução
Foto: Banco Central do Brasil/Reprodução

A última superquarta de 2025 chega nesta terça-feira (9) com expectativas bem definidas nos dois lados do continente. O Comitê de Política Monetária (Copom)deve manter a Selic em 15% ao ano pela quarta vez seguida. Enquanto isso, o Federal Reserve (Fed) caminha para o terceiro corte consecutivo, reduzindo a taxa americana em 0,25 ponto percentual.

As decisões serão divulgadas nesta quarta-feira (10). O Fed anuncia por volta das 15h (horário de Brasília) e o Copom às 18h30. O contraste entre os dois países evidencia trajetórias distintas: enquanto os EUA avançam no afrouxamento monetário, o Brasil segue com juros no maior nível em quase duas décadas.

Brasil mantém postura cautelosa

A manutenção da Selic em 15% já é consenso entre investidores, o termômetro do Copom, que acompanha expectativas por meio de opções negociadas na bolsa, mostra que 97% apostam na estabilidade.

Bruno Perri, economista-chefe e sócio-fundador da Forum Investimentos, também prevê estabilidade. Além disso, ele aponta fatores que dificultam o início das reduções. “A inflação de serviços ainda resiliente, o mercado de trabalho apertado e uma política fiscal teimosamente expansionista mantêm o BC cauteloso”, afirma.

Perri acredita que o Copom pode iniciar o ciclo de cortes em 2026, mas evita cravar datas. “Vamos observar o tom do comunicado e até que ponto ele sugere a possibilidade de cortes já em janeiro”, diz.

Por que os juros seguem tão altos no Brasil?

Para analistas, a Selic em 15% reflete questões estruturais. “Se o BC não combater a inflação de forma firme, o desfecho pode ser pior. Uma dinâmica aceleracionista teria um custo muito maior para convergir à meta”, explica Perri.

O economista acrescenta que o Banco Central mantém postura técnica diante de um cenário fiscal adverso. “Com despesas do governo crescendo rapidamente, a demanda agregada aumenta. Isso dificulta o trabalho do BC e pressiona os juros de mercado”, observa.

Fed mantém trajetória de cortes

Nos Estados Unidos, o cenário é diferente. O FedWatch, ferramenta da CME, atribui 87% de probabilidade a um novo corte de 0,25 ponto. Assim, a taxa americana deve cair para o intervalo entre 3,5% e 3,75%.

“Para o Fed, vemos como cenário-base um corte de 25 pontos-base. Os núcleos da inflação seguem convergindo para a meta e o mercado de trabalho perde fôlego”, analisa Perri.

Esse movimento tende a favorecer mercados emergentes, como o Brasil. Taxas mais baixas nos EUA reduzem a atratividade dos ativos americanos e podem estimular a entrada de capital estrangeiro, diminuindo a pressão sobre o dólar.

O que esperar para 2026

As projeções divergem para o próximo ano. Perri avalia que o Fed pode pausar o ciclo já na primeira reunião de 2026. “Surpresas negativas no mercado de trabalho ou leituras benignas de inflação podem mudar esse cenário”, diz.

No Brasil, a expectativa é de cortes graduais. “O Copom deve iniciar o ciclo sobretudo se os indicadores de atividade continuarem perdendo força”, afirma o economista.

Onde investir com Selic a 15%

Com a taxa básica no nível atual, investimentos pós-fixados permanecem interessantes. “Mas, antecipando um ciclo de cortes possivelmente com piso elevado ao longo de 2026, vemos boas oportunidades em pré-fixados de 2 a 3 anos e, principalmente, em títulos indexados à inflação de prazos mais longos”, recomenda Perri.

A decisão desta quarta deve confirmar as expectativas, mas o mercado acompanhará de perto os comunicados de Copom e Fed em busca de sinais sobre os movimentos de 2026.