
A isenção de 694 produtos das tarifas de 50% contra o Brasil impostas pelos EUA anunciada na quarta-feira (30) pelo presidente americano Donald Trump, está fazendo muitos investidores dormirem aliviados. As exceções englobam boa parte das exportações brasileiras, incluindo itens fundamentais para muitas companhias da Bolsa.
A Suzano (SUZB3) reagiu muito bem, já que estava entre as mais penalizadas desde o anúncio do tarifaço no início do mês. Ela exporta celulose para os EUA. Agora, a commodity (madeira de lei de eucalipto) está fora da retaliação.
O BTG Pactual destaca em relatório que a companhia seria uma das mais impactadas pela medida, porque possui quase 15% de sua receita atrelada aos EUA. Com a isenção da celulose, não precisará desviar os volumes de exportação para outros mercados, tornando mais desafiador em um momento de baixa demanda global, diz o banco.
O banco reiterou a recomendação de compra para a SUZB3, com preço-alvo de R$ 73 por ação. Isso representa um potencial de valorização de 40,8% em relação ao preço de fechamento da véspera.
A decisão de Trump em relação à celulose é tida como razoável pelo BTG. Segundo dados da Fastmarkets, os EUA importam anualmente 2,8 milhões de toneladas de celulose de fibra curta; 80% desse montante vem do território brasileiro. “A imposição de uma tarifa de 50% poderia ter um impacto significativo sobre os consumidores finais, gerando uma pressão inflacionária”, destaca o relatório.
Goldman Sachs e Morgan comentam alívio da celulose
A decisão de isentar a celulose foi bem recebida tanto por estrategistas quanto investidores. O banco de investimentos americanos, Goldman Sachs, analisou que a celulose foi o ponto mais relevante da lista de exceções. A Suzano (SUZB3), classificada como compra pelo banco, é a empresa que seria mais exposta aos EUA dentro da cobertura do banco, já que 20% das vendas são destinadas ao país.
Embora a celulose seja uma commodity de fácil redirecionamento logístico, o banco havia alertado para obstáculos comerciais e de cadeia de suprimentos no curto prazo, o que poderia afetar o sentimento dos compradores e pressionar os preços. A notícia é um alívio para a estratégia comercial da empresa brasileira e pode favorecer negociações com clientes chineses.
O Morgan Stanley reforça essa avaliação ao lembrar que o país americano é altamente dependente da celulose de fibra curta cujo principal produtor é o Brasil. De acordo com o banco, o país sul-americano respondeu por quase 40% das importações de celulose dos EUA em 2024, o que explica a inclusão do produto na lista de isenção tarifária.
Alívio tem limite
O alívio não se estendeu a todos os setores. O Goldman Sachs destaca que as tarifas de 50% sobre o aço, com base na Secção 232 (S232) – que permite ao presidente americano impor tarifas a importações que ameacem a segurança nacional –, seguem em vigor.
Apesar disso, Morgan afirma que as exportações brasileiras de placas continuam competitivas, dado que os preços do aço laminado a quente nos EUA seguem acima de US$ 800 por tonelada. Por isso, a expectativa é que o fluxo comercial continue.
Uma outra surpresa, porém, negativa, foi a retirada da tarifa de 50% sobre o cobre refinado, que o mercado esperava que fosse implementada de forma ampla. A isenção provocou um colapso nos prêmios entre os mercados da Comex (bolsa de futuros de metais dos EUA) e da LME (Bolsa de Metais de Londres), com queda de 17% e 1%, respectivamente, de um dia para o outro.
Embora o recuo dos prêmios possa trazer consequências negativas aos preços de referência do cobre, o Goldman Sachs enxerga oportunidade para investidores em ações ligadas à commodity. O banco acredita que os estoques globais estão normalizados e que a desaceleração esperada no segundo semestre não seria suficiente para gerar excedente de oferta.