O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender a imposição de tarifas mínimas de 10% sobre importações vindas de mais de 160 países.
Segundo ele, a medida busca restaurar o equilíbrio comercial e garantir a “reciprocidade” nas trocas internacionais.
Para justificar essa decisão, Trump argumenta que os EUA pagam tarifas muito mais altas do que recebem de seus parceiros.
No entanto, esse raciocínio desconsidera nuances importantes da estrutura tarifária de países em desenvolvimento, como o Brasil.
Diferença entre tarifas nominais e efetivas
De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil possui uma alíquota média de importação de 11,2%, enquanto a dos EUA é de 3,3%.
Esses números, embora verdadeiros, refletem apenas as tarifas nominais previstas por lei.
Na prática, no entanto, esse valor raramente é pago pelas empresas.
Isso ocorre porque o Brasil adota uma série de incentivos e regimes especiais que reduzem o imposto efetivamente aplicado sobre produtos importados.
Dessa forma, o que está no papel nem sempre corresponde à realidade comercial.
Tarifa de importação é menor com incentivos no Brasil
Um levantamento feito pela economista Marta dos Reis Castilho, da UFRJ, mostra que a tarifa média paga sobre todas as importações que chegaram ao Brasil em 2024 foi de 4,8%.
Mas, quando se considera apenas os produtos vindos dos Estados Unidos, essa tarifa efetiva cai ainda mais: apenas 2,9%.
Esse número, portanto, está abaixo dos 3,3% cobrados pelos EUA — o que desmonta o argumento da “injustiça” nas relações bilaterais.
Especialista destaca diferenças estruturais
Castilho explica que países em desenvolvimento, como o Brasil, têm estruturas produtivas menos competitivas.
Por isso, suas tarifas nominais tendem a ser maiores.
No entanto, ela ressalta que, com os incentivos vigentes, a tarifa efetiva brasileira se aproxima da dos EUA.
“Mesmo com cadeias produtivas menos internacionalizadas, a média da tarifa efetiva no Brasil é significativamente mais baixa do que parece”, afirma a economista.
Tarifa de importação já é equilibrada entre Brasil e EUA
Embora o discurso protecionista de Trump encontre eco em parte do eleitorado americano, os dados mostram que o Brasil não impõe tarifas excessivamente altas aos EUA.
Pelo contrário, a alíquota média efetiva é até menor.
A retórica das “tarifas recíprocas”, portanto, não se sustenta quando se observam os números reais.
O comércio bilateral Brasil-EUA já opera com equilíbrio tarifário, ainda que os valores nominais indiquem o contrário.