RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de desemprego no Brasil recuou para 13,2% no trimestre encerrado em agosto, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (27).
Conforme o instituto, a baixa foi puxada pelo aumento de pessoas ocupadas, principalmente em postos de trabalho informal. A abertura de vagas, contudo, veio acompanhada por quedas recordes, em termos percentuais, no rendimento médio.
Ou seja, houve maior geração de empregos, mas com uma renda inferior. Isso guarda relação com a volta do trabalho informal, que costuma registrar salários menores, e a inflação mais alta.
No trimestre anterior, até maio, a taxa de desemprego estava em 14,6% (1,4 ponto percentual acima da mais recente). O indicador era de 14,4% no intervalo de junho a agosto de 2020.
Com o novo resultado, o número de desempregados foi estimado em 13,7 milhões no país. O resultado representa baixa de 7,7% (menos 1,1 milhão de pessoas) ante o trimestre terminado em maio e indica estabilidade na comparação anual.
Os dados são da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
Pelas estatísticas oficiais, um trabalhador é considerado desocupado quando não está atuando e segue em busca de novas oportunidades, com ou sem carteira assinada ou CNPJ.
A taxa de desemprego até agosto (13,2%) veio um pouco abaixo do nível esperado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam indicador de 13,4%.
No trimestre, a população ocupada chegou a 90,2 milhões de pessoas. A marca significa alta de 4% (mais 3,5 milhões de pessoas) ante maio e crescimento de 10,4% (mais 8,5 milhões) no ano.
Dos 90,2 milhões de ocupados, 53,1 milhões (58,9%) trabalhavam de maneira formal. Os demais 37,1 milhões (41,1%) eram informais.
Em relação ao trimestre anterior, até maio, é possível observar um aumento mais consistente no grupo de trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ. A alta foi de 6,9% (mais 2,4 milhões).
Na mesma base de comparação, o avanço foi de 2,1% entre os formais (acréscimo de 1,1 milhão).
De acordo com a pesquisadora Adriana Beringuy, coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE, a vacinação contra a Covid-19 e a reabertura das atividades econômicas vêm estimulando a retomada da população ocupada.
“A expansão da ocupação fez com que a taxa de desocupação cedesse.”
O IBGE ponderou que o rendimento real habitual dos trabalhadores ocupados recuou para R$ 2.489 no trimestre até agosto. A marca corresponde a quedas de 4,3% frente ao trimestre anterior (R$ 2.602) e de 10,2% frente a igual período de 2020 (R$ 2.771).
Segundo o instituto, as baixas foram as maiores em termos percentuais na série histórica, iniciada em 2012, em ambas as comparações.
“A população ocupada está avançando, mas ainda há indicadores associados à força de trabalho que apresentam um quantitativo desfavorável. A gente está operando, por exemplo, com rendimento em queda”, afirmou Adriana.
O número de trabalhadores por conta própria voltou a bater recorde, atingindo 25,4 milhões. A quantia soma a fatia que atua com CNPJ (6 milhões) e a parcela sem o registro (19,4 milhões), a mais numerosa.
“O mercado de trabalho está em uma situação melhor do que no começo da pandemia, mas ainda se encontra em um patamar muito negativo se comparado a antes da crise”, aponta o economista Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
“A melhora recente deve ser comemorada, mas a gente tem um longo caminho pela frente.”
A chegada da pandemia, em 2020, atingiu em cheio o mercado de trabalho. Com as restrições e a paralisação de empresas, houve destruição de vagas em diferentes setores, e mais brasileiros foram forçados a procurar emprego.
Na visão de analistas, a melhora consistente do quadro depende em grande parte do desempenho do setor de serviços. Esse segmento, o principal empregador do país, sofreu com as restrições na crise porque reúne atividades dependentes da circulação de clientes.
Bares, restaurantes, hotéis e eventos são exemplos de serviços prejudicados pelo coronavírus. As atividades, agora, têm expectativa mais positiva devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19.
Contudo, o aquecimento da economia como um todo, necessário para a melhora do mercado de trabalho, é colocado em xeque por uma série de dificuldades. A preocupação de parte dos analistas com o cenário macroeconômico ganhou força na semana passada.
O motivo foi a decisão do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400, entre outras despesas, como emendas parlamentares.
O ruído fiscal já derrubou projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) do próximo ano. Analistas entendem que a incerteza com as contas públicas deve gerar reflexos na taxa de câmbio. Com o dólar mais alto, a tendência é de novas pressões sobre a inflação e a taxa de juros.
“De fato, ainda há um contingente de desempregados muito alto. São 13,7 milhões de pessoas. O quanto elas vão ser afetadas para conseguir ocupação vai depender da dinâmica da economia. A gente sabe que a questão do juro, da inflação, acaba comprometendo planos de expansão de investimentos”, comentou Adriana Beringuy, do IBGE.
Em meio ao ruído fiscal, o Itaú Unibanco, por exemplo, passou a estimar recessão em 2022, com baixa de 0,5% no PIB. A previsão anterior era de avanço de 0,5%.
Essa contração da atividade econômica deve levar o país a uma taxa de desemprego de 13,3% ao fim do próximo ano, relatou o banco na segunda-feira (25). A marca é maior do que a projetada anteriormente pelo Itaú (12,6%).
O economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre, também chama atenção para os riscos trazidos pela piora no cenário macroeconômico.
“No curto prazo, é possível imaginar novos resultados positivos no mercado de trabalho. Mas a sustentação dessa retomada depende muito da atividade econômica, e a gente tem visto uma série de revisões”, diz.
“Um cenário de fragilidade econômica pode colocar em xeque a retomada do emprego. Isso liga o sinal de alerta.”