Comércio mundial

‘Temos uma nova ordem global’, diz Campos Neto

O ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, tentou "encontrar uma lógica" para o tarifaço de Trump, mas teve dificuldades

Roberto Campos Neto / Foto: Advance: Investindo para o Amanhã
Roberto Campos Neto / Foto: Advance: Investindo para o Amanhã

Em um momento tomado por preocupações e incertezas quanto ao andamento da economia mundial, enquanto os EUA e a China se enfrentam em uma guerra comercial, o ex-presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que “depois de Trump, temos uma nova ordem global”.

O economista tentou, durante seu discurso no Advance 2025: investindo para o amanhã, que ocorreu nesta sexta-feira (11), “encontrar uma lógica” para a política tarifária do presidente dos EUA, mas teve dificuldades.

“O que significa isso, essa guerra tarifária? Vou fazer um esforço muito grande para tentar achar alguma lógica no que está acontecendo. Não sei se vou conseguir. Tentei olhar todos os tratados comerciais do passado e se alguma coisa conseguia identificar como se fosse lógico. E algo aparece em vários tratados, desde a Segunda Guerra Mundial, o Plano Marshall”, disse Campos Neto.

Em sua explicação, o executivo detalhou o que foi o plano de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, onde os EUA aceitaram acordos com condições de tarifas não recíprocas, com o objetivo de tornar o dólar a moeda mais circulada, visto que ela seria usada no comércio.

Além disso, o ex-presidente do BC também comentou sobre a extensão do tarifaço de Trump para uma guerra comercial entre os EUA e a China, o que, no seu entendimento, se trata de uma tentativa dos norte-americanos de isolarem o país asiático. 

“Vemos que está acontecendo nos últimos tempos. Se isso vai funcionar ou não, acho que ainda temos cenas do próximo capítulo”, acrescentou.

Países emergentes têm mais oportunidades de recursos no momento, avalia Campos Neto

Paralelo aos impactos do tarifaço e da guerra comercial, Campos Neto também avaliou o estado atual da economia mundial, com os níveis das taxas de juros ainda altos, enquanto as dívidas dos países também se mantêm.

“Eventualmente, temos que entender que o mundo vai ter dívida, o que exige um juros mais alto, porque se eu tenho mais dívidas, meu risco é maior. Ao mesmo tempo, temos que entender também que, à medida que o juros está mais alto, é mais difícil captar recursos”, explicou o economista.

Conforme a avaliação de Campos Neto, os países ricos foram os que mais tiveram gastos, por isso, os países mais pobres — ou os emergentes —, nesse momento, são os que têm mais possibilidade de recursos. Porém, se trata de um recurso “muito mais caro”. “O mundo está endividado e a questão é como reduzir a dívida”, disse.

Campos Neto explicou que há três formas de fazer esse processo: com o crescimento da economia — o que não é fácil, segundo o próprio — ou com o aumento da cobrança de impostos — o que ele afirmou causar um problema, por conta da curva de impostos, que em algum momento pode surtir um efeito contrário.  

“Ou podemos cortar gastos. Cortar gastos é a parte mais difícil, acho que todo mundo sabe disso, todo mundo está vendo a realidade do Brasil”, criticou o ex-presidente do BC.