BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – “A transparência é o maior problema dentro do ESG e a razão para isso é que as empresas não entendem o que estão sendo solicitadas”. A avaliação é de Meagan Tenety, consultora de ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa) da Nasdaq, a segunda maior Bolsa de Valores do mundo.
Segundo ela, existe hoje uma desconexão entre o que os investidores estão procurando e a forma como as companhias estão gerenciando suas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.
“As empresas estão tentando responder a uma pergunta diferente da que está sendo feita pelos investidores”, afirmou Tenety, durante evento online promovido pela XP Investimentos.
Na visão dela, a falta de transparência é um sintoma, e a causa é que as organizações estão confusas sobre como administrar o ESG apropriadamente.
Ela citou o exemplo de uma empresa de energia geotérmica com a qual trabalhou recentemente na Nasdaq. A companhia já era sustentável por natureza e tinha ótimas iniciativas climáticas, mas continuava se concentrando no pilar ambiental, relatou.
Segundo Tenety, as fraquezas estavam justamente em entender como as questões sociais e de governança poderiam ser cruciais para a continuidade do negócio.
De acordo com a consultora, gestores de fundos estão usando o ESG como uma “proxy” [aproximação] para o risco de investimento. E, nessa análise, não é só o pilar ambiental que conta.
“Se o seu trabalho é tecnologia e você não está garantindo que terá os funcionários e programadores mais inteligentes na sua companhia, você vai perder vantagem competitiva. Investidores estão olhando tópicos como a gestão de capital humano para ter uma noção dos riscos que um negócio pode ter”, disse.
Durante o evento, Tenety também comentou sobre a forma como o mundo corporativo tem olhado para a crise do clima.
Na visão dela, as empresas precisam entender não só como impactam o meio ambiente, mas como podem ser impactadas pelas mudanças climáticas.
“Digamos que uma organização trabalha com matéria-prima de uma área que está exposta a eventos climáticos extremos. É preciso entender isso como um risco para a continuidade do negócio”, afirmou.
Além dos riscos físicos, Tenety também mencionou as possíveis consequências financeiras que a transição climática deve trazer.
“Gostemos ou não, vamos ter que mudar nossas fontes de energia na próxima década para conseguir salvar o planeta. Isso trará impactos financeiros genuínos para as empresas.”
Outro tema abordado foi a cibersegurança. A consultora lembrou de casos recentes de ransomware nos Estados Unidos, um tipo de ataque digital em que criminosos acessam sistemas, sequestram dados e máquinas e os liberam apenas mediante resgate.
Para ela, o que há de especial nesses episódios é que os criminosos entram nos sistemas corporativos sem gastarem tempo tentando hackear os computadores.
“Eles basicamente mandam emails que alguém da empresa eventualmente vai clicar e, de repente, já estão lá dentro”, diz. Esse tipo de técnica é conhecida como phishing.
De acordo com Tenety, a segurança das informações e dos sistemas de uma empresa já figuram como critérios importantes na avaliação de risco feita por gestores.
“Uma das áreas que os investidores estão interessados em entender é a força dos programas de phishing das companhias. Como elas estão ensinando seus funcionários comuns, que não são experts em cibersegurança, sobre a importância do tema”, afirmou.