Os EUA têm uma relação delicada com a China há muito tempo. Esses laços têm ficado ainda mais tensos, gerando certa preocupação entre os especialistas. Com isso, no momento, está sendo observada a possibilidade de Donald Trump (ex-presidente norte-americano) ganhar as eleições no país e os impactos de uma possível política que ele poderia adotar.
Em 2023, foram publicados vídeos em que Trump divulgava suas promessas de campanha. Dentre elas, ele apresentou um plano de quatro anos para eliminar gradualmente todas as importações chinesas de bens essenciais.
Além disso, o candidato também declarou que iria impedir a China de comprar dos EUA e interromper o investimento de empresas norte-americanas no país asiático, conforme informado pela “CNN”.
Nesse sentido, Bruna Allemann, economista e chefe de investimentos internacionais da Nomos, nos alerta sobre a chegada de uma possível “política de confronto”.
“Durante a presidência dele, ele adotou uma postura muito agressiva contra a China. Então, ele impôs tarifas comerciais, controle de exportação, entre outros”, comentou a economista.
Com isso, ela destaca que o retorno de Trump à presidência pode significar uma intensificação dessas políticas.
Recentemente, Trump chegou a declarar que Joe Biden, o então presidente norte-americano, deveria adotar medidas mais rígidas. A afirmação veio após o governo de Biden anunciar sanções a determinados produtos comercializados pelo país asiático.
Esses produtos estavam diretamente relacionados a semicondutores de alta tecnologia, um tópico sensível quando posto para ser dialogado entre os dois países, que têm intensificado seus esforços para assumir a liderança no setor.
O receio de uma corrida geopolítica tecnológica
Os EUA instauraram medidas que proibiram a China de comprar chips de alta tecnologia da Nvidia (NVDA). Contudo, foi descoberto no início de 2024 que as Forças Armadas chinesas e institutos de inteligência artificial controlados pelo governo chinês adquiriram semicondutores da empresa.
Após isso, os EUA aumentaram as restrições sobre as vendas de chips para o país. Contudo, mesmo com os “empecilhos”, as relações políticas seguem sem grandes rusgas públicas entre o governo chinês e o dos EUA.
Por outro lado, com um pulso mais forte, Trump já escancarou que pretende restringir a propriedade chinesa da infraestrutura dos EUA, como energia, tecnologia, telecomunicações e afins.
“Quando eu for presidente, garantirei que o futuro da América permaneça firmemente nas mãos dos americanos, assim como fiz quando fui presidente antes”, disse ele em vídeo de campanha. “Segurança econômica é segurança nacional”, acrescentou.
A China já anunciou sua intenção com o “Big Fund”, o seu maior investimento em tecnologia com foco na construção de semicondutores. O seu objetivo é ser autônoma e liderar o setor. Alinhado a isso, o país está passando por um processo muito claro de “desdolarização”.
O que tem incomodado os EUA e, especialmente, o candidato à presidência Donald Trump.
Trump ganhou a última eleição ‘apelando ao protecionismo’, diz especialista
“O Trump obteve vitória na primeira eleição apelando para o eleitorado americano em favor do protecionismo, criticando a globalização, criticando uma espécie de elite por detrás das instituições”, explicou ao BP Money Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais e Cientista Político.
Feijó aponta que essa movimentação repercutiu a seu favor, pois a economia norte-americana passava por dificuldades (ainda passa). “A competitividade crescente de outros países do mundo gerou uma perda de mercado de trabalho”, disse ele.
“Além disso, ele usou indiretamente o poderio americano para impedir quaisquer trâmites na OMC de críticas ao protecionismo de seguirem, já que os tribunais de recursos e de análise precisam de nomeação de representantes dos estados”, completou.
Trump apoia fortemente Taiwan
Trump sempre demonstrou forte apoio a Taiwan. A questão é que a região é uma província que a China entende que um dia pode “voltar para os seus braços”.
Contudo, o professor Feijó explica que os EUA têm um tratado com Taiwan, que é basicamente uma promessa de sete princípios de “congelar a situação” que ela tem com a China.
“Isso envolve, dentre outras coisas, vender armas para que Taiwan tenha capacidade de se defender diante da China, mas eles não são aliados. Essa aliança que existiu até a década de 70 foi abandonada em favor da política de uma só China. Portanto, os Estados Unidos não podem prometer, por tratado, defender militarmente Taiwan”, explicou o professor.
Por outro lado, a economista Allemann diz que Trump sempre mostrou forte apoio a Taiwan.
“Ele estava apoiando efetivamente, fortalecendo os laços diplomáticos e, eventualmente, para se Taiwan quiser, entrar numa guerra contra a China”, pontuou ela. Além disso, Bruna Allemann traz uma questão: Taiwan é o maior fabricante de semicondutores do mundo.
Esse alerta vem porque, considerando o histórico de Trump e um possível cenário em que ele seja reeleito, é credível que uma das investidas para frear o desenvolvimento tecnológico da China seria fortalecer a chamada “província rebelde” chinesa.
Mas, pela região concentrar os maiores polos de fabricação de semicondutores, considerando o fato de que cerca de 80% dos países dependem dessa produção, as relações internacionais ficariam ainda mais delicadas.
“O mundo inteiro depende de Taiwan para parte dos semicondutores, os chips de altíssima tecnologia e velocidade. Mais de 70% deles seguem produzidos em Taiwan, e qualquer disrupção por causa de um conflito nesse fornecimento global afetaria toda a tecnologia, todo o abastecimento e todo o investimento para o longo prazo”, complementou o professor Feijó.