
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira (18) uma ordem executiva que recomenda afrouxar regras federais sobre a maconha. O governo quer reclassificar a cannabis em uma faixa considerada menos perigosa, ao lado de analgésicos comuns.
Hoje, a maconha ocupa a mesma categoria federal de drogas como heroína e ecstasy. Para Washington, essa equivalência impede avanços científicos e limita pesquisas clínicas. Por isso, a nova orientação tenta destravar estudos sobre riscos, uso medicinal e efeitos terapêuticos.
O que a revisão científica revela
Enquanto o debate político avança, a ciência demonstra cautela. Uma revisão do Journal of the American Medical Association (JAMA) analisou 124 pesquisas publicadas entre 2010 e 2025. O estudo concluiu que a evidência sólida existe apenas para indicações muito específicas.
Além disso, os autores destacam que a maioria dos usos populares ainda carece de provas consistentes. Muitos tratamentos não passaram por estudos robustos o suficiente para garantir eficácia.
Benefícios comprovados
Os resultados mais confiáveis aparecem em contextos restritos.
Entre eles:
- Epilepsias pediátricas raras e refratárias, como Dravet e Lennox-Gastaut, tratadas com canabidiol purificado.
- Controle de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, usando canabinoides sintéticos.
- Estímulo ao apetite em pacientes com HIV/AIDS, ainda que com efeitos moderados.
Especialistas pedem equilíbrio
Para o psiquiatra Vinicius Barbosa, do Sírio-Libanês, o estudo reorganiza o debate.
Segundo ele, a revisão separa expectativas exageradas de dados sólidos.
Além disso, Barbosa lembra que grande parte do uso atual permanece fora de bula. Sem ensaios clínicos amplos, a indicação médica se apoia em estudos pequenos, relatos de caso ou observação clínica.
No Brasil, o tema também ganhou impulso. Em novembro de 2025, a Anvisa autorizou a Embrapa a cultivar cannabis exclusivamente para pesquisa. Esse avanço permite estudos nacionais sob rígido controle regulatório.
A decisão surge em um cenário global de expansão do uso medicinal. Contudo, especialistas reforçam que evidência científica ainda é o ponto central do debate.
O desafio das próximas etapas
Além disso, a flexibilização regulatória nos EUA pode ajudar laboratórios, universidades e empresas a ampliar investigações sobre cannabis e derivados.
Em resumo, a mudança proposta por Trump pode acelerar a produção de evidências médicas. Entretanto, a ciência ainda sustenta uma mensagem clara: o entusiasmo precisa caminhar com rigor e comprovação.