Com a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, surgem algumas questões em torno de suas promessas de campanha. Uma das propostas mais frequentes é o aumento de tarifas e embargos à China, reforçando o protecionismo.
Os EUA e o governo chinês têm uma longa história de disputas, com os norte-americanos tentando conter o avanço tecnológico chinês e a China investindo no segmento de semicondutores, buscando independência e expansão nesse mercado.
“A China está mais preparada este ano para o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Em 2016, o governo chinês, como o resto do mundo, foi pego de surpresa com a vitória do republicano”, afirmou Leandro Manzoni, analista de economia do Investing, em entrevista ao BP Money.
Vale lembrar que o atual governo, liderado pelo democrata Joe Biden, manteve as tarifas impostas no primeiro mandato de Trump. “A administração Biden restringiu investimentos de empresas americanas em indústrias de alta tecnologia na China, incluindo semicondutores avançados, afetando também as exportações desses produtos para o mercado chinês”, comentou Manzoni.
No atual cenário, a China pode se reposicionar em termos de alianças, especialmente na América Latina, buscando expandir negócios na região. O cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirmou que o Brasil pode aproveitar essa movimentação estrategicamente.
‘Conduta de Trump em relação à China é mais retórica do que a dos Democratas’, diz analista
“É importante notar que a conduta de Trump em relação à China é mais retórica do que a dos Democratas. No entanto, preocupações com a ascensão econômica e tecnológica da China, e o consequente aumento de sua capacidade militar, são consensuais entre os dois principais partidos dos EUA”, apontou Leandro Manzoni.
A vitória de Trump na semana passada levou a uma desvalorização da moeda chinesa e queda no mercado acionário. “A aversão ao risco era esperada, dado o impacto potencial sobre as futuras relações comerciais entre os países”, explicou Manzoni.
No entanto, a ameaça de tarifas de 60% sobre produtos chineses pode abrir espaço para novas negociações entre as duas potências. No primeiro mandato de Trump, um acordo comercial foi assinado em 2020, no qual a China se comprometeu a comprar mais produtos americanos em troca da remoção de algumas tarifas.
Bolsa brasileira é ‘mais sensível aos juros e à política monetária americana’, diz especialista
De acordo com Bruno Corano, economista da Corano Capital NY, a Bolsa brasileira é mais sensível “aos juros e à política monetária americana do que a outras variáveis”.
Nesse sentido, uma guerra tarifária entre EUA e China pode gerar inflação nos EUA, afetando a economia e a Bolsa brasileira. Por outro lado, Leandro Manzoni observa que o Brasil pode se beneficiar no curto prazo, caso os EUA adotem tarifas excessivas contra produtos chineses, mesmo que não cheguem a 60%.
“A China deve retaliar, provavelmente reduzindo a compra de produtos agrícolas dos EUA, como soja e carne bovina, e redirecionando essas compras para o Brasil”, afirmou Manzoni.
“Nesse cenário, o real poderia ser uma das moedas com menor desvalorização em relação ao dólar, e ações ligadas ao agronegócio, como as da 3Tentos, poderiam se valorizar”, concluiu Manzoni.