Esta quarta-feira (22) marca a contagem regressiva para o verão 2023/2024 no hemisfério Sul. Daqui a um mês, o Brasil entrará na estação mais quente do ano, período que promete temperaturas escaldantes e também de ser uma grande oportunidade para o setor de turismo depois de um tempo de grande turbulência.
Os efeitos causados pela pandemia de Covid-19 foram severos e deixaram grandes empresas com prejuízos gigantescos. Portanto, além da expectativa de recordes de temperatura ocasionado principalmente pelo fenômeno El Niño, este também será o primeiro período de alta estação após o fim oficial da emergência sanitária.
A visão otimista se baseia nos números. Segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o volume de receitas do turismo deverá encerrar 2023 com faturamento real de R$ 458 bilhões, um avanço de 8,8% em relação a 2022. O número também foi alavancado pela quantidade de feriados prolongados neste ano.
Mas como retomar a confiança no setor depois das crises da Hurb (antigo Hotel Urbano) e 123 Milhas, que deixou milhares de consumidores lesados? Apesar do temor, especialistas ouvidos pelo BP Money acreditam que as denúncias contra as empresas não afetaram a credibilidade do setor.
“Agências virtuais como 123 Milhas e Hurb são setores bem distintos para um público muito específico. O que podemos esperar após a crise destas empresas, é o aumento da confiança de clientes em agências de viagens sérias e que cobram valores justos. O cliente final não confia mais em promoções incabíveis. Ou seja, um site que cobra muito mais barato ou muito mais caro que o site do hotel, perde credibilidade. Com isso, o cliente confia em agências sérias com valores justos”, avalia a CEO da Trip Experiences, Mariana Papa.
O pensamento vai em linha com a opinião do CEO do HEL Ecossistema, Fabrício Granito. Para ele, cada vez mais as agências e operadoras de viagens tradicionais saem fortalecidas desses episódios recentes das plataformas, que, segundo ele, vendiam um modelo sem muita credibilidade.
“As agências e operadoras tradicionais têm respaldo e são mais confiáveis para impulsionar o setor depois de passado toda essa turbulência. Estão atentas em seguir as regras e comercializar produtos realmente disponíveis, seguindo as políticas corretas de emissões, remissões , cancelamentos e reembolsos dentro do prazo estipulado pelas empresas aéreas e de hotelaria”, afirmou.
Ano de crises
2023 marcou a queda de duas empresas que vinham se destacando no setor de turismo. A Hurb e a 123 Milhas tinham em comum uma estratégia de marketing agressiva que atraía milhares de clientes.
Porém, o acúmulo de perdas ocasionada pelo pandemia saiu do controle e as empresas transferiram seus problemas para a clientela.
Os problemas na Hurb vieram à tona em abril, após uma polêmica envolvendo o seu então CEO, João Ricardo Mendes. No LinkedIn, Mendes publicou um vídeo de três minutos onde pisava em uma faixa que contém reclamação de um cliente, e ironizava a situação dizendo que erros acontecem e que o concorrente “está a um clique de distância”.
Não bastando a situação, o empresário ainda vazou dados de um cliente em grupo com mais de mil pessoas no Whatsapp. Após o episódio, ele foi afastado da direção da empresa.
A Hurb foi alvo de uma leva de queixas de clientes que compraram pacotes e não conseguiram viajar. Os consumidores denunciaram que, ao chegar no destino da viagem, quartos reservados ainda não haviam sido efetivamente pagos pela plataforma.
Já no segundo semestre, foi a vez da 123 Milhas entrar em crise. Em agosto, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial após alegar prejuízo de R$ 1,6 bilhão no primeiro semestre.
Dias antes do pedido, a companhia havia suspendido os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional, afetando viagens já contratadas da linha “Promo”, com embarques previstos de setembro a dezembro de 2023.
Outra gigante do setor que passa por reestruturação é a CVC (CVCB3). No terceiro trimestre de 2023, a companhia reportou prejuízo líquido de R$ 87,5 milhões, o equivalente a 16,6% superior à registrada no mesmo período do ano passado, quando o prejuízo somou R$ 75 milhões.