Uberlândia promete água até 2060 para atrair empresas

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Apesar da crise hídrica que atinge o país, a prefeitura da segunda maior cidade de Minas Gerais, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, tenta atrair indústrias com uma campanha publicitária que garante o abastecimento de água no município até 2060.
A principal propaganda da prefeitura destinada a atrair investidores faz o seguinte chamado: “Água garantida para sua empresa até 2060. Invista em Uberlândia”.
A prefeitura sustenta que a estação de tratamento inaugurada em agosto, com a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem-partido), reforça o abastecimento da cidade para também sustentar uma atividade empresarial mais robusta.
A nova estrutura, que pertence ao DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto), capta água da represa que abastece a usina hidrelétrica de Amador Aguiar, empreendimento que tem como sócia majoritária a Aliança Geração de Energia, joint-venture entre a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e a mineradora Vale.
O abastecimento provido pela estação de tratamento a Uberlândia poderá competir, portanto, com a geração de energia da usina, um problema que ocorre atualmente em outras usinas por causa da crise hídrica.
Questionado pela reportagem sobre a possível competição entre água para abastecer a população e para gerar energia, o Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Água) informou, em nota, que fará um levantamento para analisar o cenário.
“Tendo em vista a complexidade do tema, o Igam dará início, ainda neste ano, a estudo da bacia para, posteriormente, prestar os devidos esclarecimentos”, diz o texto. O Igam é vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e regula o uso da água em Minas Gerais.
Referência
Minas Gerais é um dos estados símbolos da crise hídrica no país. O lago de Furnas, que banha 34 municípios, e fica ao sul do Triângulo Mineiro, registra baixos níveis por causa da falta de chuvas.
O reservatório, popularmente chamado “Mar de Minas”, é usado para geração de energia, mas ao longo dos anos se transformou em importante fonte de renda para o turismo.
Pescadores, proprietários de restaurantes e hoteis da região pressionam o governo para que seja determinado um nível mínimo de água para o lago da barragem de Furnas, de modo a evitar que turistas sejam afugentados pela seca no balneário. Ao mesmo tempo, porém, é preciso também manter a geração de energia.
Há municípios na região que já convivem com grandes lamaçais no lugar da água no lago da represa.
Prefeitos de municípios no entorno do lago também temem que o governo federal adote medidas mais enérgicas para evitar a falta de energia no país e piore ainda mais a situação da barragem.
Tranquilidade
Lideranças políticas de Uberlândia acreditam que não haverá conflito de interesse entre geração de energia e abastecimento de água no município.
O PT, tradicional adversário do prefeito Odelmo Leão (PP), elogia o projeto de captação na represa de Amador Aguiar. “O Bolsonaro veio aqui inaugurar, mas essa é uma obra de 2015, do governo de Dilma Rousseff. Tem capacidade para levar água para até 3 milhões de pessoas”, afirma a vereadora Dandara (PT).
Cronograma da prefeitura mostra que a obra foi iniciada em outubro de 2015 “com a execução da adutora de água tratada e terraplenagem”.
O governo federal afirma que a obra tem capacidade para levar água a 1,5 milhão de pessoas, e que uma segunda fase do projeto pode aumentar o alcance para 3 milhões de pessoas. A população atual da cidade estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de 706.597 pessoas.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia, Paulo Romes Junqueira, afirma que investimentos como o da estação são de fundamental importância para atrair empresas. “Duas coisas atraem investimentos: energia elétrica e água”, declarou.
Junqueira afirmou que, por enquanto, ainda não teve informações sobre empresas que tenham demonstrado interesse em ir para a cidade por causa da nova estação de tratamento de água.
A Prefeitura de Uberlândia não retornou questionamentos feitos pela reportagem em relação ao uso da água do lago da usina. A Aliança Energia informou que é responsável pela área do reservatório e que deu acesso ao lago, mas que não define usos da água.