Trinta dias foram suficientes para que as novas tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros deixassem de ser apenas uma medida diplomática e começassem a impactar, de fato, o comércio bilateral.
Em abril, o Brasil havia sido afetado pela sobretaxa de 10%, mas foi no dia 30 de julho que o presidente americano, Donald Trump, havia assinado uma ordem executiva que instituiu tarifas adicionais de 40% (chegando a faixa dos 50%) sobre as exportações do Brasil que entrarem nos EUA.
De acordo com dados do MIDC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), a balança comercial do mês de agosto – quando entrou em vigor as sobretaxas dos EUA – sinaliza uma redução de 18,5% nas exportações de produtos brasileiros ao mercado norte-americano.
“Conforme esperado, vimos uma queda imediata nas vendas para os EUA. Boa parte dos produtores tiveram que realocar suas vendas a outros mercados”, disse Eduardo Grübler, gestor da AMW, da Warren Asset Investimentos.
Ainda de acordo com Grübler, o mercado reagiu, inicialmente, com elevada volatilidade, onde foi-se observado uma queda da bolsa e uma alta do dólar. “Após a isenção de quase 700 itens essenciais, no entanto, se estabilizou”, afirmou.
Isenção tarifária de quase 700 produtos
Em 30 de julho, os EUA isentaram cerca de 700 produtos da lista de tarifas impostas ao Brasil, dentre eles, petróleo, laranja, aviões, celulose, carvão acabaram recebendo a isenção.
Enquanto produtos como carne, café e frutas, também fortemente exportados ao mercado americano, não apareceram na lista.
De acordo com Grübler a isenção de quase 700 produtos foi crucial para mitigar danos, pois preservou setores estratégicos como o petrolífero e o de aviação civil. Ele ainda sinalizou a importância do lobby internacional que ganhou destaque neste momento de tensão.
Para Julio Ortiz, CEO e cofundador da CX3 Investimentos, o mês foi positivo e o Brasil conseguiu encontrar novos canais de exportação.
“A lista de isentos foi bastante ampla e vários setores escaparam do tarifaço. O Brasil acabou aumentando em 30% a exportação para a China e em 12% para a União Europeia. Essa isenção e a substituição de parceiros fez com que o impacto na economia fosse bem menor”, disse.
Projeção de futuro para os impactos das tarifas
Sobre a projeção de futuro para os impactos do tarifaço, após esse primeiro mês da aplicação imposta pelo presidente Donald Trump, Grübler afirma que os efeitos da questão tarifária tendem a ser limitados pela diversificação dos mercados e capacidade de adaptação e realocação das empresas.
Enquanto Ortiz pensa que o enfraquecimento do dólar acaba encarecendo os produtos exportados ao mercado americano e dificulta outras importações.
“Se Trump enfraquecer mais o dólar, poderá reduzir a pressão das tarifas impostas a outros países, permitindo um reequilíbrio mais saudável do mercado”, afirma.
Entre Washington e Brasília, margem estreita
Para Grübler, o governo brasileiro atua em quatro frentes com os EUA: diplomática, empresarial, OMC (Organização Mundial do Comércio) e diversificação de mercado. No entanto, a margem de manobra segue limitada devido a questões políticas distintas entre os países.
Desde a implementação da sobretaxa de 50%, o governo Lula anunciou um pacote para socorrer setores e empresas afetadas pelo tarifaço, visando mitigar os efeitos da sanção comercial, através do batizado Plano Brasil Soberano.
Plano Brasil Soberano
A iniciativa disponibilizou linhas de crédito subsidiadas para atender as empresas mais afetadas pelas tarifas. Além disso, a medida deu o aval para que Estados realocassem itens perecíveis que seriam enviados ao mercado americano a outros Estados.
A medida ainda ampliou o Reintegra para englobar empresas exportadoras de todos os portes (antes, somente pequenas empresas eram afetadas pelo programa). O Reintegra é uma ação que tem o objetivo de devolver impostos pagos ao longo da cadeia produtiva.
Por fim, a MP estendeu o regime de drawback, que permitiu a isenção ou suspensão de impostos sobre matérias-primas usadas na fabricação de produtos destinados à exportação.