Vale a pena investir no setor elétrico em meio a crise hídrica?

Os papéis do setor podem ser uma oportunidade a longo prazo.

Os papéis do setor de energia elétrica têm apresentado variações constantes, que no geral pendem para baixo. O Índice de Energia Elétrica (IEE), medidor dos papéis do setor, apresentou uma queda de 0,50% às 10h17 desta sexta-feira (20). As variações vêm em meio à crise hídrica que afeta vários setores, especialmente o de energia. Mas mesmo com a situação alarmante, investir pode ser uma boa escolha a longo prazo.

“Se torna uma boa oportunidade, já passamos por várias crises hídricas, [esta] de longe parece ser mais leve. Até então não se apresenta uma crise, mas existem empresas que podem ser mais afetadas, como Cesp e Trans Paulista”, explicou Pedro Queiroz, head de renda variável da BP Money.

Apesar de ser uma boa oportunidade a longo prazo, há ressalvas “para quem está começando e tem mais medo de se expor às transmissoras pela previsibilidade de caixa dela, já que as RAPs não são associadas a quantidade e sim ao volume contratado”, afirmou Queiroz.

Em outras palavras as RAPs, ou Receita Anual Permitida, que é a remuneração que as transmissoras de energia recebem pela prestação de serviço, são repassadas aos investidores pelo volume comprado (quantidade de papéis). Então, para os de primeira viagem, a oscilação e a espera podem gerar certas aflições.

Os papéis do setor também apresentaram grande volatilidade após a divulgação do relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que elevou a previsão de carga e apontou uma menor disponibilidade térmica para atender a demanda. Que de fato está acontecendo, os reservatórios estão em seus menores níveis (veja mais aqui).

“Existem três segmentações básicas, as distribuidoras, transmissoras e geradoras de energia. A crise recai sobre a cadeia, mas principalmente sobre as geradoras, que caso não tenham a produção contratada terão que ir ao Mercado Spot comprar a energia com o preço mais elevado”, disse Queiroz.

Para contextualizar, o Mercado Spot é composto por ativos financeiros negociados para entrega imediata. A compra de energia pela geradora do mercado, afeta o valor que será pago pelo consumidor final através da tarifa de energia.

De modo geral, essa volatilidade acompanhada da queda pode ser uma porta para investidores variarem a carteira com ativos do setor, devido aos preços baixos.

 

Crise hídrica é resultado de uma má gestão?

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que não tem a intenção de adotar medidas de racionamento de água e energia. Contudo, essa decisão é criticada por analistas, tendo em vista que que as hidrelétricas do país já estão alcançando níveis críticos.

“O governo defende e diz que não terá racionamento, mas possivelmente terá. Porém existem alguns analistas que trazem a ideia de um alívio dessa crise hídrica por conta do efeito La Niña”, declarou Queiroz.

O efeito La Niña é decorrente do aquecimento do Atlântico e gera um período de umidade.

Já o ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, acredita que o ONS, que controla as instalações de empresas de geração e transmissão, aumentou sistematicamente a geração hidráulica no Brasil e reduziu, irresponsavelmente, a geração térmica.

“É um padrão que leva à fabricação artificial de crise no final do período chuvoso, gerando uma explosão de tarifas”, declarou Abreu em debate promovido pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados.

O resultado desse aumento é a elevação da tarifa de energia à população. Vale lembrar, que o país ainda sente as consequências da crise sanitária sendo refletida no avanço de 0,96% do IPCA e da inflação, a qual tem sido projetada para aumentos constantes.