Vender startup antes de virar unicórnio é bom negócio?

Um jornalista e um empresário lançaram um livro para elucidar o tema.

Um dos objetivos dos grandes fundos de venture capital (capital de risco) ao entrevistar o dono de uma startup em busca de investimentos é descobrir qual o comprometimento do empreendedor com seu projeto no longo prazo.

A conta é simples. Os maiores investidores de startups colocam recursos em dezenas dessas empresas sabendo que esse é um negócio de risco e que a maioria delas vai quebrar ou deixá-los no zero a zero.

Para que haja um bom lucro, é preciso ter no portfólio algumas daquelas startups que se tornam unicórnios, ou seja, superam o valor de mercado de US$ 1 bilhão antes de serem vendidas ou fazerem uma abertura de capital.

Alimentar um animal desses leva tempo e exige sucessivas captações de dinheiro, chamadas de séries A, B ou C no jargão do setor e com valores cada vez maiores. O empreendedor disposto a vender sua empresa por alguns milhões em vez de seguir à frente de um negócio que tanto pode valer bilhões como também virar pó não tem o perfil mais desejado por quem dá as cartas no setor.

O empresário João Cristofolini defende que este não é o único caminho para o sucesso. Ele acaba de lançar, em coautoria com o jornalista Eduardo Cosomano, o livro “Saída de Mestre” (Editora Gente), em que trata do que chama de saída antecipada, quando as ações de uma startup com até cinco anos de mercado são vendidas por valor entre R$ 5 milhões e R$ 50 milhões.

Cristofolini é um dos fundadores da startup Pegaki, empresa criada no final de 2016 que desenvolveu um sistema a partir do qual lojas de rua viram postos para que clientes retirem itens comprados em lojas virtuais.

No livro, ele conta a história de sua startup, as captações de investimento, os erros na hora de levantar recursos que o fizeram quase quebrar e a decisão de vender a empresa em 2020 para uma startup maior, a Intelipost, após um susto no início da pandemia seguido por forte expansão em meio ao impulso que ela trouxe ao comércio eletrônico.

A defesa de que, muitas vezes, vender a startup cedo pode ser um ótimo negócio também ganha o reforço de 11 histórias curtas reunidas pelos autores, que entrevistaram empreendedores que passaram pelo mesmo processo.

Ao final, há um capítulo dedicado a analisar o motivo de mais saídas antecipadas estarem acontecendo no Brasil recentemente, com grandes empresas comprando startups para acelerar sua digitalização e startups capitalizadas comprando outras companhias para avançar mais rapidamente, também escrito a partir de entrevistas com executivos.

“Querer criar uma startup que é um unicórnio não é errado, mas esse é um caminho muito restrito e cheio de revezes. São menos de 20 unicórnios no Brasil para milhares de startups”, diz Cristofolini.

Segundo ele, apesar de muitos investidores terem o longo prazo e o crescimento exponencial como meta, existem outros caminhos disponíveis para as startups que não se encaixam neste modelo. A Pegaki cresceu com recursos de investidores-anjo (pessoas físicas que apostam em startups) e, principalmente, com dinheiro levantado na plataforma de equity crowdfunding (investimento coletivo) EqSeed.

O empresário diz que, para quem apostou em sua empresa, a saída antecipada não foi mal negócio: “Os fundos de venture capital esperam retorno em dez anos. Quem investiu na EqSeed teve lucro em um ou dois anos”, afirma.

Mais do que uma oportunidade de ficar rico logo, Cristofolini afirma que fazer uma venda antecipada de startup permite ao empreendedor passar a fazer parte de uma empresa maior.

Citando o caso do empresário Alfredo Soares, que vendeu sua empresa Xtech para a VTEX, que mais tarde se tornaria um unicórnio com ações negociadas na Nasdaq, bolsa de tecnologia americana, Cristofolini diz que vender uma startup pode ser a oportunidade de fazer parte de uma empresa maior que a sua.

“Podemos dizer que, em vez de ter vendido sua startup, ele comprou uma parte da VTEX e virou sócio de algo muito maior”, afirma.

O próprio Cristofolini segue como presidente da startup que criou e vendeu. Segundo ele, a parceria com a Intelipost permite ter mais recursos e chegar a mais clientes e pensar em planos de expansão maiores do que os que seria possível caso seguisse sozinho.

Cristofolini faz a ressalva de que também há risco na hora de vender a startup para uma empresa maior. Isso porque, quando uma grande companhia compra uma startup, costuma querer que os fundadores dela sigam trabalhando por mais alguns anos no negócio.

“Temos histórias de startups compradas por empresas maiores que desapareceram. Os negócios deles viraram um departamento ou um produto e os empreendedores viraram executivos que faziam só tarefas de que não gostavam”, afirma.

 

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile