A semana começou com o mundo olhando para a Argentina. O candidato de extrema direita do Libertad Avanza, Javier Milei, surpreendeu e venceu as eleições primárias que aconteceram no domingo (13), com 30% dos votos. Durante a campanha, ele enfatizou que, se eleito, irá impor a dolarização e dissolução do Banco Central do país. Mas, apesar de toda a radicalização, as ideias do extremista podem ser benéficas para o Brasil.
O pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Paz, vê no liberalismo exacerbado do candidato uma possibilidade de maior abertura para negócios entre os os vizinhos sul-americanos.
“Sem dúvida o mercado brasileiro vai ser afetado pela eleição, porque vai no final das contas colocar a Argentina numa nova situação política. Se a direita ganha, seja com Milei ou com Patrícia Bullrich, ambos já disseram que vão adotar uma postura muito mais agressiva do ponto de vista de liberalização das importações, ou seja, uma coisa que o kirchnerismo vinha fazendo até esse momento, que era tentar restringir as importações para poder proteger o mercado argentino, em tese, cairia, e é bom para o mercado brasileiro, que vai ter menos restrição para poder vender para os argentinos”, destacou o especialista para o BP Money.
Milei ficou à frente da coalizão de oposição de centro-direita da Argentina, com Bullrich, que obteve cerca de 28% dos votos, enquanto o partido atual de esquerda, que tem como representante Sergio Massa, pontuou com 27%.
Com a vitória parcial do extremista, nesta segunda-feira (14), o Banco Central da Argentina decidiu desvalorizar o peso em 22% e, para compensar essa queda, elevou a taxa básica de juros em 21 p.p., para 118%. Com isso, um dólar passa a valer 350 pesos. No mercado paralelo, o “blue” está cotado acima de 600 pesos.
Dolarização e fim do BC
Em relação à polêmica proposta de dolarizar a economia, existem aspectos positivos e negativos, segundo o estrategista-chefe e sócio da Nomos, Rodrigo Correa.
Entre as vantagens em dolarizar uma economia em desenvolvimento que esteja cronicamente em crises e cuja moeda só se desvaloriza, como é o caso do peso argentino, estão a estabilidade monetária, controle da inflação, confiança dos investidores e acesso ao crédito internacional. Entre as desvantagens estão a perda de autonomia monetária, risco de choques externos, incapacidade de desvalorizar a moeda e aumento da desigualdade social.
“Em resumo, a dolarização pode ser uma solução para conter a alta inflação, trazendo estabilidade econômica, mas também traz desafios como a perda de autonomia monetária e vulnerabilidade a choques externos. A decisão de adotar essa medida deve ser cuidadosamente avaliada, pois é complexa e de difícil reversão. Talvez seja a melhor política, ainda que extrema, para a Argentina que, infelizmente, até hoje não conseguiu se estabilizar macroeconomicamente”, avaliou.
Já sobre a extinção do Banco Central, Leonardo Paz é enfático ao afirmar que a medida traria mais problemas do que soluções.
“Se fechar o Banco Central acaba que você tira um dos seus trabalhos, que é a emissão da moeda, de controlar o fluxo de maneira corrente da economia. Ao mesmo tempo o Banco Central tem três medidas: se tem uma crise grande, por exemplo, com o mercado de liquidez, como a gente já viu algumas vezes, em que os Bancos Centrais têm que salvar os bancos, você não vai ter um Banco Central para salvar os bancos e poder emitir moeda para poder ajudar a criar mecanismos para poder salvá-los”, pontuou.
“Então, você pode ter uma quebradeira de bancos. Tem que ver que tipo de instituto o Ministério da Economia colocaria para poder tentar ajudar em algumas circunstâncias como essas em que o Banco Central seria o principal ator”, concluiu.