Para Cristiano Pinto da Costa, a regulação é o grande gargalo para desenvolvimento da indústria do hidrogênio verde
Diante da abundância de potencial brasileiro no setor de eólicas onshore, o Brasil não precisa de eólicas offshore para gerar energia sustentável e protagonizar o mercado de produção do hidrogênio verde. Essa é a análise do presidente da Shell, Cristiano Pinto da Silva.
De acordo com ele, diante da matriz renovável que o Brasil já possui, há potencial suficiente para continuar gerando energia limpa, bem como abastecer plantas de hidrogênio verde. Em sua análise, o grande gargalo para o desenvolvimento da indústria de H2V em solo brasileiro é a regulação, bem como a falta de um grande cliente que assuma a demanda necessária para um investimento de grande porte como esse exige.
“Você precisa de alguém grande ancorando demanda para que o projeto seja viável. Vejo Petrobras e Vale como dois atores importantíssimos com demanda para esse combustível”, disse na terça-feira (5), em conversa com jornalistas, após sinalizar que tem “conversado bastante” com atores da pauta no país, em particular com as citadas Petrobras e Vale.
Mesmo sinalizando que o Brasil não precise das eólicas offshore para esse mercado, a Shell possui atualmente 17 GW em projetos offshore já protocolados no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
De acordo com o presidente da Shell, a solicitação de licenciamentos ocorre como forma de se antecipar na frente dos concorrentes. “É a forma como Ibama funciona. O primeiro que coloca tem a primeira resposta. Quem perde muito tempo para protocolar, fica no final da fila. Desde então, vimos um avanço menos acelerado do que o mercado gostaria no marco regulatório”, sinalizou Costa Pinto.
“A indústria de eólica offshore no mundo passa por um momento desafiador. Várias companhias anunciaram impairments (desvalorização de ativos) ou write-offs (perdas). A Orsted, um dos maiores desenvolvedores, teve um desafio grande com queda substancial no preço de ação”, explicou.
O presidente da Shell destacou ainda que os gargalos do setor estão na indústria de suprimentos, conforme antecipamos esta semana. “É outro ponto da transição energética. Se você acelerar demais e não conseguir substituir um sistema de fornecimento de energia que foi construído ao longo de décadas, na mesma velocidade e com novos sistemas, esses percalços vão acontecer”, disse o presidente da Shell Brasil.