Análise de especialistas

Energia renovável: balanços de empresas sofrem com ‘curtailment’

Segundo analistas ouvidos pelo BP Money, há mais oferta do que demanda, e isso gera o “curtailment”

Energia renovável/ Foto: Canva
Energia renovável/ Foto: Canva

Produtores de energia eólica e solar no Brasil alertaram que estão reavaliando investimentos no país após o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) limitar repentinamente a quantidade de energia que poderia ser oferecida em 2023. O movimento reduziu os lucros das companhias, e analistas ouvidos pelo BP Money apontam que as perdas “aparecem” nos “balanços das empresas”.

“Já estamos vendo esse fenômeno há algum tempo. Isso é negativo para os geradores. Conseguimos já ver aqui nos balanços das empresas. Esses casos de interrupção de energia sempre são citados. E o grande ponto aqui é que não há muito o que as empresas possam fazer”, disse o analista da Equity Research da Ativa, Ilan Arbetman.

Assim, os de analistas sinalizaram que esse é um problema estrutural. Segundo eles, há mais oferta do que demanda, e isso gera o “curtailment”. Ou seja, um corte ou redução deliberada da produção dos geradores de energia, impedido a produção plena da companhia.

Além disso, o especialista em energia da Equus Capital, Pedro Coletta, pontuou que esse movimento afeta diretamente as receitas das companhias vindas dessa geração. Coletta destacou que o movimento pode “reduzir o valor de suas ações”.

Todo esse cenário levanta o debate sobre a frequência e as razões de tais interrupções. Nesse contexto, dois pontos se destacam: a falta de demanda (já mencionada) e o aspecto regulatório.

“No âmbito regulatório, é necessário rediscutir o papel de cada fonte de energia dentro do sistema interligado nacional e remunerar cada empresa de acordo com a contribuição para o bom funcionamento do sistema”, explicou Coletta.

Ibovespa: empresas do setor de energia não se destacaram no 2T24

Grande parte das empresas de energia que compõem o Ibovespa não teve um desempenho extraordinário no segundo trimestre de 2024. A título de exemplo, no período, a Energisa (ENGI11) registrou lucro líquido de R$ 655 milhões, correspondendo a uma queda de 0,3% na comparação anual.

Também nesses três meses, a Eletrobras (ELET3) reportou um lucro líquido ajustado que somou R$ 615 milhões. O valor responde a uma contração de 25,8% na mesma base comparativa.

Parceiros

Vale lembrar que, para além das interrupções, houve diversos fatores que contribuíram tanto para os resultados negativos como positivos das companhias.

A Engie Brasil (EGIE3), por exemplo, teve um desempenho muito bem avaliado por analistas da XP. A companhia reportou um lucro líquido ajustado de R$ 855 milhões, alta de 6,1%. Mas o destaque foi que seu crescimento ocorreu devido a uma “melhor geração hidrelétrica”.

O IEE — Índice de Energia Elétrica da Bolsa brasileira — acumulou uma variação negativa de 0,41% nos três meses encerrados em junho deste ano.

Quais seriam as soluções para o ‘curtailment’?

É comum que, ao falar sobre aumentar a demanda de energia, a exportação seja a primeira alternativa. Mas o grande ponto é que, para essa ser uma solução viável, é preciso realizar acordos bilaterais, também envolvendo as companhias.

O Brasil já adotou essa prática. Em 2023, o país exportou 844 megawatts médios de energia elétrica para a Argentina e o Uruguai. Segundo a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), esse foi o maior volume em toda a história do país.

Com o volume exportado, o país teve um retorno que chegou a R$ 888 milhões.

Além disso, analistas ouvidos pelo BP Money também pontuaram que uma “revisão no sistema de transmissão” também seria uma opção. No caso, seria uma espécie de atualização.

“Muito tem sido formulado pela Uniel, tem sido feita lei para que se cresça a nossa capacidade de transmissão também. Mas estamos falando de um setor que é intensivo em capital. Nem sempre dá para resolver isso de forma rápida”, comentou Ilan Arbetman, analista de Equity Research da Ativa.