Diante da expansão das novas fontes de energias renováveis no cenário nacional e internacional o Hidrogênio Verde vem ganhando espaço e expandindo suas possibilidades. No contexto da descarbonização do planeta em uma busca por maior sustentabilidade, ele pode ser usado como fonte de energia limpa, sendo uma solução possível para diminuir a emissão de gás carbônico no planeta, extraído de fontes limpas e renováveis.
De acordo com os pesquisadores da FGV Energia, Gláucia Fernandes, Matheus Ayello, João Henrique de Azevedo e Felipe Gonçalves, o Brasil tem o potencial para ser um dos maiores produtores de hidrogênio verde do mundo devido as suas vantagens naturais associadas a uma matriz elétrica predominantemente renovável.
Internamente, o hidrogênio tem potencial de aplicação em diversos setores industriais, de alimentos à fertilizantes, podendo também ser aplicado como substituto de combustíveis que têm alta intensidade de carbono. Além disso, pode ser utilizado como vetor energético, acumulando energia renovável em períodos de alta produção e baixa demanda de energia elétrica.
Competitividade
Para o hidrogênio verde ter uma maior competitividade, é de suma importância o barateamento das fontes renováveis, visto que a energia elétrica corresponde por 80% do CAPEX. Como o país tem uma das tarifas de energia mais caras (CAMARGO, 2022), faz-se mister, portanto, considerar os modelos de negócio de contratação de energia para que a fonte utilizada não ultrapasse os 25 US$/MW (CHIAPPINI, 2022). Além disso, no Brasil, há o rastreamento da fonte de energia utilizada por contratos, favorecendo os modelos de negócio para produção do hidrogênio verde.
Há também uma tendência de utilizar a energia elétricas da fonte eólica offshore direcionada para a produção de hidrogênio verde. Esse arranjo, pode trazer um grande diferencial competitivo para o Brasil. Caso toda a produção esperada de eólicas offshore no Brasil seja destinada a produção de H2V, o Brasil poderia suprir até 40% da demanda energética europeia até 2040, fatia atualmente fornecida pela Rússia (FIERN, 2022).
Uso da água
O uso da água é uma questão importante quando se fala em hidrogênio verde, pois deve-se considerar uma quantidade considerável processo de produção. Além da água do mar, é possível considerar o reaproveitamento de aquíferos poluídos. Águas que são impróprias para o consumo humano podem ser utilizadas para a produção de H2V e, ao realizar essa coleta de água, o manancial acaba sendo renovado, pois a água poluente é retirada. Esse cenário pode ser explorado no Brasil.
O país tem grande potencial de se destacar nesse mercado, em face dos diferenciais competitivos apresentados. Dessa forma, é necessária uma orientação estratégica para desenvolver uma economia do hidrogênio em harmonia com as demais fontes da matriz energética. As resoluções do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) nº 2 e nº 6 e o PL 725/22, de autoria do senador Jean Paul Prates (PT/RN), são importantes marcos nesse processo.
O PL insere o hidrogênio verde na matriz energética brasileira, estabelece a necessidade de adicioná-lo aos gasodutos e atribui unicamente à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a competência de regulamentação desse combustível. Por sua vez, a Resolução nº 6, de 23 de junho de 2022, do CNPE, instituiu o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) e estabeleceu a estrutura de governança do programa. Em 14 de dezembro de 2022, o MME abriu para consulta pública o Plano Trienal do PNH2 através da Portaria nº 713/GM/MME.
Desenvolvimento do hidrogênio
O desenvolvimento do hidrogênio, envolve uma densa cooperação internacional acoplada à oferta de linhas de financiamentos públicos e privados. Deste modo, requer quadros regulatórios transparentes e consistentes para atração de investimento privado. O Grupo Banco Mundial anunciou recentemente a criação da Hydrogen for Development Partnership (H4D), uma iniciativa global para impulsionar a implantação de hidrogênio de baixo carbono em países em desenvolvimento.
“Todos esses esforços se justificam pelo aumento da segurança energética e da diminuição da necessidade de insumos importados, além do desenvolvimento científico e tecnológico, da criação de novos empregos, a qualificação da mão de obra e inserção do país no novo mercado internacional”, ressaltaram os pesquisadores.