Os países europeus não têm os ventos que nós temos. Não têm a radiação solar que é marca de quase todos os estados nordestinos; mas, ainda assim, estão muito mais avançados no desenvolvimento do combustível do futuro: o hidrogênio verde. Preocupado com esta realidade e com a possibilidade de que o Brasil – e notadamente os estados nordestinos – perca essa enorme janela de oportunidades, o secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Ângelo Almeida, propõe a participação da Petrobras, como braço do Estado, a puxar esse desenvolvimento, impulsionar investimentos. Mas não somente isso: Almeida propõe que a estatal crie uma subsidiária focada integralmente no desenvolvimento de energia renovável.
O gestor disse que vê como muita preocupação o estado atual da produção nacional, pois não enxerga um ambiente de convergência de ações, o que, na visão dele, pode implicar a perda de oportunidades geradas pelas próprias condições geográficas do país. Almeida citou que, apesar das condições brasileiras para avançar, nações europeias, com menos recursos naturais, estão à frente.
“Eles não têm os ventos que nós temos, não terão jamais. Não têm a radiação solar que nós temos – Nordeste e Bahia – não terão jamais. Não têm as condições que a Bahia e o Nordeste têm, sobretudo a Bahia, de construir esse ambiente que seja o ideal para termos a primeira refinaria verde”, declarou Ângelo Almeida, em entrevista ao jornalista Gusmão Neto no podcast do Green Energy Report, do portal BP Money.
“[Vejo a questão do hidrogênio verde] com muita preocupação. Vejo que falta uma concertação. É preciso que seja construído um ambiente de harmonia e de um diálogo com convergência: nós não estamos percebendo isso nesse momento. Esse é um debate que deve ser seguido de ações concretas e nós não haveremos de ter ações concretas se não tivermos, dentro desse debate, uma empresa, por exemplo, como a Petrobras”, sinalizou Ângelo Almeida.
O secretário cita que não é a única voz a pedir maior participação da Petrobras no mercado de hidrogênio verde. “Eu tenho visto e acompanhado, por coincidência, um conterrâneo nosso, Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Fup [Federação Única dos Petroleiros] que praticamente está falando sozinho e ele está clamando à sociedade e à própria Petrobras para que ela possa se debruçar e começar a apresentar de forma mais efetiva projetos que, por enquanto, estão muito pouca aderência e muito tímidos”, disse Almeida.
A nossa tese é que a Petrobras tenha um olhar disruptivo e possa acreditar no poder da inovação. Inovar, criando uma subsidiária, uma nova empresa, um braço da Petrobras que seja direcionado para alimentar e trazer a política de inovação e de incentivos para a construção de um grande parque, de uma grande planta de energia limpa, da solar, da eólica, que nós temos abundantemente na Bahia. […] Não existe em nenhum lugar do mundo nenhuma política pública voltada para a inovação que tenha sido feita sem a participação de governo. O Estado está aí para isso: ninguém vai inovar com o dinheiro do bolso. Se inova e se arrisca é com dinheiro de governo. […] Esse investimento tem que vir do Estado, e a Petrobras é o braço [do Estado]; o Estado brasileiro tem a maioria [das ações] e ela deve ter essa responsabilidade de fazer esse salto de inovação e para a qualidade de vida do nosso povo.
Ângelo Almeida, secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia
Ao falar do cenário baiano, ele salientou que o estado tem “uma tempestade perfeita, no bom sentido”, um ecossistema bastante robusto que pode projetar a Bahia em condições de produzir este combustível do futuro como “o hidrogênio verde mais barato do planeta, no mundo”.
Ângelo Almeida comentou ainda a necessidade de ampliar na população o conhecimento sobre a economia sustentável. “As pessoas ainda não sabem o que é economia verde. A noção é muito pouca de que a economia verde vai trazer para o nosso estado e para o Nordeste brasileiro as condições de sustentabilidade e de desenvolvimento social com muita força”.
O secretário comparou a diferença que há entre as realidades brasileira e europeia. “Qualquer cidadão hoje que for percorrer esses canais de TV europeus vai assistir a um debate e, em todo esse debate, em quase todos eles, existe a discussão sobre a mudança climática, sobre a necessidade da transição energética justa. Os investimentos já estão acontecendo de forma maciça, as regulações e marcos regulatórios já estão acontecendo na Europa e nós aqui estamos na idade da pedra”, exemplificou.