
Após um 2025 marcado pela corrida para absorver inteligência artificial como ferramenta de eficiência, a indústria de desenvolvimento web se prepara para uma mudança estrutural: a era dos produtos “AI-native”. A análise é da Sioux, empresa especializada em design e tecnologia que desenvolve projetos para marcas como Santander, Mastercard e Warner.
A diferença é fundamental, até agora, a IA ajudava o produto. Agora, ela é o produto. A nova geração de sites não será limitada a fluxos pré-programados, mas construída para aprender em tempo real, assumir novas tarefas conforme a demanda do usuário e se conectar a outros sistemas automaticamente.
“Estamos deixando de lado a automação para entrar na era da autonomia digital”, explica Felippe Kanashiro, head de produtos digitais da Sioux. Na prática, isso significa o fim das interfaces engessadas e o início da hiper-personalização 1:1, onde cada plataforma evolui com o comportamento de quem a usa.
Da eficiência à autonomia
Em 2025, o maior gargalo da IA não foi técnico, mas estratégico. Muitas empresas buscaram implementar a tecnologia pelo hype, sem clareza sobre qual problema de negócio precisava ser resolvido. O valor humano migrou da produção para a curadoria, visão de negócio e critério estético.
“Agora, em 2026, a aposta não é mais em fazer mais rápido, mas em fazer o que antes era impossível com produtos AI-native, onde os agentes de IA estão no centro da experiência e não mais na camada de apoio”, afirma Kanashiro.
Os novos sites passam a orquestrar processos inteiros. Um agente não só informa o status de um projeto: ele percebe um atraso, acessa os dados da equipe, sugere um novo cronograma compatível com as agendas de todos e já registra os ajustes nos sistemas internos.
Hiper-personalização na prática
Em um cenário de varejo, um e-commerce com IA pode ir além da recomendação genérica. Ao receber a mensagem “vou viajar a trabalho para um lugar frio na próxima semana e não tenho roupa adequada”, a plataforma cruza previsão do tempo, estoque, histórico de compras e regras de frete para montar automaticamente um conjunto completo de peças, garantindo a entrega antes da viagem e já oferecendo opções de troca simplificadas.
A tecnologia permite que sites mudem conforme o humor do usuário, suas metas ou até o clima da cidade, criando experiências únicas para cada pessoa.
Modelo híbrido deve prevalecer
Apesar da mudança, a Sioux avalia que as interfaces conversacionais não irão substituir a navegação tradicional, mas coexistir com ela em um modelo híbrido.
A IA conversacional será poderosa nas jornadas complexas, quando o usuário não sabe exatamente o que pedir ou precisa combinar várias ações em sequência, como renegociar um contrato, revisar condições de um serviço e gerar uma nova proposta dentro do mesmo fluxo.
Já para tarefas muito objetivas, como emitir um boleto, acompanhar um pedido ou aplicar um filtro simples em uma lista, as interfaces tradicionais bem desenhadas continuam sendo mais rápidas e eficientes.
O futuro, portanto, não é de substituição, mas de convivência entre paradigmas: a fluidez da interação por linguagem natural combinada à objetividade dos sistemas tradicionais.
O limite entre útil e invasivo
Toda revolução tecnológica traz dilemas. A personalização 1:1 aproxima o produto do usuário, mas também do limite entre o útil e o invasivo, trazendo à tona o creepy factor.
O desconforto não é gerado pelo uso da IA em si, mas quando ela tenta se passar por humana. A confiança do usuário começa a ruir quando a tecnologia finge que sente, pensa ou acha alguma coisa.
A Sioux defende que transparência, clareza e controle serão os pilares de confiança digital em 2026. A empresa sugere três pontos cruciais de design para a nova era:
Clareza: o usuário deve saber quando e onde a IA está envolvida na experiência. Explicação: o sistema deve fornecer pistas sobre o porquê de uma recomendação, como “sugerimos isso com base no seu uso recente”. Controle: o usuário deve ter o poder de ajustar ou até desligar certos tipos de personalização.
“Quanto mais inteligente e pessoal a experiência fica, mais direto e honesto o produto precisa ser sobre como e por que está fazendo aquilo”, finaliza Kanashiro.
Redefinição do papel humano
O avanço da IA não elimina o papel humano, mas o redefine. Se 2025 foi o ano da aceleração, 2026 será o ano da inteligência com direção.
O futuro não será de quem automatiza, mas de quem orquestra a autonomia. É nesse ponto que o humano volta ao centro: como estrategista, curador e consciência da experiência.
A Sioux atende clientes no Brasil e no exterior, desenvolvendo projetos de inovação para marcas como Santander e Mastercard.