A Copa do Mundo começa no dia 20 de novembro e deve movimentar um mercado já bastante aquecido no Brasil: o de apostas esportivas. Estima-se que haja cerca de 450 sites de apostas esportivas ativos no país atualmente, movimentando juntos valores na casa dos R$ 10 bilhões ao ano. Para Júnior Farias, CEO da Pixbet, a principal competição de futebol será uma oportunidade para solidificar as operações.
“Definitivamente, o mercado brasileiro cresceu muito nos últimos 18 meses e está criando e contribuindo para a evolução da indústria de jogos no país. A Copa do Mundo apresenta uma oportunidade muito interessante para as operadoras nacionais fazerem aquisições e solidificarem as operações, assim como o próprio mercado. Muito dinheiro foi gasto para este evento, como já era de ser esperado, e também aqui do nosso lado com a Pixbet propondo algumas coisas legais”, afirmou Farias em entrevista ao BP Money.
E se depender das principais casas de apostas, os brasileiros estarão felizes no dia 18 de dezembro [data da final da Copa do Mundo], já que apontam a seleção brasileira como a grande favorita ao título. O Brasil é a nação que dá a menor taxa de retorno: 5 para 1. Isso significa que, para cada real apostado no Brasil, o apostador recebe de volta, em média, cinco – o que empenhou e mais quatro – caso o hexacampeonato seja confirmado.
“Todos esperamos que o Brasil avance como melhor na competição e mantenha o interesse do público sempre alto. Esperamos que vença nos pênaltis contra a Argentina”, projetou o CEO da Pixbet.
Na teoria, a probabilidade de isso acontecer é de 1 em 32, já que é o número de países que participam do Mundial. Porém, é possível aumentar essas probabilidades por conta do desempenho e do nível de atuação de cada time, presumindo assim às principais favoritas, como Brasil, França e Argentina.
“As probabilidades são oriundas de um provedor que, normalmente, usa um modelo para precificar o jogo. Isso geralmente será uma combinação de classificações das partidas (cada jogador nas escalações esperadas recebe um valor), dentro de casa e fora, dependendo de quem é o time mandante, último x número de reuniões (esse número mudará com base na relevância das reuniões anteriores foram) e, em seguida, últimos x jogos para cada equipe (geralmente 5-10). Esta é uma maneira simplificada, mas esses são os principais fatores”, explicou Farias.
“Quando o jogo começa, as margens de jogo são ampliadas um pouco e, em seguida, gradualmente, um pouco mais à medida que o jogo avança. Quando as linhas são liberadas, onde o dinheiro está caindo, isso dita o movimento antecipado dos preços. Para o futebol, os preços não devem mudar muito até que haja grandes notícias da equipe, então você verá pequenos movimentos de preços até o dia do jogo, quando a maior parte do dinheiro será colocada. A ideia sempre é tentar assumir aproximadamente a mesma responsabilidade em cada equipe com o objetivo geral de ter um green book em todos os resultados (vencer, não importa qual seja o resultado)”, completou o CEO.
Pelo curto período da Copa do Mundo e um maior equilíbrio entre os times, Farias aponta que não haverão grandes favoritos em muitos jogos, mas que dois grupos podem ser o caminho da mina de ouro.
“Acho que os grupos do Brasil e da Inglaterra podem ganhar muito dinheiro, pois não devem ser tão grandes favoritos quanto são para seus jogos. Acredito que será ótimo para os apostadores desta vez, tantas variáveis ??- como o calor e a umidade – e jogá-lo no meio de uma temporada movimentada”, analisou.
Como as casas de apostas faturam?
Muitos apostadores conseguem faturar jogo após jogo, mas e o outro lado? Para surgirem cada vez mais casas, não é possível que não seja um negócio lucrativo. E é, como explica o CEO da Pixbet.
“As casas de apostas ganham dinheiro adicionando uma margem aos seus mercados. Essencialmente, o resultado de todas as probabilidades é igual a 100%. Se o Liverpool está jogando contra o Manchester United, então há 100% de chance de que o Liverpool vença, o Manchester United vença ou seja um empate. Se uma casa de apostas oferece este mercado a 106% e assumindo que uma margem de 2% é adicionada a cada resultado, o apostador nunca obtém o valor total de qualquer resultado”.
Apostas esportivas são ilegais no Brasil?
Apesar de haver a Lei 3.688 de Contravenções Penais que, desde 1941, deixa claro que é crime abrir estabelecimentos e explorar jogos de azar no território nacional, o então presidente Michel Temer (PMDB-SP), em 2018, sancionou a Lei 13.756, que autoriza a operação de casas de apostas esportivas no Brasil.
O texto torna legal esse tipo de aposta no país, desde que sejam cumpridos alguns requisitos. Um deles é de que as apostas tenham cotas fixas, conhecidas como “odds”. Caso ganhe uma aposta, o apostador deve receber o valor fixado no instante em que ela foi feita – ou seja, o valor não pode oscilar depois.
“No Brasil, a atuação das casas de apostas estão permitidas por causa de uma lei de 2018 que menciona que apostas esportivas e jogos são tolerados de empresas offshore. Isso permitiu que as empresas anunciassem e ativassem o patrocínio. Mas a principal mudança de jogo foi o pix. Tentamos surfar essa onda e tivemos sucesso, e depois o mercado cresceu muito”, afirmou Farias.
Porém, a lei ainda não foi regulamentada, o que deixa o mercado de apostas esportivas no Brasil em uma espécie de limbo. Se, por um lado, a operação das casas é considerada legal, por outro, não se sabe se a futura regra vai permitir que elas continuem atuando como hoje, a partir de empresas sediadas no exterior, ou se vai exigir que elas tenham sede no país.
“O brasileiro é culturalmente um apostador nato, o que nos ajudou a criar uma rede sólida para realizarmos investimentos no futebol brasileiro. As pessoas passaram a ficar mais em casa e isso se tornou uma oportunidade para a Pixbet. Ano que vem veremos se o mercado vai ser regulado ou não. Estamos prontos para atuarmos em um mercado totalmente regulado, justo e bom. Ficamos satisfeitos de estarmos contribuindo com o nosso trabalho para a criação de uma indústria segura no Brasil”, disse o presidente da Pixbet, que nasceu na Paraíba.
Sócia do Silva Gonzaga Leite Advogados, Luiza Leite esclarece que a legislação ainda é defasada e, por isso, traz insegurança jurídica para o segmento. “A falta de regulação não só afasta novos tipos de investimento no setor, como faz com que o governo deixe de arrecadar valores expressivos, o que poderia contribuir para a nossa economia”.
Ainda sobre a ausência de tributos, a sócia do escritório Sacha Calmon – Misabel Derzi, Patricia Gaia, acrescenta, “O Brasil possui potencialmente um dos maiores mercados para esse nicho, com a regulação dessa atividade trará segurança aos apostadores e ampliará a arrecadação da União”.
Esse mercado movimenta cerca de R$ 160 milhões por dia no Brasil, que recebe cada vez mais injeção de investimentos financeiros, principalmente de empresas estrangeiras que enxergam um campo de atuação rentável, sem haver nenhum recolhimento do governo brasileiro. Pontuando a perda de arrecadação, uma recente pesquisa realizada pelo Portal BNLData, estima que ao longo deste ano o Brasil vai deixar de receber R$ 6,4 bilhões pela falta de tributação com as apostas.
“O que temos de tributação é quando o apostador realiza o saque no Brasil, incidindo impostos de renda sobre este ganho de capital, mas não temos nada referente às operadoras. Com normas concretas, além de segurança para todos os envolvidos nessas atividades, espera-se que haja a expansão deste mercado”, salientou Leite.
Em total expansão no País, as casas de apostas esportivas têm fechado parcerias com clubes e patrocínios esportivos. Com a regulamentação, vai oferecer total segurança para o mercado, neutralizando sites fraudulentos, e também irá permitir que o cenário tenha concorrência saudável, atraindo investidores para segmentos relacionados.