Petrobras e Vale no radar

ESG e o preço das boas práticas

Uma pesquisa realizada em meados de 2023 apontou que as empresas estavam enfrentando dificuldades para implementar as boas práticas.

Foto: Freepik
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A implementação das práticas ESG tem custos — sim, estamos falando de dinheiro —e o resultado efetivo só é visto no longo prazo. “É um investimento a longo prazo que traz tanto desafios quanto benefícios”, comentou o CEO da SPEEDO Multisport, Roberto Jalonetsky.

O ESG (Governança ambiental, social e corporativa) é um tema que tem ocupado espaço nos noticiários e nas reuniões dos Conselhos Administrativos de grandes empresas. A título de exemplo, companhias como a Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) têm anunciado uma série de ações com foco na redução de emissão de carbono e sustentabilidade.

Uma pesquisa realizada em meados de 2023 pela Bloomberg, com cerca de 200 integrantes do mercado financeiro baseados na Europa, apontou que as empresas estavam enfrentando dificuldades para implementar as boas práticas.

Cerca de 63% das companhias envolvidas, que tinham relação com investidores, destacaram que uma das maiores preocupações era a cobertura e a qualidade das informações sobre o ESG.

Para a implementação, Jalonetsky aponta que “no curto prazo, pode haver custos significativos associados à reestruturação de nossas operações para se alinhar aos princípios ESG”.

Para atenuar esses gastos, as empresas tendem a fechar acordos com outras organizações que já têm domínio do tema. Por exemplo, a Vale anunciou no final de abril um acordo com a Caterpillar, com foco na descarbonização das operações de mineração.

A Vale vem investindo recursos para sanar as perdas das famílias devido aos acidentes envolvendo suas operações.

Já a Petrobras divulgou, também em abril, um MoU (Memorando de Entendimento) com a britânica BP. O contrato tem foco em projetos que envolvem sustentabilidade.

A solução ESG tem que fazer sentido para a cultura da empresa

Para que a solução ESG faça sentido para a empresa, ela precisa combinar com a cultura da organização, como explicou Renato Paquet, CEO da Polen, uma cleantech que utiliza tecnologia blockchain para fazer a logística reversa de embalagens.

“Acho que uma das primeiras coisas a se pensar quando a gente vai criar uma política ESG ou quando a gente vai, de fato, implementar isso na filosofia do nosso negócio, é refletir sobre aquilo que faz sentido para a empresa e o que faz parte da narrativa da empresa”, disse o CEO.

Como exemplo, ele mencionou a possibilidade de uma companhia ter créditos de carbono, mas esses créditos acabarem sendo gerados em áreas que não deveriam. Não seriam créditos com certificados globais, por exemplo.

“Então você [empresa] acaba comprando, coloca na sua marca que é carbono neutro e quando você vai ver, contratou uma solução que participou de grilagem de terra, por exemplo”, comentou o especialista.

Nesse sentido, Paquet declarou que essa falta de diligência pode gerar diversos custos para a empresa, além de outras consequências. Um exemplo foi encontrar uma solução — interna ou externa —, aplicá-la na companhia e ela não conversar em nada com o negócio.

Solução ‘imediata’ nem sempre é o melhor e a Europa é prova disso

O CEO da Polen acrescentou que as soluções “imediatas” nem sempre são o melhor caminho.

“A gente vê muito isso acontecendo agora na Europa, por exemplo, depois de uma corrida pela eletrificação da mobilidade. Você para pra analisar os dados efetivos em torno do que isso realmente evita de emissões.”

Segundo ele, mesmo com muitos carros elétricos, essa energia é gerada por meio da “queima de carvão, gás de xisto, resíduos sólidos”, etc.

Com isso, o especialista aponta que é importante ter muito cuidado com decisões “imediatistas”. “Elas podem acabar levando a caminhos que não necessariamente representam aquilo que a empresa realmente buscava quando tomou aquela decisão.”

 Se fizer ‘tudo direitinho’, boas práticas podem elevar margem de lucro da empresa

As boas práticas fazem sentido quando se considera a mudança de comportamento do consumidor, que em sua maioria está mais focado em produtos que emitam menos carbono. Na perspectiva de Renato Paquet, CEO da Polen, a adoção do ESG pode elevar a margem de lucro de uma empresa.

Além disso, Paquet aponta que as medidas ESG podem levar a um contingenciamento de risco. Segundo o especialista, também “é um parâmetro muito bem trabalhado pela ambiental e pela governança quando aplicados ao negócio”.

“Da mesma forma, quando a gente pega um caso de greenwashing ou quando pegamos uma empresa com grande escândalo ambiental, as ações da empresa vão lá para baixo”, comentou ele.

A título de exemplo, quando ocorreu a tragédia em Brumadinho, envolvendo a Vale, as ações da mineradora se deterioraram. Em 24 de janeiro (quinta-feira), um dia antes do ocorrido, as ações da companhia fecharam com alta de 0,89%, no dia 25 (sexta-feira) após o acontecimento, as ações deterioraram-se. No dia 28 (segunda-feira), os papéis fecharam com queda de 24,52%.

“Então, diligenciar, tratar a governança e o ESG com uma forma séria, com uma maneira séria, é lidar com problemas presentes e futuros”, comentou.

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