Mistério da riqueza

Herdeiro da Hermès afirma que fortuna de R$ 73 bilhões desapareceu

Aos 81 anos, Puech alega que seu antigo gestor de patrimônio teria contribuído para o desaparecimento de sua riqueza

Hermès/Reprodução
Hermès/Reprodução

O herdeiro da fortuna da renomada grife Hermès, já conhecido pelo episódio, no ano passado, em que anunciou sua intenção de deixar a fortuna para seu jardineiro, pode não ter tanto para doar como se pensava.

Aos 81 anos, Nicolas Puech tem seu status bilionário questionado. O herdeiro acusou o ex-administrador de sua fortuna, Eric Freymond, de ter envolvimento no desaparecimento do dinheiro e o tribunal suíço decidiu, neste mês, rejeitar as alegações do idoso.

Os advogados de Puech informaram ao tribunal que ele não detém mais os ativos mencionados: cerca de 6 milhões de ações da Hermès International SCA, cerca de 5,7% da empresa, avaliadas em cerca de € 12 bilhões (aproximadamente US$ 13 bilhões ou R$ 73,4 bilhões, na cotação desta quarta-feira, 31de julho). 

Essa participação, se existisse, o colocaria como o maior investidor individual na fabricante dos icônicos bolsos Hermès Birkin e dos lenços de seda coloridos, estabelecida em 1837. 

Via Facebook / @Nicolas Puech

Desde então, a Hermès evoluiu para um dos líderes globais no setor de luxo, fazendo com que a família Hermès se tornasse a mais rica da Europa. 

O clã, que inclui mais de 100 membros, possui um patrimônio líquido estimado em cerca de US$ 155 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Decisão judicial reacende mistério das ações de Puech

De acordo com a decisão do tribunal, não foi encontrado evidências concretas de que o consultor financeiro Eric Freymond fez uma ingerência sobre a fortuna de Puech, ou que o herdeiro de quinta geração da Hermès foi enganado durante um período de mais de duas décadas, período o qual pelo menos parte das ações foi vendida. 

“A ‘fraude gigantesca’ da qual ele foi vítima era indetectável para os mortais comuns”, disse o documento do tribunal, acrescentando que as alegações careciam de clareza e não apresentavam provas suficientes.

O tribunal decidiu que foi voluntária a ação de entregar a gestão financeira a Freymond, tendo assinado diversos documentos e dando acesso às contas.

A conclusão é de que o herdeiro teria sido enganado ou não havia entendido do que estava assinando, e sim passava as decisões para Freymond. Dessa forma, poderia ter revogado o acordo a qualquer momento, entendeu o tribunal.

Gregoire Mangeat, advogado de Puech, optou por não fazer comentários sobre o processo. Em contraste, Yannis Sakkas e Stephane Grodecki, representantes legais de Freymond, expressaram a satisfação de seu cliente com o desfecho, que incluiu críticas severas direcionadas ao autor. O caso foi inicialmente divulgado pela revista online Gotham City.

A decisão da justiça suíça deixa indefinido o destino das ações de Nicolas Puech, mas revela detalhes sobre sua situação atual. Recentemente, Puech tentou anular um contrato de herança com sua Fundação Isócrates, após iniciar processos para adotar seu jardineiro e legar-lhe parte de sua fortuna, o que afetou as doações da instituição.

No último processo, Puech alegou que sua riqueza vinha das ações da Hermès, que afirmou não possuir mais. Ele reclamou que não percebeu a situação porque Freymond, seu antigo administrador de fortuna, recebeu todos os seus extratos bancários.

O tribunal revelou que Puech confiou em Freymond para gerir sua fortuna por 24 anos, durante os quais transferiu ações da Hermès para bancos suíços.

Entre 1998 e 2010, Puech transferiu e negociou cerca de seis milhões de ações da Hermès através de Freymond, com um lucro significativo registrado em vendas até outubro de 2010, quando Bernard Arnault revelou ter acumulado uma participação na Hermès. Embora Puech considerasse Arnault um “aliado”, sua família conseguiu evitar que Arnault adquirisse controle da empresa.