Tecnologia

Corte de internet no Cazaquistão afeta bitcoin

A moeda ethereum também sofreu com o conflito no Cazaquistão.

O Cazaquistão quase sumiu do mapa de mineração de bitcoins nesta quarta-feira (5), após o presidente Kassim-Jomar Tokaiev mandar cortar a internet e a telefonia celular do país, que convulsiona em protestos contra o preço dos combustíveis.

A nação é a segunda maior mineradora da moeda do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos –posição conquistada após absorver parte do que era realizado na China, que em setembro de 2021 declarou ser ilegal qualquer atividade com criptomoedas em seu território.

A ação perturbou o mercado de criptoativos.

Segundo o índice de consumo de eletricidade do mercado de bitcoin da Universidade de Cambridge, 18% da energia global destinada à mineração da moeda era usada pelo Cazaquistão.

Em baixa desde segunda-feira (3), a moeda sofreu uma queda de 5,21% na quarta. Ela segue uma trajetória declinante de 0,93% nesta quinta, valendo pouco mais de R$ 248 mil.

A moeda ethereum, menos conhecida que o bitcoin mas bastante transacionada entre os entusiastas, também sofreu com o conflito no Cazaquistão. Na quarta, a baixa foi de 6,51%, e nesta quinta caiu mais 2,7 pontos percentuais.

“Sem internet, sem mineração”, afirmou em sua conta no Twitter Didar Bekbau, cofundador da mineradora Xive, que atua no território da antiga república soviética.

Segundo Axel Blikstad, sócio da gestora especializada em criptomoedas BLP Asset, a volatilidade intensa que o bitcoin tem enfrentado nos últimos dias, embora decorra em parte das incertezas sobre o Cazaquistão, se deve até mais, na visão do gestor da BLP Asset, às sinalizações por parte do Federal Reserve (o banco central americano) sobre a política monetária para a maior economia global em 2022, que causou forte impacto em ativos de risco de forma generalizada.

Ele avalia que, embora no curto prazo o evento no Cazaquistão possa contribuir para trazer alguma dose de volatilidade para as critptomoedas, sob uma ótica de mais médio e longo prazo, a interrupção das operações no país pode acabar contribuindo para os preços dos ativos digitais.

Isso porque, caso a situação se prolongue por mais algum tempo no país asiático, a tendência, aponta o especialista, é que os mineradores, que já fizeram uma migração em massa nos últimos tempos após as medidas restritivas impostas pela China, voltem a buscar novos países para estabelecer suas operações.

“E se parte desses mineradores migrarem para os Estados Unidos, para onde boa parte deles já foi depois das sanções da China, será uma ótima notícia, já que o foco lá é mais voltado para energia renovável, como a solar”, afirma Blikstad, acrescentando que, em El Salvador, onde o bitcoin foi oficialmente adotado como moeda oficial a partir de setembro de 2021, a mineração da criptomoeda já começou a ser feita via energia geotérmica, obtida por meio do calor dos vulcões.

A mineração de bitcoin é o processo de validação, por meio de complexos problemas matemáticos, de transações da criptomoeda. Isso é feito por meio do blockchain, espécie de arquivo que registra as movimentações da moeda e que não pode ser alterado. Para fraudá-lo, seria preciso validar todos os blocos de informação anteriores, algo inviável.

O interesse está na recompensa: ao final desse processo, são colocadas no mercado novas unidades de criptomoedas e dadas ao minerador. Para compensar o gasto de energia, essa ação precisa ser feita por computadores de altíssima capacidade, o que gerou uma corrida pela instalação de fazendas de mineração em países onde a energia é barata.

O termo mineração vem de uma analogia com o ouro, já que o bitcoin também é finito –serão emitidas 21 milhões de moedas ao todo.

Nessa disputa, minera mais quem tem mais poder computacional. Quanto mais potente a máquina, mais problemas pode resolver e mais recompensas gerar.

Desde o fim do ano passado, quando houve um boom de mineração no país, o governo está em pé de guerra com os empresários da criptomoeda.

Segundo reportagem do Financial Times, cidades de seis regiões do país enfrentaram apagões em meio ao inverno no país diante da sobrecarga no sistema de energia causada pela mineração. No final de novembro, a demanda por energia já havia subido 8% desde o começo do ano. Após a paralisação de três usinas, a operadora local disse que racionaria energia para as mineradoras.

De acordo com dados do jornal britânico, pelo menos 87.849 máquinas de mineração que operavam no país em novembro do ano passado tinha origem na China.

A queixa dos cidadãos nas ruas do Cazaquistão começou pelo preço dos combustíveis, mas a onda de protestos saiu de controle.

Na quarta, manifestantes atacaram prédios públicos e protestaram nas principais cidades do Cazaquistão, incluindo a maior delas, Almati, e a capital, Nursultan (antiga Astana). A residência oficial do presidente foi invadida e, depois, desocupada.

O país está em estado de emergência, e o presidente Tokaiev foi à TV anunciar que pediu assistência militar à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderada pela Rússia. Na manhã desta quinta, a potência já havia enviado tropas de paraquedistas para reprimir o levante.

A polícia disse que matou dezenas de amotinados em Almati, e a televisão estatal do país afirmou que 13 membros das forças de segurança morreram.