O mercado de IA (inteligência artificial) não apenas deve manter o crescimento previsto para 2025, como também pode superar todas as expectativas anteriores, preveem especialistas. De acordo com eles, há sinais claros que mostram o crescimento acelerado.
“Não há dúvida que os investimentos irão aumentar”, considera o presidente da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), Daniel Marques. Segundo relatório do IDC, os investimentos em IA devem alcançar US$ 204 bilhões até o fim deste ano. Já a consultoria Bain & Co projeta aportes de US$ 990 bilhões até 2027.
No Brasil esse mercado também cresce, com apoio do PBIA (Plano Brasileiro de Inteligência Artificial), que deve investir um total de R$ 23 bilhões até 2028. Mas a quantia ainda é pequena para que o país se destaque na competição mundial, considera Marques.
No mundo, um dos sinais de avanços da tecnologia além das expectativas é a declaração do CEO da OpenAI, Sam Altman, de que em 2025 vão entrar na força de trabalho os primeiros agentes de IA verdadeiramente autônomos.
“A OpenAI, Anthropic e outras empresas líderes estão indicando que a AGI (Inteligência Artificial Geral) está mais próxima do que se imaginava”, destaca o fundador da Academia Lendár[IA], Alan Nicolas.
A AGI representa uma busca por um software capaz de desempenhar funções para as quais não necessariamente é treinado ou desenvolvido. Até o momento, este é apenas um conceito teórico. Conseguir desenvolver tal tecnologia significaria ter um programa com inteligência similar à humana e capacidade de ensinar a si mesmo.
“O mais significativo é que não estamos mais no território de previsões – estamos vendo os impactos em tempo real”, diz Nicolas. Dessa forma, o especialista defende que 2025 deve ser um ano de adaptação a uma realidade que já está se manifestando.
Como o Brasil pode se posicionar nesse contexto?
No Brasil, um dos destaques no uso de IA é o setor jurídico, que a utiliza na automação de contratos, análise preditiva de processos e gestão de documentos. Neste segmento, o país tem potencial de ficar na vanguarda, considera o presidente da AB2L, Daniel Marques.
“Startups e lawtechs estão transformando a maneira como contratos são gerenciados e decisões judiciais são analisadas”, afirma.
Segundo ele, o Brasil também pode se destacar na oferta mundial de infraestrutura e soluções para o setor, em razão de sua posição estratégica e recursos tecnológicos em expansão. “O país tem potencial para liderar pesquisas que explorem alternativas ao silício como matéria-prima, aproveitando sua riqueza mineral, industrial e biotecnologias”, diz.
Avanço da IA gera desafios para o emprego e uma “corrida armamentista digital”
Com resultados práticos do uso de IA já sendo observado em empresas, especialmente em setores como o jurídico, financeiro e de marketing, os principais desafios devem ser observados no setor trabalhista, com possibilidade de desemprego em massa e disrupção social, considera o fundador da Academia Lendár[IA], Alan Nicolas.
“A questão não é mais se o crescimento será promissor, mas como a sociedade lidará com um crescimento que está superando nossa capacidade de adaptação”, observa. Esse crescimento acelerado também gera preocupações em relação ao uso democrático da IA, com o posicionamento de grandes empresas de tecnologia ainda incerto.
Outro desafio é a adaptação da cibersegurança, com o uso da IA expondo governos e empresas a novos tipos de ataques.
Um possível monopólio da tecnologia pelas grandes empresas é uma das preocupações dos especialistas. Grandes players estão reagindo à dependência de chips da Nvidia. “Hoje existe uma fila de espera na produção e pedidos, o que prejudica o crescimento”, destaca o CEO da 87 Labs, Thiago Cruz.
“Microsoft, Google e Amazon estão em pânico velado. Perceberam que depender da Nvidia é como ser refém”, comenta Nicolas.
Por sua vez, a Nvidia tem se movimentado para criar um “império” da IA, diz o especialista. “A Nvidia percebeu algo crucial: quem controla os chips controla o jogo. Por isso está não apenas desenvolvendo hardware, mas cultivando todo um ecossistema”, descreve.
Por isso a empresa tem investido pesadamente em startups de IA. “É como criar um império onde você fornece tanto as armas quanto treina os guerreiros”, compara Nicolas.
Essas tendências podem causar um movimento de verticalização extrema e criar ecossistemas fechados de IA para cada uma delas, o que dificulta o amplo acesso de todos à tecnologia. “A democratização da IA pode ser mais uma ilusão do que realidade”, diz o fundador da Academia Lendár[IA].
“O mais interessante? Isso sinaliza que estamos entrando numa era de integração vertical extrema na IA. Não basta ter os melhores modelos ou os melhores dados – você precisa controlar toda a stack tecnológica, do silício ao software”.
Ele compara a competição a uma “corrida armamentista digital”, em que ganha quem controla a infraestrutura fundamental da IA. Isto pode ser ampliado para a dimensão geopolítica, o que deixa o ideal de democratização da IA ainda mais distante.
Para Nicolas, o início do mandato de Trump na presidência dos EUA pode intensificar essa corrida ainda mais. “Trump provavelmente tratará IA como uma questão de segurança nacional e competitividade global, não como uma tecnologia que precisa ser desenvolvida cooperativamente em escala global”, projeta.
A expectativa é de que o presidente eleito imponha restrições ao acesso chinês a tecnologias americanas. Essa estratégia pode acelerar o avanço da IA no país, mas também deve criar tensões globais que afetam a cadeia de suprimentos e o desenvolvimento do setor em longo prazo, pontua Marques.
“A guerra tecnológica entre China e EUA sob Trump não apenas se intensificará – ela provavelmente se transformará no principal campo de batalha geopolítico do século XXI”, prevê Nicolas.
O que mais esperar para o futuro?
De um ponto de vista mais otimista, o CEO da 87 Labs, Thiago Cruz, considera que o trabalho de algumas empresas de tecnologia e startups tendem a amadurecer e definir melhor como vai ser o uso de IA nos próximos anos, diminuindo as incertezas sobre a tecnologia.
O ano de 2025 também deve ser de ajustes para os grandes players da IA, considerando, por exemplo, a declaração do CEO da OpenAI, Sam Altman, de que o uso do ChatGPT Pro por assinatura é muito maior que o previsto. “Talvez tenhamos mudanças quanto à facilidade e o custo do acesso a grande modelos”, considera Cruz.
Nesse contexto de mudança, um desafio central é a regulamentação da tecnologia. “Países como os da União Europeia estão na vanguarda da criação de leis para garantir que essas tecnologias sejam seguras, éticas e transparentes, mas há muito a ser feito para equilibrar inovação e controle”, lembra Marques.
Já os EUA, com a volta de Donald Trump, tendem a seguir o caminho contrário e adotar uma abordagem menos regulatória e mais voltada ao incentivo à inovação no setor, para competir com a China. “Trump já sinalizou que pretende reduzir regulamentações que, segundo ele, poderiam sufocar o crescimento tecnológico nos Estados Unidos”, aponta Marques.