O Bitcoin (BTC), criptomoeda mais valiosa do mundo, apresentou um tombo maior que 9% na manhã desta quinta-feira (24), após as tropas russas iniciarem o ataque às forças ucranianas. A moeda digital, que se apresenta como hedge, já havia registrado quedas durante o final de semana em resposta à tensão entre os países europeus.
Desta forma, é curioso notar que um ativo que é utilizado como uma estratégia que visa proteger um determinado investimento contra o risco de grandes variações de preço, neutralizando a posição assumida, tenha se revelado como um grande volatilizador, à mercê de fatores externos.
Essa contradição pode causar ainda mais dúvidas para os investidores da cripto, por isso a BP Money entrevistou dois especialistas no assunto. O primeiro deles foi o head em cripto do TC, Paulo Boghosian, que falou sobre o nível de facilidade de uma criptomoeda ser afetada por fatores externos — neste caso, geopolítico— mesmo possuindo a característica de se apresentar como um ativo hedge.
Segundo Boghosian, a moeda digital se posicionou como um ativo de risco, uma vez que caiu fortemente por conta do conflito ucraniano. ‘’O bitcoin deveria se comportar como um hedge, mas isso ainda não ocorre porque boa parte dos players dos mercados financeiros tradicionais enxergam o bitcoin como ativo de risco e não reserva de valor’’, completa.
O head diz que, apesar do Bitcoin possuir as principais características de boas reservas de valor, uma delas é a uma construção social e do lado da construção social ainda não existe consenso dos investidores sobre isso.
Já ao ser questionado sobre a possível instabilidade da cripto durante os dias de tensões europeias, Boghosian explicou que, devido à grande crise de liquidez no setor financeiro em 2020, ‘’quando existem crises de liquidez, os ativos como um todo, acabam sendo impactados. Isso acontece também quando a gente está falando de aumento de taxa de juros ou politicas contracionistas dos Bancos Centrais’’. Ele ainda citou o episódio onde o Banco Central norte-americano quis subir os juros para controlar a inflação, levando o bitcoin a cair junto com outros ativos de risco.
A avaliação geral desse cenário, feita pelo head, consiste no correlato do Bitcoin, que historicamente variou entre –0,2 e 0,2 com S&P 500, mas que nos últimos meses estava 0,4 e 0,5. ‘’Acaba que o mercado trata esse ativo como um correlacionado a um ativo de risco. Só que agora, falando de guerras e de governos totalitários, tiranias, como é o caso da Rússia, as pessoas se dão conta da utilidade e da importância do bitcoin como uma maneira de se proteger de guerra, de um colapso do sistema financeiro do seu país e por aí vai. Então é um cenário diferente de que a gente estava vivendo que causava a alta correlação, mas esses algoritmos não tem o discernimento do investidor fundamentalista’’, completa.
Por fim, Boghosian argumentou sobre as recentes oscilações do BTC e afirmou que a recuperação que foi vista ao longo do dia só aconteceu por conta do discurso do presidente dos EUA, Joe Biden, de que não iriam prolongar o conflito e que foi visto de maneira positiva pelo mercado’’.
Quem também analisou o cenário foi o head comercial da BDS, Fábio Moraes, que destacou uma estratégia comum entre os especialistas que operam a cripto. “Um dos motivos para acontecer a venda é um desposicionamento para justamente operarem em vendido e ganharem na queda. Isto é, me referindo a pessoas mais qualificadas, investidores que já têm conhecimento do mercado. Então um dos outros fatores também para cada Bitcoin foi essa, este desposicionamento”.
Vale lembrar que, com a queda, o bitcoin chegou a US$ 35.000 no fim do dia.