Tecnologia

Dinheiro do futuro: por que as CBDCs se tornaram tendência?

Nove em cada dez bancos centrais no mundo cogitam lançar suas próprias moedas digitais, de acordo com informações do Bank for International Settlements (BIS)

Por Beatriz Capirazi

A economia foi um dos setores que mais foi afetado pelos avanços da tecnologia. Hoje em dia, para ter acesso a uma ação de grandes empresas como Petrobras (PETR3; PETR4) ou Vale (VALE3), basta alguns cliques na tela do seu celular. Em 2024, é possível que você não precise de dinheiro físico para fazer suas compras com o lançamento do Real Digital, versão digital do Real lançada pelo Banco Central (BC) – uma CBDC, tendência que tem sido aderida por todo o mundo por digitalizar a economia e facilitar as transações financeiras. 

E a digitalização é uma tendência mundial. Nove em cada dez bancos centrais no mundo cogitam lançar sua própria moeda digital, a Central Bank Digital Currency (CBDC), segundo relatório recente do Bank for International Settlements (BIS).  

CBDCs são um fenômeno mundial

Ao menos 114 países estudam lançar sua própria moeda digital. Juntos, eles representam mais de 95% do PIB global, de acordo com informações do Atlantic Council, demonstrando que as moedas digitais emitidas por autoridades monetárias já são uma tendência em todo o mundo.

Em dezembro de 2022, todas as economias do G7 atingiram o ‘status’ de desenvolvimento de uma CBDC — incluindo o dólar digital dos Estados Unidos, a maior economia do mundo. Somente neste ano, mais de 20 países devem dar passos significativos rumo ao lançamento de suas moedas digitais. 

É o caso do Brasil, por exemplo, que assim como Austrália, Tailândia, Índia, Coreia do Sul e Rússia, planeja prosseguir com testes-piloto das CDBCs em 2023. Uma das maiores economias do mundo, a China, avançou nos testes e já liberou o uso da eCNY durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em 12 cidades para parte da população local e os estrangeiros presentes no evento. Até fevereiro do ano passado, a CBDC chinesa transacionou US$ 13,7 bilhões. Destes, US$ 300 mil durante os Jogos.

O que leva os BCs a quererem lançar suas próprias moedas

A onda de descentralização da economia não é um fenômeno tão recente, dado a fama que os criptoativos, com destaque para o Bitcoin, carregam há anos. Elas, contudo, não passam pelo controle dos Bancos Centrais do mundo. 

Para Tatiana Revoredo, especialista em Blockchain pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e professora do Insper, lançar versões digitais de suas próprias moedas é uma forma dos Bancos Centrais não só entrarem neste cenário, mas também reafirmar sua posição diante da economia.

Além de reafirmar sua soberania, a criação de CBDCs ainda teria como foco digitalizar suas economias e facilitar as transações financeiras — cenário que já acontece no Brasil com a criação do PIX. 

“Os BCs já perceberam que um sistema (com liquidação irreversível e circulação monetária verdadeiramente programável), como o propiciado pelas tecnologias Blockchain, traz maior velocidade orgânica [à economia], aumentando o giro de capital e a estabilidade do sistema das finanças tradicionais”, explica Revoredo. 

A professora do Insper destaca ainda que há uma diferença entre as motivações de países com economias estabelecidas e as de países emergentes. 

“Os mercados emergentes tendem a se concentrar em pontos como a digitalização da economia e financeira, além da redução do custo de dinheiro físico”, explica Revoredo. 

Para especialistas ouvidos pelo BP Money, no Brasil, o foco é atender as empresas que não foram totalmente contempladas pelo PIX por ainda terem que arcar com custos de transação — ao contrário das pessoas físicas.

Cenário brasileiro

Mesmo sem um impacto similar a de economias estrangeiras, a criação do Real Digital deve trazer vantagens para o País. Segundo um relatório recente da Accenture,  a nova moeda terá alto impacto nas transações de câmbio, reduzindo seus custos. Além disso, estima-se a possibilidade de investir em renda fixa sem risco de intermediação bancária, bem como o custo de crédito sem intermediação, que também será reduzido.

Outra vantagem é o combate a corrupção, já que o dinheiro digital seria rastreável desde a sua emissão até todas as suas transações diárias.

Para Daniel Niero, engenheiro em cibersegurança e Blockchain da El Canary, a utilização das CBDCs será imprescindível para a competitividade do Brasil ante os seus pares. 

“A utilização dessa tecnologia permite a emissão de dinheiro de forma completamente digital, reduzindo custos, melhorando o controle, transparência e aumentando nossa competitividade econômica em relação aos outros países que ainda não estão aplicando”, afirma.

Em contrapartida, Fernando Nogueira Costa, professor do Instituto de Economia da Unicamp, destaca que a moeda digital tem o papel de aprimorar o controle de fiscalização dos Bancos Centrais ao redor de todo o mundo sobre as suas economias locais. Luciano Mathias, especialista em inovação digital e CCO da TRIO- hub de Criação, é da mesma opinião, defendendo ainda que o dinheiro físico não irá acabar mesmo com a criação do Real Digital.

“Não acredito que o dinheiro fiduciário irá acabar, mas que irá se transformar”, defende Mathias, acrescentando que todo o processo de implementação da CBDC brasileira deve ser feita com cautela: “um dinheiro digital facilitará [o processo de] ‘imprimir’ mais moeda, o que pode causar problemas inflacionários gigantes. Tudo deve ser analisado e programado de forma muito sóbria e com bom senso”, finaliza.

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