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Exclusivo: CEO da BlueBenx comenta golpe e promete liquidez a clientes

Companhia de criptomoedas afirma que tomou um golpe em julho que impede o pagamento de clientes

Após deixar de pagar os clientes por ter caído em um suposto golpe, o CEO da BluBenx, Roberto Cardassi, afirmou, em entrevista exclusiva ao BP Money, que a empresa poderá voltar a pagar os clientes apenas em 2023 e que busca investidores para comprar ativos da companhia e, assim, ajudar no pagamento.

“[A negociação] ainda é inicial. Neste momento estamos com a credibilidade bastante arranhada, é mais difícil no primeiro momento, precisamos nos posicionar, nos defender com ações judiciais. Uma coisa é negociar com investidores estrangeiros, mas quando não existe um problema legal. Quando há, suas possibilidades se tornam muito difíceis”, disse. A entrevista também contou com William Batista , vice-presidente de operações da BlueBenx.

Segundo o CEO da BluBenx, todos os produtos da empresa eram vinculados ao novo token, chamado Benx, mas o produto não foi de fato lançado.

“A partir do momento que você tem a custódia dos tokens, havendo liquidez do par, dentro da exchange você faz a transformação. A partir do momento que os hackers tomaram isso, eles trocaram e executaram as ordens de compra”, disse.

“Isso é uma ação incontrolável, você não tem poder nenhum. A posse do token era deles e eles foram em vários pools, e, tendo liquidez, ele consegue trocar o ativo”, concluiu.

Confira partes da entrevista do BP Money com Roberto Cardassi, CEO da BlueBenx:

-Como ocorreu esse ataque hacker?
Primeiro gostaria de dizer que nós continuamos juntos, eu e William [William Batista, vice-presidente de operações], não saímos do Brasil. Continuamos acreditando no projeto e trabalhando mesmo com esse turbilhão, mineração de liquidez, na geração de spread do mercado, que é o que vínhamos fazendo muito bem até esse problema.

Em dezembro de 2021, teríamos o nosso próprio token, o Benx, e já tínhamos feito um pré-lançamento, mas achamos que os desafios tecnológicos para integrar o token seria muito trabalhoso e fomos para a Binance. 

Começamos a tokenizar as operações depois de mais de 90 dias fazendo mineração, vimos um caminho muito viável em termos de lucratividade, operação e até então com um risco menor. 

Eu coloquei, por exemplo, 50 mil moedas e 50 mil reais para um para um para minerar liquidez e fazer swaps. Do outro lado, criamos vários pulls com várias moedas com as que mais negociamos. 

Assim, criamos um modelo de balanceamento desse pool que conservamos nosso preço e, ao mesmo tempo, pegamos as recompensas dos ‘farms’ e convertemos para o nosso pool, controlando o preço.

Mas nunca prometemos rentabilidade. A gente prometia o hold e uma rentabilidade futura pré-determinada. O “saving” no Brasil está passando a ser mais conhecido agora. Nunca foi uma poupança, um CDB, etc. Nós sempre fomos especializados em operar criptomoedas.

Nosso token teve um sucesso no lançamento, fomos direto para o mercado secundário, e começamos a receber muitas ofertas de exchanges. Estávamos conversando com cerca de 15 exchanges.

Fomos olhar a Bitrue, olhamos tudo, como era o mercado dela com tokens pequenos, se davam funcionalidade para as criptomoedas, e gostamos. O investimento parecia condizente e achamos fazendo o mesmo procedimento que fazíamos com outras exchanges.

Mas, assim que fizemos o pagamento de US$ 200 mil em Theter, que equivale a US$ 200 mil, e depois fizemos o envio dos 25 milhões de unidades do Benx, o golpe ocorreu. Isso ocorreu no fim do dia 25 de julho e nós só percebemos que era um golpe após uma ou duas horas depois, quando vimos o nosso token desabar, uma queda de 99% em um espaço de tempo muito pequeno.

Aí fomos atrás e descobrimos que, na verdade, tínhamos cometido um grande erro. Enquanto da negociação, houve um possível erro de processo.

-Qual o erro de processo interno que ocorreu para que a BlueBenx caísse nesse golpe?
Para ser sincero, é uma suposição nossa, que foi algo comentado e acreditamos aqui. Se nós tivéssemos realizado tudo o que precisa ser feito, não estaríamos aqui agora.

Eu não sei dizer para você onde falhamos, mas os caras são profissionais. Eles tiveram que combinar um número muito grande de transações, ao mesmo tempo, para as mesmas carteiras. Não é algo que você faz manualmente. 

Naquele momento, nós não tínhamos nada que apontasse que existisse qualquer problema e listamos em duas exchanges semanas antes seguindo o mesmo procedimento.

-Quantos clientes foram afetados, afinal?
Estamos em um universo de 2.403 pessoas que tinham conta bancária Bluebenx e aplicações nos produtos do nosso principal produto. 

Quantas pessoas tinham aportado? Cerca de 2.400 clientes. Desse universo de 2.400 pessoas, os afetados de imediato foram as que estavam cumprindo o contrato de investimento, fizeram a solicitação de resgate até o dia 25 de julho e deveríamos fazer os pagamentos até o décimo dia útil de agosto. Então são cerca de 600 pessoas que foram afetadas por essa liquidez imediata. 

-E por que isso tirou a liquidez da empresa?
A partir do momento que você tem a custódia dos tokens, havendo liquidez do par, dentro da exchange você faz a transformação. A partir do momento que os hackers tomaram isso, eles trocaram e executaram as ordens de compra. 

Isso é uma ação incontrolável, você não tem poder nenhum. A posse do token era deles e eles foram em vários pools, e, tendo liquidez, ele consegue trocar o ativo.

-Todos os produtos estavam vinculados ao token?
Exatamente. Isso justifica que a BluBenx tinha uma performance acima da média e, mesmo com o mercado em baixa, na maioria das vezes conseguimos nos sobressair. 

E o fato de manter 65% da asset em stablecoins dá para controlar a média de unidade por dólar aqui desse lado. Então isso fez com que, mesmo em um mercado que operava em queda, a gente tivesse rendimento.

Mas quando perdemos o token, não havia como segurar. 

-Por que mudaram de endereço físico? Vão divulgar o novo?
Imagina se a sua casa estivesse pegando fogo e você tivesse alguns segundos para salvar o que é mais importante. Jamais esperávamos que isso ocorresse. 

Quando aconteceu isso, pensamos que precisávamos salvar a operação. O mais importante é o asset dos nossos clientes. Aquilo que precisávamos era essencial para continuar funcionando. Então primeiro foi por conta de custo, segundo tínhamos uma situação que envolvia um golpe, então precisávamos enfrentar falhas internas, baseadas em processos, então naquele momento paramos tudo para entender o que aconteceu de verdade.

Chamamos nossos advogados, nosso board, e dentre essas a primeira foi parar tudo. Se vocês não têm todas as respostas, todos os dados, então era melhor nos proteger para estancar. 

A interpretação do mercado, automaticamente, já rotulou que fosse uma fraude e tentamos proteger a equipe tanto do ponto de vista de alguma especulação, mas do ponto de vista de  integridade física. Nós já pedimos uma retratação na Justiça do proprietário que afirmou que tínhamos atrasado o aluguel, isso nunca ocorreu.

Estamos vendo quais ativos vamos manter, mas a ideia é anunciar um novo escritório em uma ou duas semanas. A nossa ideia é priorizar os clientes, depois vamos reestruturar a nossa estrutura física. 

-Vocês divulgaram que a liquidez irá voltar apenas no ano que vem. Por que?
Já criamos um novo pool e uma nova operação de alavancagem, pegando ativos remanescentes que, apesar de não dar para cumprir todos os saques, dá para voltar a trabalhar. 

Nós estamos trabalhando. Nesse momento, estamos conversando com exchanges para substituir nosso produto porque nossa ideia não é abandonar o projeto. 

Pretendemos continuar e, nesse ínterim, estamos conversando com possíveis interessados da Bluebenx para venda de ativos, softwares, plataformas e mesmo ativos físicos, para transformarmos em dinheiro para aumentarmos a capacidade de pagamento.

-Mas por que só em 2023? É o tempo de conseguir reaver o dinheiro?
Sim. Temos uma performance que mostramos nos últimos quatro anos que mostra que é viável e, sim, voltar os saques para toda a base. A ideia é continuar o pool e ressarcir todo mundo, inclusive aqueles com carência de aplicações, para termos a capacidade de pagamento. 

Existe, lógico, uma ordem de prioridade que será respeitada de acordo com a solicitação do cliente e a ordem de carência. É complicado falar quando podemos ter uma situação de mais algum bloqueio de conta na próxima semana, mas pedimos um prazo de 180 dias com o desejo e a possibilidade de começar a fazer antes. 

A ordem é os clientes que já solicitaram e depois os que estão vencendo carência, com qualquer arbitragem. 

-Vocês confirmam que vocês estavam buscando investidores dispostos a aportar parte da quantia que desapareceu?
Isso ainda é inicial. Neste momento estamos com a credibilidade bastante arranhada, é mais difícil no primeiro momento, precisamos nos posicionar, nos defender com ações judiciais. Uma coisa é negociar com investidores estrangeiros, mas quando não existe um problema legal. Quando há, suas possibilidades se tornam muito difíceis.

Mas, sim, já começamos duas conversas para dois propósitos. Ou que tenha interesse em uma proposta de ressarcimento e a continuidade do negócio, visando uma continuação futura. E, em um segundo momento, seria, por exemplo, nos desfazer de parte dos ativos. 

A única exceção que não está em negociação é o nosso token. 

-Vocês acham que vão conseguir superar isso?
Eu acredito que isso é uma missão. Não há uma fórmula mágica. O tempo irá mostrar a nossa inocência na ação e no fato de que também somos vítimas, e não causadores, e existe sim uma grande parte ainda dos clientes que confiam na gente, nós recebemos muitas mensagens positivas e também conversamos com parceiros que confiam em nós.

Estamos lutando para continuar com esse projeto. Manter o que acordamos com os clientes ainda é nossa prioridade.

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