Tecnologia

Criptomoedas continuam "queridinhas" e analistas veem "falta de educação"

O Brasil se tornou o quinto país do mundo que mais tem investidores de cripto, atrás apenas de Índia, EUA, Rússia e Nigéria

Os criptomoedas ganharam um lugar no coração dos brasileiros, mesmo em meio ao “inverno cripto” que vêm enfrentando, derretendo o valor de mercado desses ativos. O Brasil já acumula cerca de mais de 10 milhões investidores de criptomoedas, segundo a consultoria norte-americana Triple-A. Em termos absolutos, o País é o quinto país do mundo em número de investidores de cripto, atrás apenas de Índia, EUA, Rússia e Nigéria.

Comparada a outras formas de investimentos, o número é gigantesco. Existem cerca de 6,2 milhões de brasileiros que investem em fundos de renda fixa, 2,15 milhões que apostam em fundos de renda variável e 1,75 milhão que investem no mercado de ações.

Além das criptomoedas, o Brasil é o segundo país do mundo que mais investe em NFTs (tokens não fungíveis), segundo pesquisa da Statista, empresa alemã de dados. O levamento aponta que 5 milhões de brasileiros são adeptos aos tokens não fungíveis. A liderança ficou com a Tailândia, com 5,65 milhões de investidores. 

De acordo com um relatório do Centro de Estudos em Finanças (FGVcef) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), os brasileiros também investem mais em criptoativos do que em fundos imobiliários, commodities e moeda estrangeira.

Segundo Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da Nord Research, o amor do brasileiro por criptoativos é resultado de um desconhecimento sobre o mercado de investimento. 

“Os brasileiros, por não terem tanto conhecimento sobre o mercado de investimentos de certa forma, acabaram sendo atraídos por ter um perfil de retorno muito atraente”, afirmou. 

Andrade ainda completa que os jogos play-to-earn (jogar para ganhar) também atiçaram o interesse dos brasileiro. “Jogos de blockchain play-to-earn geraram uma onda que favoreceu muitos usuários no ano passado, onde você jogava e ganhava. Isso atiçou o interesse do brasileiro por cripto”, disse. 

O interesse tem sido tão grande, que, no Brasil, os criptoativos têm a preferência de 14,5% dos investidores, quase três vezes mais do que entre os franceses (3%) e quase nove vezes mais do que entre os ingleses. Os dados são de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

De acordo com Raquel Vieira, especialista de criptomoedas da Top Gain, o brasileiro tem simpatia pelas criptomoedas porque o investimento consegue fugir das mãos do Estado.

“Muitos brasileiro têm um viés de estado fraco. As criptomoedas surgem para tirar o poder do Estado em relação ao nosso dinheiro. A partir do momento que os cidadãos descobrem esse mercado, acaba sendo algo atrativo”, afirmou. 

Curiosamente, na mesma pesquisa da FGV que aponta que cripto tem a preferência de 14,5% dos investidores brasileiros, alguns dados mostram que 76% dos investidores brasileiros operam com foco no curto e médio prazo, enquanto apenas 24% projeta seus rendimentos em um horizonte de tempo mais amplo. 

Segundo Andrade, a falta de educação financeira acaba sendo um dos motivos que colabora para o alto índice de brasileiros que investem visando o curto-prazo. Segundo ele, as altas repentinas das criptomoedas acabam sendo um prato cheio para as pretensões dos brasileiros, mesmo que o mercado seja volátil. 

“O brasileiro é mais curto-prazista, mais imediatista pela falta de educação financeira. Os perfis de retorno de curto prazo do mercado cripto no bull market (período em que os investidores estão otimistas) acabam atraindo o brasileiro, que não olha pro longo prazo e não entende que também existem quedas”, justificou. 

“O brasileiro tem uma visão de investimento focada no curto prazo. Muitos acreditam nessa questão do dinheiro fácil, na mudança de vida. Há uma pressa de aumentar o patrimônio”, explicou Vieira. 

Com os criptoativos ganhando relevância, muitos estreantes no mercado de ações acabam abandonando todos os outros tipos de investimentos para investir somente nas criptomoedas. De acordo com Andrade, o brasileiro, por falta de educação financeira, acaba tendo acaba temendo as outras modalidades de investimentos. 

“Eu acho que a grande questão é a falta de educação financeira no Brasil, que leva o não investidor achar que o mercado acionário é um bicho de sete cabeças. O mercado cripto acaba sendo mais acessível para ele”, afirmou. 

A simpatia dos brasileiros pelas criptomoedas também tem apresentado um componente econômico. De acordo com um estudo da Chainalysis, plataforma de dados de blockchain, os países emergentes e subdesenvolvidos têm tido maior adesão às criptomoedas em comparação às nações mais ricas do mundo ao longo de 2022. Segundo a pesquisa, Vietnã, Índia, Paquistão, Ucrânia, Quênia, Nigéria e Venezuela são os países que mais utilizam moedas digitais. 

Apesar das ressalvas, muitos analistas recomendam a importância de investir em criptoativos. Vieira considera o investimento de “extrema importância”, pois as moedas digitais podem ter diversas utilidades. 

“O bitcoin (BTC), por exemplo, tem um viés ideológico, pois pode fazer mudanças políticas dentro de uma sociedade, também temos algumas criptomoedas que tem um viés tecnológico e também podem facilitar a vida do ser humano”, explicou. 

Andrade foi um pouco mais cauteloso em sua recomandação. “Eu acho importante investir em criptoativos, mas com consciência. Tem que saber o que está sendo feito, tendo uma expectativa de longo prazo e uma experiência de aportes periódicos em todos os investimentos, inclusive cripto. O mercado cripto pode fazer uma boa diferença a longo prazo”, ressaltou.

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