Made in China 2025

China busca desdolarização e ‘Big Fund’ é passo crucial

A estrutura do fundo tem foco na fabricação de semicondutores

Foto: Pexels/China
Foto: Pexels/China

A China está num processo de “desdolarização” como uma tentativa de buscar sua autonomia e reduzir sua dependência da moeda norte-americana em suas transações internacionais.

Considerando esse fato, a agência governamental chinesa divulgou que o país está ampliando seu plano de liderar as tecnologias avançadas. O país anunciou seu fundo de investimento estatal em semicondutores no valor de US$ 47,5 bilhões.

O fundo hoje é o maior investimento do país asiático em semicondutores. Seu principal objetivo é, justamente, tornar a China autossuficiente na produção de chips. Isso, além de reduzir totalmente sua dependência de importação, fortalece sua posição em relação à corrida global.

“Ele [o fundo] foi estabelecido para investir na manufatura, na fabricação dos chips, para aumentar a produção industrial”, explicou, ao BP Money, Bruna Allemann, economista e chefe de investimentos internacionais da Nomos.

Além disso, ela acrescentou que com isso o país poderá “realizar fusões e aquisições, podendo implementar cada vez mais empresas menores, talvez de semitecnologias ou de coisas que envolvem os semicondutores”.

Investir em toda essa estrutura, segundo a especialista, faz parte de um projeto industrial do país, que são os circuitos integrados da China que compõem o “Made in China 2025”.

O “Made in China 2025” é um projeto anunciado pelo país desde 2015, e seu objetivo é movimentar bilhões de dólares para transformar a região em uma potência industrial e tecnológica.

Na perspectiva de Pedro Afonso Gomes, presidente da CORECON-SP (Conselho Regional de Economia da 2ª Região — SP), o movimento do governo chinês foi claramente uma represália às sanções norte-americanas à China.

“O que vai acontecer, muito provavelmente, é que a China, não apenas em seu próprio território, vai instalar indústrias de semicondutores e laboratórios de desenvolvimento, como também em outros países”, comentou Gomes.

EUA quer frear a China, diz chanceler

Os EUA estão em uma corrida “silenciosa” com a China há muito tempo, com o objetivo de ser a maior em tecnologia. No início de março, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, chegou a dizer que, mesmo que os laços entre o país e os EUA tenham melhorado, Washington interpreta mal o país asiático.

“Os Estados Unidos têm concebido várias táticas para conter a China e continuaram a aumentar a sua lista de sanções unilaterais, atingindo um nível desconcertante de absurdo”, disse o ministro, conforme informações do “Valor”.

A declaração do chanceler veio após um encontro entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e o presidente chinês Xi Jinping, na Califórnia, com o intuito de estabilizar as relações.

Contudo, mesmo após a reunião, o ministro das Relações Exteriores da China fez indagações sobre as contínuas sanções referentes à tecnologia por parte de Washington. Um dos tópicos mencionados foi a tentativa de limitar o acesso do país asiático a semicondutores.

“Se monopoliza persistentemente o topo da cadeia de valor e mantém a China no segmento inferior, onde estão a justiça e a concorrência?”, questionou ele. “Se os Estados Unidos estiverem obcecados em boicotar a China, acabarão por prejudicar a si próprios”.

Nesse sentido, Pedro Afonso Gomes, presidente da CORECON-SP (Conselho Regional de Economia da 2ª Região — SP), pontua sobre os investimentos chineses. Segundo ele, no momento, os semicondutores estão sendo fundamentais para a indústria mundial.

Logo, o investimento do país no “Big Fund” é um movimento inteligente para que o setor de chips seja, também, dominado por ele.

Do ‘Big Fund’ ao ‘Made in China’

O “Big Fund”, ou melhor, China Integrated Circuit Industry Investment Fund, é o maior fundo de investimento da China no setor de semicondutor Ele possui um valor cerca de US$ 47,5 bilhões. 

Criado em 2014, o fundo tem como principal objetivo tornar a China autossuficiente na produção de semicondutores. Isso reduz totalmente a dependência de importação e fortalecendo a aposição do país em relação a essa tecnologia. 

Houveram três fases de financiamento da empreitada chinesa, a primeira foi em 2014, no ano de sua criação, com US$ 19,2 bilhões. Já a segunda ocorreu cinco anos depois, com um capital social de US$ 28,2 bilhões. A terceira, por sua vez, veio agora em 2024, somando cerca de US$ 47 bilhões. 

O fundo é criticado pela falta de transparência. Nesse sentido, o ex-chefe do fundo foi retirado do cargo por ser investigado sob suspeita de corrupção. 

Bruna Allemann, economista e chefe de investimentos internacionais da Nomos, explicou que o fundo está dentro do plano “Made in China 2025”, lançado em 2015.

O plano tem o foco em ampliar os investimentos chineses em tecnologia e produtos do setor, movimento milhares de dólares. O movimento foi recebido com receio por autoridades dos EUA. 

Em 2018, o então secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, declarou que a ideia do governo chinês era “aterradora”. “Eles têm sido a fábrica do mundo e agora querem ser o centro tecnológico do mundo”, disse, de acordo com o “BBC”.

Além disso, o governo Biden chegou a tomar medidas sem precedentes. Segundo “O Globo”, a justificativa foi que o movimento era para preservar a segurança nacional. 

Foram realizadas diversas medidas por parte dos EUA para desacelerar o progresso tecnológico da China. Nos últimos dois anos, os EUA cortaram a capacidade do país asiático de comprar chips avançados da NVidia (NVDC34). Os semicondutores são usados para treinar modelos de Inteligência Artificial