Mudança de olhares

Clientes ricos do Citi migram dos EUA para o Reino Unido

Movimento ocorre mesmo com o aumento de impostos para residentes abastados britânicos

Citi
Citi Bank / Foto: Divulgação

Alguns dos clientes com alto patrimônio do Citi perderam o interesse pelos EUA, e voltaram seus olhares para o Reino Unido, apesar do aumento de impostos para residentes abastados britânicos, de acordo com um dos principais executivos do banco.

“É um movimento de mão dupla em termos de clientes que entram e saem do Reino Unido”, disse Andy Sieg, diretor global de gestão de patrimônio do Citi, em entrevista à Bloomberg TV em Londres, nesta quinta-feira (3). Enquanto alguns saem do Reino Unido, outros olham para os EUA e para as mudanças no país, e pensam que “talvez o Reino Unido seja o lugar onde os filhos queiram ir para a faculdade e passar mais tempo”.

Os comentários sinalizam as crescentes consequências da política do “America First” do presidente dos EUA, Donald Trump, à medida que o governo entra em conflito com as universidades de elite do país e mira estudantes estrangeiros. Isso tem levado a um recente aumento nas inscrições para universidades britânicas que oferecem prestígio semelhante.

Uma onda de migração de indivíduos ricos para o Reino Unido em vez dos EUA também atenuaria o impacto da saída de residentes muito ricos da Grã-Bretanha. O governo trabalhista de Keir Starmer introduziu uma série de impostos mais altos este ano para estrangeiros endinheirados, bem como para nativos ricos.

Outras medidas alertam para o contrário

Uma das medidas mais controversas foi a eliminação de um regime fiscal preferencial para residentes não domiciliados, chamados de “non-doms”. O Partido Trabalhista foi além das medidas delineadas no ano passado pelo então governante Partido Conservador, ao expor os ativos de estrangeiros ricos no exterior ao imposto sobre herança do Reino Unido.

O governo britânico aposta que as mudanças no regime, que permitiram que investidores e empreendedores internacionais evitassem tributos sobre rendimentos de fora do Reino Unido, vão gerar cerca de US$45 bilhões em impostos extras nos próximos anos.

No entanto, vários think tanks contestam esses números, e alertam sobre a ameaça aos empregos e ao crescimento econômico, enquanto bilionários como Guillaume Pousaz, fundador do Checkout.com, e Nassef Sawiris, o homem mais rico do Egito, já deixaram o Reino Unido recentemente. 

O J.P. Morgan, rival do Citi, nesta quinta-feira anunciou um novo líder para seu braço de private banking, para atender clientes que sejam usar os serviços do banco em diferentes continentes. David Frame foi escolhido para liderar o negócio globalmente.

O private banking do J.P. Morgan administra mais de US$ 2,9 trilhões em ativos e atende aos clientes mais ricos do banco. 

“Ele se concentra em aprimorar ainda mais nossos negócios, plataforma e serviços de private banking nos EUA e no exterior, à medida que nossos clientes expandem seu alcance entre continentes e gerações”, disse Mary Callahan Erdoes, líder do setor de gestão de ativos e patrimônio do J.P. Morgan globalmente, em um comunicado sobre a mudança.

Meta futura

Sieg, executivo de longa data do Bank of America, ingressou no Citi em 2023 para ajudar a liderar a reorganização do negócio de gestão de patrimônio da empresa sediada em Nova York. A CEO Jane Fraser iniciou um esforço de reestruturação mais amplo nos últimos anos de um dos maiores bancos dos EUA.

Desde então, os retornos e a receita aumentaram na unidade, com foco no aumento dos volumes de investimento dos clientes, que incluem cerca de um quarto dos bilionários do mundo. O private banking registrou recentemente uma receita de US$2,1 bilhões no primeiro trimestre, um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Sieg citou o Reino Unido como uma região onde a unidade cresce fortemente. 

“Ainda não atingimos nossa meta de ser o número um em gestão de patrimônio no mundo. Mas temos um dos negócios que mais crescem”, acrescentou ele.