Maior reserva mundial de petróleo

Venezuela: respingos da crise eleitoral ameaçam Petrobras (PETR4)

País tem a maior reserva de petróleo do mundo, mas contestação das eleições pode gerar sanções que prejudiquem, inclusive, a Petrobras

Foto: Pexels / Venezuela
Foto: Pexels / Venezuela

A Venezuela, mesmo tendo a maior reserva da commodity mais cobiçada do mundo, o petróleo, sente os efeitos da crise política no país sobre os negócios do setor. A situação recente com as eleições, afasta ainda mais os investimentos e pode respingar na Petrobras (PETR4) e na economia brasileira.

Após as eleições venezuelanas, ocorridas no domingo (28), o presidente Nicolás Maduro reivindicou a vitória, com o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) afirmando que o candidato teve 51% dos votos. No entanto, a oposição contesta o resultado e diversos países ainda não o reconheceram.

A instabilidade política que ronda a Venezuela, e que pressiona o Brasil, por consequência, devido à proximidade entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Maduro, precisa ser observada pela Petrobras, pois pode levantar desafios e oportunidades no mesmo grau.

“A crise proporciona uma chance de expandir sua presença em um mercado com vastas reservas de petróleo, que podem ser estratégicas para o portfólio da empresa, especialmente em um cenário de diversificação de operações​”, disse André Colares, CEO da Smart House Investments, ao BP Money

Da proximidade com o governo Lula podem surgir acordos bilaterais no setor de energia, pois o poder executivo federal se mostra favorável aos diálogos com a nação vizinha, explicou o CEO.

“A dependência do Brasil em relação às importações de petróleo da Venezuela é limitada, mas a estabilidade na região pode afetar os preços internacionais do petróleo, impactando os custos de importação e a economia brasileira como um todo”, observou.

Considerando a economia brasileira de forma geral, o posicionamento do Brasil na questão também pode resultar em obstáculos para os negócios do país com a Europa e os EUA. 

Em seu primeiro pronunciamento sobre a situação, Lula cobrou a divulgação das atas de apuração das eleições na Venezuela, contudo, segundo ele, “normal e tranquilo”.

“Tem uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, declarou o presidente brasileiro.

Para Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais da Uniarnaldo, de Belo Horizonte, os principais sancionadores do país vizinho, os EUA e a UE (União Europeia), podem, de alguma forma, considerar que empresas, indivíduos e até países que mantêm negócios com a Venezuela também precisam ser alvo de sanções. 

“Uma outra situação diz respeito ao bloqueio de eventuais contas e, portanto, qualquer um que tenha título da dívida venezuelana ou então tenha créditos a receber de exportações passadas, pode ser que não consiga, já que as verbas daquele país estariam bloqueadas ou, pelo menos, o acesso ao sistema de pagamentos internacionais esteja bloqueado”, disse ele.

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Lula conversou com o presidente norte-americano Joe Biden, por telefone, nesta terça-feira (30) e reiterou a posição do Brasil de precisar ter acesso às atas para reconhecer as eleições na Venezuela.

Setor de petróleo na Venezuela pode sofrer com sanções e aversão ao risco

Mesmo com a maior reserva de petróleo do planeta, o setor segue em crise severa na Venezuela, por conta da estrutura frágil, da corrupção das sanções internacionais. Atualmente, o país produz cerca de 700 mil barris de óleo por dia.

Nesse ritmo, a capacidade de produção e exportação da commodity está abaixo do potencial histórico, de acordo com André Colares.

“O Brasil, através da Petrobras, tem explorado oportunidades na Venezuela, principalmente devido à disposição do governo de Nicolás Maduro de colaborar com empresas estrangeiras para revitalizar a indústria petrolífera”, contextualizou Colares.

“Este movimento ocorre em um contexto onde os EUA têm suavizado algumas sanções em troca de promessas de reformas democráticas por parte do governo venezuelano​”, continuou.

No entanto, os EUA já consideram fazer novas sanções à Venezuela, devido à contestação do resultado das eleições. O país norte-americano, assim como diversos outros da América-Latina, cobram por transparência na apuração de votos. 

Maria Corina Machado, líder da oposição, afirmou que as sondagens da frente política indicavam que o candidato Edmundo González, era quem, na verdade, estava a caminho de vencer as eleições, com 44% dos votos.

“Um processo eleitoral conturbado, com muitas manifestações de rua logo depois, que dure por semanas e semanas, contestações jurídicas, repressões, depredações, tudo isso atrapalha a atividade econômica, põe em pausa eventuais investimentos”, reiterou Feijó.

Caso o processo das eleições fosse legitimado como transparente, mesmo com Maduro reeleito, a expectativa era de que a UE suspendesse mais sanções, segundo o professor.

Isso permitiria a “retomada da atividade econômica principal do país no setor dos hidrocarbonetos, petróleo, gás e derivados, tanto a extração quanto o refino, que depende de investimento de médio e longo prazo diante de um parque industrial, que está incapacitado porque não conseguiu comprar peças de reposição”, continuou.