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123 Milhas: irregularidade no balanço rendeu R$ 44,4 mi a sócios

Irregularidades envolvem o reconhecimento indevido dos gastos com marketing e publicidade

Mesmo com o negócio no vermelho, acionistas do grupo 123 Milhas receberam uma quantia equivalente a R$ 44,4 milhões, originados de irregularidades em balanços financeiros entre 2020 e 2023. A afirmação consta no relatório técnico feito pela KPMG e pela advogada Juliana Morais apresentada à Justiça na noite de quinta-feira (9).

Segundo relatório da KPMG, apenas na 123 milhas, entre os anos de 2020 e 2022, foi distribuído o total de R$ 29,8 milhões em dividendos, tendo como beneficiários finais Cristiane Soares Madureira, Augusto Julio Soares Madureira, Ramiro Julio Soares Madureira e Tânia Silva Santos Madureira. Já na Art Viagens foi distribuído nos anos de 2022 e 2023 um total de R$ 14,5 milhões em dividendos. As informações foram publicadas pelo jornal “Valor”.

As irregularidades envolvem o reconhecimento indevido dos gastos com marketing e publicidade da companhia na linha de ativo da empresa em vez de despesa. Desta forma, o resultado líquido final do grupo era positivo, o que ocasionava em uma distribuição de dividendos.

“Caso a regra contábil tivesse sido devidamente observada e os gastos com marketing/publicidade tivessem sido reconhecidos como despesas, não haveria resultado positivo em nenhum dos exercícios analisados, o que impediria a distribuição de dividendos realizada”, apontou o documento.

Gasto com marketing

Segundo a análise, na 123 Milhas, os gastos com marketing e publicidade superaram a receita bruta em 147,1% em 2021 e em 393% em 2022. Já na Art Viagens (Hot Milhas), os gastos com publicidade e marketing representaram 85,7% da receita operacional em 2021 e 89,8% em 2022.

A constatação prévia foi um documento exigido pela justiça para validar o pedido de recuperação judicial das empresas do grupo 123milhas. As empresas haviam solicitado a proteção contra os credores, mas o Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu a recuperação em setembro até que o resultado da constatação prévia fosse apresentado. A Justiça deu prazo de 10 dias às empresas para se manifestar. Procurada, a 123milhas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

No documento, os representantes selecionados para realizar a constatação sinalizam que o grupo 123milhas permanece em atividade e que atende aos critérios técnicos para ter deferido seu pedido de recuperação judicial.