Tecnologia

A novela do ‘maior valuation do mundo’ estrelada pelas big techs

Apple, Nvidia e Microsoft vivem uma disputa intensa pelo título; entenda as reviravoltas e expectativas para esse enredo das big techs

Foto: CanvaPro
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Um bom enredo de novela e seriados é repleto de reviravoltas que desbancam o poder de mão em mão entre os protagonistas. O que não é muito diferente do que acontece com as big techs em sua corrida pelo maior valuation do mundo. 

A rainha suprema (Microsoft), que mantinha o controle do poder – nesse caso o maior valor de mercado global – percebeu a ameaça (Apple) sempre se aproximando de sua posição com o passar do tempo. No entanto, nenhuma delas contava que uma novata (Nvidia) surgiria das sombras com todas as armas em pulso para derrotar ambas. 

E foi o que aconteceu, no final do mês de outubro, no dia 25, a Nvidia destronou a Apple – que até então havia desbancado a Microsoft – da cobiçada posição ao atingir US$ 3,53 trilhões em valor de mercado. 

A arma empunhada nesse ataque – não tão repentino assim – foi a forte demanda pelos chips utilizados para aplicação em IA (Inteligência Artificial), que são fabricados pela big tech. Porém, a força da Apple não se extinguiu por inteiro, o que a fez lutar o suficiente para recuperar a posição logo depois.

Agora, no dia 02 de novembro, as big techs seguem quase coladas em valor de mercado, mas a Apple ainda vence a disputa com US$ 3,39 trilhões contra os US$ 3,32 trilhões da Nvidia. Enquanto isso, a Microsoft parece ter ficado para trás, com seus US$ 3,05 trilhões, ou arquiteta um novo plano para recuperar sua coroa.

Para o economista Bruno Corano, da Corano Capital, por mais inovadora que a Apple seja, essencialmente ela é uma empresa que começou vendendo computador e que, de uma certa forma, tem um portfólio limitado.

“Então é natural que outras empresas nesse momento ultrapassem ela já que tecnologia é um mercado muito dinâmico. Dentre essas grandes empresas, a Apple é a que está mais atrasada em termos de investimentos inteligência artificial”, afirmou o economista.

Entenda um pouco mais o cenário vivido pelas big techs:

  • A Inteligência artificial chegou para tornar o roteiro da corrida entre as big techs mais interessante. Isto porque, no início deste ano, os novos produtos da Microsoft com base nessa tecnologia a levaram a tomar título de maior valuation do mundo da Apple;
  • Posteriormente, as cadeiras voltaram a dançar, pois a fabricante do iPhone retomou seu título, mas ainda sob uma nuvem densa que foi tirando aos poucos o entusiasmo dos investidores: o investimento da empresa em IA;
  • Em setembro, quando anunciou o lançamento do iPhone 16, a companhia aproveitou para destacar ao mercado que segue como uma das maiores desenvolvedoras de IA generativa no mundo com a Apple Intelligence, seu conjunto de ferramentas em IA;
  • O sistema será lançado junto com o IOS 18.1 com novas funcionalidades para os dispositivos da marca, mas a chegada só está prevista no Brasil para 2025;
  • A Nvidia também viveu uma série de reviravoltas desde setembro, quando reportou seu balanço trimestral, que indicava uma previsão trimestral – para o 3º trimestre do ano – menor do que o esperado pelos investidores, o que causou uma perda expressiva em seu valor de mercado;
  • No entanto, poucos dias depois, quando o CEO da empresa, Jensen Huang, apontou ter uma perspectiva otimista para a IA generativa, com o trabalho da Nvidia servindo de auxílio para os desenvolvedores da tecnologia, as ações voltaram a subir junto com o valuation;

Balanço trimestral 

Os resultados dos balanços trimestrais da maioria das big techs já foram reportados e mostraram lucros maiores que o esperado pelo mercado. Foi o caso da Microsoft, da Alphabet – controladora do Google – e também da Apple, Meta e Amazon. Os números podem ser um fator decisivo para a continuidade da disputa entre as big techs.

A empresa de Bill Gates registrou uma alta anual de 11% no lucro líquido, a US$ 24,7 bilhões; a Alphabet lucrou US$ 26,3 bilhões, um crescimento anual de 33,6%; já a Meta viu seu lucro avançar 35,5% em um ano, chegando a US$ 15,69 bilhões. 

Enquanto isso, o balanço da Apple foi na contramão de todas as demais big techs – desconsiderando a Nvidia, que reportará seus números no dia 20 de novembro. A fabricando do iPhone sofreu uma queda de 35,8% em seu lucro líquido do quarto trimestre fiscal, na comparação anual, com US$ 14,74 bilhões. 

Na avaliação de Sérgio Rodrigues Amorim, Especialista em I.A e modelagem comportamental, CEO da Dominaitor, Microsoft, Meta e Google são os grandes nomes da tecnologia hoje.

A Microsoft, segundo Amorim, está no topo quando o assunto é nuvem, por causa do Azure, e também tem investido na adição de IA aos seus produtos com o Copilot 365, o que coloca a companhia “à frente na revolução digital”. 

“E não podemos esquecer da parceria com a OpenAI (criadora do ChatGPT), que dá à Microsoft um espaço de destaque em IA generativa, especialmente em modelos de linguagem”, disse Amorim em resposta ao BP Money.

O especialista reforçou que a situação da Apple se complica pelos obstáculos enfrentados na China. As vendas da fabricante no país asiático estão em rota de queda, ao passo que a empresa lida com a concorrência mais forte por parte dos desenvolvedores de dispositivos locais, como  Huawei, Xiaomi e Vivo.

“Além disso, o mercado quer ver como a Apple vai se posicionar na revolução da IA. Se a Apple não for além de apenas integrar a IA ao seu ecossistema e não mostrar liderança nesse campo, ela pode ficar atrás das outras big techs”, afirmou.

Para Bruno Corano, essa questão de vendas na China indica que a companhia não vai, pelo menos nesse momento, seguir crescendo da forma como os números expressavam nos últimos anos.

Amorim explicou também que o roteiro dos investimentos em IA vive o mesmo ciclo que outras tecnologias antes dela, com um hype gigantesco e crescimento rápido no começou, mas retrai e gera um ceticismo em algum momento. 

“É um erro tentar surfar essa onda sem uma base sólida: se não houver uma criação de hábito ou uma verdadeira disrupção, a tecnologia não consegue sustentar esse crescimento exponencial. Nesse momento, apenas as empresas que se posicionaram como criadoras de hábito ou como forças disruptivas conseguem passar para a próxima fase — e assumir a liderança”, finalizou o especialista.